Editora: Europa-América
Ano de Publicação: 2004N.º de Páginas: 84 |
Rússia da década de 1880. Ivan Ilitch é um juiz conceituado que chegara ao patamar cimeiro da hierarquia jurídica. A índole deste homem está em concordância com o esperado pela alta sociedade do seu tempo: «inteligente, activo, agradável e correcto». Tivera uma infância feliz, estudara Direito com dedicação, e os seus colegas o denominavam um ser sociável e alegre. Depois que casara e tivera filhos, contudo, o seu ânimo desfalece poucos aos poucos. No plano profissional era um homem ambicioso, todavia competente. Na esfera pessoal com o desenrolar dos anos perdera a proximidade com os seus familiares; mesmo sendo uma figura prezada pela elite social os seus consanguíneos «não só evitavam encontrá-lo como nem se lembravam da sua existência». Ivan Ilitch era um esposo e pai respeitado, um juiz eficiente e um cidadão com um status quo invejável. Visto de fora era um exemplo a seguir e a idolatrar. Mas seria ele uma boa pessoa? Ao longo da sua vida Ivan deixara-se levar de acordo com os padrões de uma sociedade sustentada pelas aparências. Ivan Ilicht teve que ficar doente para perceber que toda a sua vida fora desperdiçada. Será perante a doença que ele percebe que foram poucos os momentos de sua vida que tiveram significado. Será ao mesmo tempo que sente dores no corpo que lhe pesa a dor mais profunda: a que lhe corrói a alma («os sofrimentos físicos de Ivan Ilitch eram terríveis (…) mas os seus sofrimentos morais eram ainda mais», e eram estes que sobretudo o torturavam). A sua enfermidade poderia ser um pretexto para que a sua mulher, Prascovia Fiodorovna, e o seu amigo de infância, Ivanovitch, lhe dessem força e ânimo para que ele se desenvencilhasse da doença. Mas não: a solidão atormenta-o. «A raiva sufocava-o. Esmagava-o um peso imenso.» A solidão que este homem de 45 anos sentia era desesperante; só pensava na «crueldade dos homens».Esta obra escrita por Tolstoi em 1886, narra os últimos meses de vida do personagem descrito no título do livro. Curiosamente e inteligentemente, logo no primeiro capítulo de A Morte de Ivan Ilitch o escritor russo informa ao leitor sobre os primeiros momentos após a morte do protagonista, para nas páginas seguintes contar o percurso de Ivan Ilitch até esse ‘destino’, que é o de todos nós. Um texto ímpar, condensado em 84 páginas, escrito por um dos maiores nomes da literatura universal, que deixa o leitor a reflectir sobre o que fazemos e levamos desta vida.
1 comentário:
Esta pequena obra de Tolstoi é excecional!
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