As Guerras do Fado, livro de Alberto Franco, com a chancela da Guerra e Paz Editores, tem o apoio da Sociedade Portuguesa de Autores, e chega às livrarias no próximo dia 6 de Março.
O fado é hoje visto por muitos como a «canção nacional», mas nem sempre assim foi: «Os ataques ao fado começaram pouco depois do seu aparecimento. Alguns intelectuais oitocentistas associavam‑no ao crime. Achavam-no mórbido, lutuoso, indigno duma nação civilizada.»
Muito antes de se ter tornado Património Cultural Imaterial da Humanidade, o fado recolhia ódios e descrenças de todas as áreas da sociedade em Portugal. Até mesmo na medicina. Sabia que o médico Samuel Maia acusou-o, inclusive, de fazer mal ao fígado?
Nem Eça de Queiroz escondeu a sua rejeição à canção popular. Numa crónica publicada em 1867, o vulto da literatura portuguesa considerava que o fado, «uma canção nascida numa cidade como Lisboa, sorna e alérgica à reflexão, tinha de ser inferior ao que existia nas grandes cidades do mundo». Para Eça, o fado não passava de uma comédia encenada «no hospital e na enxovia». O escritor inspirou-se nessa imagem depreciativa para criar a personagem Artur Couceiro de O Crime do Padre Amaro.
Sinopse
Visto como um instrumento de controlo cultural da ditadura, o fado integrou o mito dos três efes: Fátima, futebol e fado. Porém, a verdade é que Salazar não gostava de fado. E o compositor Fernando Lopes-Graça, militante comunista, era da mesma opinião: o fado era uma «canção bastarda». Hoje é um género respeitado e aplaudido, reconhecido como Património Cultural Imaterial da Humanidade, mas muitos foram os ataques de que o fado foi alvo desde que surgiu. Eça de Queiroz considerou-o uma «comédia». O pedagogo António Arroio propôs a troca do fado pelo canto coral, e o médico Samuel Maia acusou-o de fazer mal ao fígado… Muita gente se indignou ao ouvir Amália cantar Camões, e, no pós-25 de Abril, o fado foi confundido com a ditadura que acabara de ser derrubada. Numa obra fundamental para a história do fado, Alberto Franco dá a conhecer os dias menos felizes da expressão fadista, desde o século XIX à actualidade, os seus adversários e os seus defensores.
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