de Fabio Caprio Leite de Castro
A coleção Fenomenologia e Cultura responde a duas lacunas no âmbito da publicação de obras em língua portuguesa da área do pensamento fenomenológico: ensaios inéditos sobre os desafios societais e culturais do nosso tempo a partir de abordagens fenomenológicas originais por autoras e autores luso-brasileiros; e a criação de um espaço de publicação simultânea de ensaios em ambos os países, com distribuição comercial.
Suprir estas duas lacunas representa um contributo significativo para a demonstração prática da atualidade e relevância intelectual da fenomenologia além dos limites confinados do público de especialistas e para a estabilização de uma ponte perene de partilha de resultados de investigação e obras entre as duas geografias.
Em suma, uma comunidade fenomenológica com duas geografias, em vez de duas comunidades fenomenológicas com a mesma língua; alargar-se uma comunidade de leitores de fenomenologia no universo intelectual luso-brasileiro; trazer um estímulo a que reconhecidos fenomenólogos brasileiros e portugueses tragam a público ensaios capazes de, sem perda de rigor, chegar a audiências mais vastas; finalmente, convocar a fenomenologia, seu patrimônio de pensamento, variedade de abordagens metodológicas e sua cultura, para o enfrentamento dos problemas e desafios do tempo que vivemos.
Fabio Caprio Leite de Castro quer resgatar a questão dos sintomas da apreensão estritamente cientificista, que obscurece diversos trabalhos da psicologia contemporânea. Se Eric Kandel, Nobel de Medicina, defende, com justeza, que só há um futuro promissor tanto para a psicologia quanto para a neurociência se ambas dialogarem, Fenomenologia da Depressão relembra a urgência de se observar o caráter estrutural da reflexão filosófica neste processo, não enquanto clínica, o que seria uma apropriação de função indevida, mas na qualidade de uma descrição rigorosa da vivência, das relações constituídas, do solo sobre o qual ocorre a experiência humana.
Se quiséssemos, ao fim do livro, retomar sua força vital e em sintonia com o pensamento ali exposto, poderíamos subscrever as palavras de Émile Zola em J’Accuse: «Meu dever é falar, eu não quero ser cúmplice. Minhas noites seriam assombradas pelo espectro do inocente que ali expia, na mais terrível das torturas, um crime que ele não cometeu».[Marcelo S. Norberto]
O autor
Doutor em Filosofia pela Universidade de Liège (Bélgica), Mestre em Filosofia pela PUCRS, Graduação em Direito e em Filosofia pela PUCRS, membro da Société Belge de Philosophie, da Unité de Recherches Phénoménologies e do Groupe d'Études Sartriennes (GES-Paris). Professor do Programa de Pós-graduação em Filosofia da PUCRS. Professor visitante da Universidad Pontificia Bolivariana - Colômbia.
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