quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Bom Senso, Manual do Ateu, de Holbach

Editora: Alfanje Edições
Ano de Publicação: 2011
Nº de Páginas:192
Publicado pela primeira vez em 1772, Bom Senso, Manual do Ateu fez alvoroço nos meios sociais, culturais e principalmente religiosos de então. Pensador da era iluminista, filósofo e ateu militante, Holbach pode ser descrito como um dos intelectuais mais radicais do seu tempo. Escrito num estilo directo e sem requintes estilísticos, este livro denuncia os falsos moralismos da religião, não como una, mas na sua globalidade: «As convicções religiosas provocam mais mal que bem; são nocivas porque concordam vezes demais com as paixões dos tiranos, dos ambiciosos, dos fanáticos e dos padres». A palavra ateu pode significar sem deus ou sem teísmo, portanto, ateu é quem não crê na existência de um ser superior. Existe também os seres agnósticos, que pode o leitor leigo poderá confundir com os seres ateus. O termo “agnóstico”, em si mesmo, não indica se alguém acredita ou não num Deus. Eis a diferença que os separa.
O Bom Senso que se fala neste “manual” vai muito além da capacidade de discernir o certo do errado de cada religião e de cada dogma que uma pessoa acarrete.
Recheado de frases “bomba” dirigidas ao seio religioso, nomeadamente aos «Ministros» (Padres), ao «Monarca» (Deus) e aos seus fieis seguidores, o autor denuncia veementemente a religião e a teologia como «obscuras e misteriosas». Os padres aliais, são constantemente “bombardeados” nas palavras e pensamentos de Holbach: «Os próprios padres estão doentes; no entanto, os homens teimam em frequentar as suas lojas». Acrescenta ainda que «se a religião fosse clara, seria menos apelativa para o ignorante. Ele precisa de obscuridade, mistério, milagres, coisas incríveis que lhe preencham o cérebro».
O Príncipe oculto (mais um sinónimo utilizado por Holbach para designar Deus) «se é o autor de tudo, é também o autor do bem e do mal que vemos neste mundo; se Ele dá a vida, também provoca a morte; se provém abundância, riquezas, prosperidade e paz, também permite ou envia fome, pobreza, calamidades e guerras».
«O homem não nasce religioso, nem tão pouco teísta», é outro pensamento do autor ateu. A persuasão de Holbach em tentar chamar os homens à razão – à sua – é iminente ao longo das páginas deste livro. Ele afirma que «é sempre a índole do homem que decide a índole do seu Deus; cada um concebe um Deus para si de acordo com o seu carácter».
Ler este livro faz o leitor pensar que a religião e todas as suas “teias de ligação”, ontem, hoje e amanhã sempre existiram, existem e existirão. Holbach tentou provar que se podia ser virtuoso e ateu, contrariamente à ideia criada no século XVIII.
Como remate final, no livro Holbach questiona: «que motivos temos para acreditar na existência de um Deus? E como podemos amar aquilo que não conhecemos?».
Seguramente, um livro que nos abre os olhos ou que os fecha – ainda mais.
As seguintes citações não estão descritas neste livro mas fazem todo o sentido em serem adicionadas aqui. Um dia Saramago afirmou: «Não nos damos conta de que, tendo inventado Deus, imediatamente nos tornamos Seus escravos». Ou ainda o grande Charlie Chaplin que disse uma vez: «Por simples bom senso, não acredito em Deus; em nenhum». E por fim uma citação lida há bem pouco tempo: «Morrer pelas crenças teológicas é o pior uso que um homem pode dar à sua vida», de Oscar Wilde.
Antes de terminar, acrescento e saliento o excelente trabalho de tradução do seu original – escrito há duzentos e trinta e nove anos - pela Alfanje Edições.

2 comentários:

MJ FALCÃO disse...

Boa tarde! li e gosto do teu blog.
Agatha tem razão não é "re-edição"...
Não li esse da Tinta da China mas já sabia que existia...
Abraço

As Muitas Vidas ... disse...

Deus é antropomorfo; logo, é criação humana. A opinião de Feuerbach sobre Deus: “O que é esse Deus em que a maioria crê? uma ficção, uma criação dos homens, uma fabricação que obedece a leis particulares, ... os homens criam Deus à imagem deles invertida. ... inventam uma potência dotada exatamente das qualidades opostas: ... Eu sou mortal, Deus é imortal; sou finito? Deus é infinito; eu sou limitado? Deus é ilimitado; não sei tudo? Deus é onisciente; não posso tudo? Deus é onipotente; não sou dotado do talento da ubiqüidade? Deus é onipresente; sou criado? Deus é incriado; sou fraco? Deus encarna a Onipotência; estou na terra? Deus está no céu; sou imperfeito? Deus é perfeito; não sou nada? Deus é tudo, etc”. Ludwig Feuerbach (citado por Michel Onfray em Tratado de Ateologia em comentário em www.divinamamgia.com.br