sábado, 20 de dezembro de 2025

«A Hora do Coração», de Irvin D. Yalom e Benjamim B. Yalom

Editor: Desassossego
Data de publicação: 13-11-2025
N.º de páginas: 240

Poucos meses após a morte da mulher, Irvin D. Yalom, um dos mais conceituados psiquiatras do mundo, então com quase noventa anos, decide continuar a sua prática clínica de sessenta anos, mas com a condição de as sessões de terapia serem online e de consulta única. Com a debilidade física agravada, problemas de memória e ainda a sofrer com a perda de Marilyn (com quem escreveu Uma Questão de Morte e de Vida), o psicoterapeuta existencialista reconhece que «tinha de pôr as necessidades dos pacientes em primeiro lugar, pelo que fazer terapia de longo prazo estava fora de questão». 
Ao longo de vários capítulos, Yalom apresenta um conjunto diverso de pacientes, unidos por sofrimentos existenciais profundos, como é o caso de Paul, um jovem homossexual do Arkansas, que enfrenta uma depressão marcada pela rejeição familiar, após os pais terem cortado relações com ele; Hana, uma psicoterapeuta australiana que procura ajuda para lidar com um casamento em crise, confrontando-se com a dificuldade de aplicar a si própria aquilo que pratica profissionalmente; Beatriz, pintora portuguesa e leitora assídua de obras de Psicologia, que se debate com um relacionamento conjugal distante e tenso, revelando o contraste entre conhecimento teórico e vivência afectiva; Margaret, professora autista e residente em Melbourne, que vive uma solidão avassaladora, agravada por ataques de pânico que expõem a sua fragilidade emocional; e Albert, um físico sul-africano septuagenário, que procura Yalom devido a um medo extremo da morte, o que o obriga a confrontar-se com a finitude e o sentido da vida. 
Muitas das histórias contidas em A Hora do Coração exploram a eficácia de centrar a terapia na relação entre terapeuta e paciente. No livro, Yalom recorre de forma consciente ao conceito de autorrevelação como uma estratégia terapêutica deliberada, na qual partilha aspectos pessoais da sua vida com o objectivo de fortalecer a aliança terapêutica e promover a vulnerabilidade dos pacientes, mostrando que é seguro ser imperfeito. Embora tradicionalmente vista com desconfiança na psicoterapia, devido ao risco de contratransferência, o autor defende que a autorrevelação pode ser fundamental para construir a conexão terapêutica — que, segundo afirma, representa cerca de 80% do sucesso da terapia — e sustenta que esta prática tem sido maioritariamente bem-sucedida ao longo de décadas de trabalho clínico. 
Importa ainda salientar que as vinte e duas histórias clínicas apresentadas no livro foram seleccionadas pelo filho, Benjamim B. Yalom, psicoterapeuta, dramaturgo e escritor, que, numa entrevista recente, revelou que o manuscrito inicial chegou a incluir cerca de cinquenta histórias. Segundo Benjamim, o pai «precisava de alguém que o conhecesse suficientemente bem, que conhecesse o seu estilo de escrita e que tivesse confiança para realmente rever e reescrever», tarefa que acabou por assumir. 
Em suma, trata-se de um livro de leitura fácil e leve, mas repleto de insights significativos. A obra explora as complexidades das relações humanas e da transformação pessoal e, como acontece na maioria dos livros de Irvin Yalom, o leitor chega ao fim com a convicção renovada de que... é a relação que cura
Irvin D. Yalom voltou a casar em Janeiro de 2024 com Sakino Mathilde Sternberg Yalom. Hour of the Heart foi publicado em Dezembro de 2024 nos Estados Unidos. Actualmente, o autor de romances inspirados em Nietzsche, Schopenhauer e Espinosa tem 94 anos e já não exerce actividade clínica. 

Excertos 
«A morte, a única experiência por que todos passaremos, deve ter um lugar proeminente na forma como compreendemos a vida. Acredito que o medo da morte está na raiz de muitos dos problemas que levam as pessoas a fazer terapia.»

«Quanto menos lamentarmos como vivemos, menos medo teremos da morte.» 

«(...) a ânsia por ligações humanas é a principal força que impulsiona quem procura ajuda.» 

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