Recuperando o espírito com que foi escrito — ser leitura e divertimento —, a Cavalo de Ferro repropõe, com nova tradução (a cargo de Miguel Romeira) fiel ao texto e ilustrações originais, um dos grandes romances de Virginia Woolf: Orlando. Disponível a partir de 30 de Setembro nas livrarias. Referir que a 3 de Outubro estreia nos cinemas o filme Vita & Virginia, baseado neste livro sobre a sua vida e a da sua amiga íntima e amante, Vita Sackville-West.
Texto sinóptico
«Mal Orlando abriu a janela, o seu rosto ficou iluminado apenas pelo próprio Sol, e decerto teria sido impossível encontrar outro que fosse tão sincero — ou tão melancólico. Feliz a mãe que gera um filho assim e mais feliz ainda a biógrafa que lhe narra a vida! Porque jamais terá de se preocupar e ir pedir ajuda a um poeta ou a um romancista. A um tal biografado, basta ir de façanha em façanha, de triunfo em triunfo, de cargo em cargo, e o escriba apenas tem de o seguir, e ambos alcançarão as alturas que desejam!»
«Escrevi este livro com mais rapidez do que qualquer outro, e é uma grande piada; acho, apesar disso, que é uma leitura alegre e fácil: umas férias de ser escritora.»
São estas as palavras que se podem encontrar numa das entradas dos diários de Virginia Woolf, datada de 18 de Março de 1928, e com as quais a autora se refere ao seu então recém-terminado Orlando: um livro escrito de um só fôlego — no breve espaço de cinco meses —, que se quis leve, divertido, absolutamente satírico e, acima de tudo, livre. Obra virada para a modernidade, para o futuro, Orlando é um dos raros momentos em que a literatura, rompendo barreiras e o pudor de uma época, alcança a intemporalidade, para nunca mais se sentir datada ou ultrapassada na sua coragem, beleza e estilo.
Incipit: «Ele — que era um «ele», não havia dúvida, por mais que a moda da altura fizesse por disfarçá‑lo — ia treinando estocadas numa cabeça de mouro pendurada do tecto. A cabeça era da cor de uma bola de futebol já velha e tinha mais ou menos o formato de uma, tirando as faces chupadas e um par de fiapos de cabelo seco e áspero, parecido com as fibras dos cocos. O pai de Orlando, ou talvez tivesse sido o avô, cortara‑a dos ombros de um imponente infiel que lhe aparecera subitamente pela frente ao luar nos campos bárbaros de África; agora, estava ali, sempre a baloiçar suavemente na corrente de ar que varria sem descanso o sótão da enorme mansão do lorde que decapitara o seu dono.»
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