quarta-feira, 16 de novembro de 2016

«O Dicionário do Diabo» e «O Homem que Falou», as novidades deste mês da Sistema Solar

O Dicionário do Diabo
Texto sinóptico
Cemitério, s.m. […] onde os enlutados parentes unanimemente mentem, […]

Cínico, s.m. Escroque que por uma visão deficiente vê as coisas tal como são e não como deveriam ser. Por esse motivo os Citas tinham por hábito arrancar os olhos aos cínicos a fim de lhes melhorar a visão.

Conservador, adj. É o que se diz do estadista cioso de manter os males existentes, por oposição ao liberal, que deseja substituí-los por outros.

Egoísta, s.m. Pessoa de mau gosto, mais interessada em si mesma do que em mim.

Mansidão, s.f. Incomum paciência na planificação de uma vingança.

Religião, s.f. Filha da esperança e do medo que vive explicando à ignorância a natureza do incognoscível.
O autor
Ambrose Bierce nasceu no Ohio no Condado de Meigs no dia 24 de Junho de 1842 e pensa-se que terá falecido a 26 de Dezembro de 1913 ou 1914, provavelmente no México. Depois de uma incursão em território mexicano, desapareceu sem deixar rasto. Dizem que foi fuzilado pelo exército revolucionário de Pancho Villa, mas nem isso é absolutamente seguro. Em língua portuguesa destaca-se a obra Um Incidente na Ponte de Owl Creek e além desta, um livro de Contos e ainda Esopo Emendado & Outras Fábulas Fantásticas, Fábulas Fantásticas e, finalmente, Histórias de Fantasmas. O Dicionário do Diabo (1911) é a sua obra mais conhecida.


O Homem que Falou
Texto sinóptico
Durante anos a imaginação de Giono alimentou-se de uma Provença inventada. Tenho direito a uma Provença inventada, contrapunha ele às objecções que alguns lhe faziam esforçando-se por lhe colar, bem colado, o rótulo de mentiroso. Inventei uma terra («como Faulkner», acrescentava às vezes), povoei-a com personagens inventadas de dramas inventados. […] Tudo é inventado. Tudo pertence à terra que tenho à frente dos olhos, mas depois de ela passar através de mim. […] Esta magnífica Provença imaginada é a que sentimos nas páginas de O Homem que Falou; mas também a decisão de dar à forma a oportunidade de um grande triunfo sobre a intriga. Giono inventa para este livro a mais simples e linear das suas histórias, aquela que não excede muito em ambições a de um «romance de gare»; força-se por vezes a um singelo sentimentalismo, e não hesita perante um desfecho que pode inscrever-se na banal fórmula do «felizes para sempre». […] Luiz Pacheco, porém, que tinha por este romance uma particular admiração, costumava citá-lo como resultado de uma surpreendente «aposta ganha», como uma decisão de provar o que podem a força da palavra e a sua conversão em estilo quando há quem saiba deixá-las magnificamente «postas em obra»; como é possível através delas levar uma intriga que percorre banais circuitos a fazer-se marco na obra de um escritor e permanecer com lugar alto nos favores do público e da crítica. Na época em que foi publicado O Homem que Falou houve surpresas e entusiasmos; mas só destacamos aqui a singular observação que ficou numa frase de André Maurois: «Este belo no que é simples […] procurado em George Sand e encontrado em Homero.» [Aníbal Fernandes]

O autor
Jean Giono [Manosque, 1895-Manosque, 1970], escritor e argumentista francês, nasce de uma família modesta de origem piemontesa. Aos 16 anos abandona os estudos e trabalha num banco para ajudar a família, até ao início da Primeira Guerra Mundial, na qual prestou serviço militar. Em 1919 voltou para o banco, de onde saiu em 1930 para se dedicar inteiramente à actividade literária após o êxito do seu primeiro romance La Colline, de 1929, o mesmo ano em que publicou Un de Baumugnes (O Homem que Falou). Em 1953 é galardoado com o Prémio Literário Prince-Pierre-de-Monaco e mais tarde tornou-se membro da Academia Goncourt (1954). Entre as suas obras mais conhecidas estão os romances da trilogia Pan, dedicadas ao deus grego Pan e ao panteísmo: La Colline, Un de Baumugnes e Regain. São também muito conhecidas as suas obras Voyage en Italie e L’homme qui plantait des arbres. Vários livros seus foram adaptados ao cinema.

Sem comentários: