Editora: Instituto Piaget
Ano de Publicação: 2003
Nº de Páginas: 176
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Inscrição da Terra é um estudo sobre a obra da poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen, da autoria de Luís Ricardo Pereira que apresentou o seu mestrado em Estudos Portugueses e Brasileiros, sendo este estudo – quase no seu extenso - o essencial desse trabalho.
Que Sophia de Mello Breyner Andresen é um dos nomes maiores da poesia contemporânea portuguesa, isso é conhecimento geral, agora só conhecendo algumas particularidades da sua extensa poesia é que podemos decifrar o enigma por trás dos seus textos.
A poetisa lançou em 1944 o seu primeiro livro Poesia I. É a partir desta sua primeira obra que o autor traça o percurso poético da poesia andreseana, uma poesia «que expõe, num tom poético ímpar, a exigência de uma primordial pureza e essencialidade das coisas, praticamente impossível de repetir ou imitar».
A obra de Sophia teve ao longo do seu decurso a inspiração de vários autores de que também ela admirava, tais como Cesário Verde, Eugénio de Andrade ou Fernando Pessoa. Este último de tal forma a inspira que dedica-lhe um poema a um dos seus heterónimos Ricardo Reis «(...) cada dia te é dado uma só vez/ E no redondo círculo da noite/ Não existe piedade/ Para aquele que hesita/..O tempo apaga tudo menos esse/ Longo indelével rasto/ Que o não-vivido deixa..»
Para Sophia «A poesia é a continuação da tradição oral. E é mestra da fala: quem, ao dizer um poema, salta uma sílaba, tropeça, como quem ao subir uma escada falha um degrau»
A linguagem poética de Sophia de Mello Breyner tem como inspiração em grande parte da sua poesia a cultura clássica greco-romana, a simplicidade e a pureza da palavra na sua relação da linguagem com as coisas. Sophia na sua poesia conserva e reforça continuamente uma relação privilegiada com o mar, com o vento, com o sol e a luz e com a terra. «O poeta é aquele que vive com as coisas, que está atento ao Real, que sabe que as coisas existe.»
A temática do silêncio, da dualidade dos objectos e luzes que reflectem duas ideias, a lonjura da noite, a espera, o vazio, está muito presente em seus poemas: «Deito-me tarde/ Espero por uma espécie de silêncio/ Que nunca chega cedo/ Espero a atenção a concentração da hora tardia/ Ardente e nua/ É então que os espelhos acendem o seu segundo brilho/ É então que se vê o desenho do vazio/ É então que se vê subitamente/ A nossa própria mão pisada sobre a mesa/ É então que se vê passar o silêncio.»; «..É só na penumbra da hora tardia/ Quando a imobilidade se instaura no centro do silêncioo/ Que à tona dos espelhos aflora/ A luz que os habita e nos apaga;/ Luz arrancada/ Ao interior de um fogo frio e vítreo.»
Para terminar, recomendo a leitura deste trabalho não só a estudantes, mas também aos amantes da poesia andreseana, e para o final deixo-os com as palavras de Sophia: «O poema me levará no tempo/ Quando eu já não for eu/ E passarei sozinha/ Entre as mãos de quem lê».
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