Editora: Parsifal
Ano de Publicação: 2013
Nº de Páginas: 80 + 16 págs. de extratextos |
Pelo que me lembro, do programa escolar, pelo menos até há dez anos, não constava a referência e estudo sobre os retornados e a Guerra do Ultramar, o que a mim faz uma ligeira confusão. Como é que um acontecimento tão dantesco, um dos êxodos mais trágicos de sempre da história contemporânea portuguesa, pode passar em branco no ensino?A independência das colónias portuguesas de África levou ao regresso, em 1974-75, de mais de meio milhão de cidadãos portugueses e causou um enorme impacto na sociedade e na economia portuguesa. A palavra retornado (ou deslocado, como disse Natália Correia) e seu significado que está vigente nas gentes de Portugal, faz parte do meu conhecimento há bem pouco tempo. Embora não tenha lido nenhum livro de não-ficção que abordasse esse tema, alguns romances têm estado em voga sobre o tema nos últimos anos (por exemplo Os Retornados, de Júlio Magalhães (A Esfera dos Livros, 2008) e O Último Retornado, de Júlio Borges Pereira (Saída de Emergência, 2012).Tomei conhecimento neste livro do seguinte: «A emigração e o exílio (sobretudo na década de sessenta) tinham despovoado meio Portugal. Aldeias inteiras apenas albergavam velhos e crianças, povoações existiam que não tinham sequer um habitante.Era um país de deserções e decrepitudes a viver das mesadas dos emigrantes e dos militares e das gorjetas dos turistas; um país onde estava (volta a estar) tudo por fazer, por merecer.» (p. 16)Os Retornados Mudaram Portugal perfaz um resumo esclarecedor, com notas de actualidade, sobre um assunto que para mim era quase desconhecido. O presente livro foi beber, na sua maioria, aos textos do livro do autor Os Retornados Estão a Mudar Portugal, obra publicada em 1984 (pela Relógio d’Água) e pioneira no tema.Este livro fez todo o sentido em ser publicado numa altura tão crítica na política e economia portuguesa: «Uma vez mais, os portugueses sofrem movimentos profundos de perda, uma vez mais são atirados para retornos que nos crispam.» (p. 78)Em nota conclusiva Fernando Dacosta escreve na página 79: «Como sucedeu nos anos 70 com os vindos de África, a raiva vai fazer-nos, agora, levantar e avançar — pois o Portugal que nos querem impor é um país de ignomínia.»
7 comentários:
Gosto sempre destes temas que tenham a ver com temas coloniais e também sobre assuntos relacionados com o Ultramar.Aliás,o meu pai tem muitos livros destes na minha lista para eu ler.
A tua opinião sobre o livro cativou-me. Vou comprá-lo numa próxima ida à livraria
Deve ser muito interessante este livro, depois de o ler vou oferecê-lo À minha sogra que sentiu ser retornada na pele..
Bom dia.
A imagem dos "retornados" está um pouco baralhada na minha cabeça. Talvez este livro me ajude a definir-me!
Beijocas
Corroboro tudo quanto, com maestria, Fernando Dacosta diz neste livro.
Na qualidade de piloto de aviões na Força Aérea Portuguesa e depois na TAP, sou testemunha participante desse período da nossa história.
Além disso, era o auge da Guerra Fria e estive sempre muito atento à estratégica corrida internacional para o domínio das Colónias portuguesas.
Sobre o que vi, passei e pensei, escrevi um livro "Angola Terra D'Uanga". Tem a forma de romance, para que pudesse usar personagens fictícias. A 2ª edição foi feita pela Chiado Editora.
Muito obrigado pelo seu testemunho caro Luis, e por mencionar o seu livro.
Um retrato excelente da nossa história, e sem sombra de dúvidas de um dos períodos que mais marcou o nosso pais, numa escrita fenomenal.
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