quinta-feira, 19 de setembro de 2013

«Primeiro Amor, Últimos Ritos», de Ian McEwan


Editora: Gradiva
Ano de Publicação (3ª edição): 2005
Nº de Páginas: 168
«Em Melton Mowbray, em 1875, num leilão de ‘curiosidades e objectos de valor’, o meu bisavô, em companhia do seu amigo M., arrematou o pénis do capitão Nicholls, que morrera na prisão de Horsemonger em 1873.» Este é o incipit de ‘Geometria no espaço’, o primeiro dos oito contos vindos na primeira obra que  Ian McEwan escreveu. A estranheza e a comicidade com que vamos ficando ao ler este conto, sobre um marido que faz uso da geometria para fazer a sua mulher desaparecer, ao mesmo tempo que colige quarenta e cinco diários que o seu bisavô o legou, acompanha e alonga-se até ao último conto de Primeiro Amor, Últimos Ritos, intitulado ‘Máscaras’. Fazendo a ponte de ligação encontramos outras seis histórias muito sui generis, como a nº 3, que é narrada por um miúdo órfão que vive com o irmão mais velho, que faz da sua casa uma comuna e lugar de ópio, onde acontecem dos mais insólitos casos. ´Cocker no teatro’ é a história que ocupa apenas sete páginas do livro e, muito resumidamente, nela o autor conta como no ensaio de uma peça de teatro um par do elenco é expulso por levar o ‘enredo’ demasiado a sério. O sexto e sétimos contos são os menos sombrios e mais constrangedores dos que estão coligidos neste livro. O primeiro dá conta de um homem que foi superprotegido pela mãe, «só comecei a falar como deve ser aos dezoito anos», que «viviam um para o outro», até à época em que a mãe arranja um namorado. O ciúme e insegurança começam a perturbar o jovem-adulto, que deseja voltar a ser bebé, para voltar a ter protecção materna. É internado, é preso. Aquando da altura em que narra ele a sua história, vive no roupeiro de um sótão, em liberdade. O segundo (o sétimo conto), que dá título ao livro, é do mais hilariante. Envolve um casal que costuma faz amor no colchão, que está sempre posicionado em cima da mesa de carvalho, em frente da janela da sala, que devido à presença de uma ratazana, do barulho que esta faz durante um Verão inteiro, faz desvanecer o relacionamento dos dois.
Perversas, esquisitas, sinistras, perturbadoras, sem nexo. Pode-se caracterizar assim estas histórias, que embora díspares em temáticas têm em comum personagens jovens e complexas. Estes personagens são indivíduos mentalmente perturbados, que vivem retirados do trato social e que fazem do sexo uma obsessão. O macabro, o bizarro, a loucura, a devassidão lasciva e sexual e a ironia são rigorosamente explorados pelo autor de Mel (2012). Todavia, Primeiro Amor, Últimos Ritos, é uma obra que é desaconselhada ao leitor que queira iniciar-se a ler McEwan.

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