«Sempre a poesia foi para mim uma perseguição do real. Um poema foi
sempre um círculo traçado à roda duma coisa, um círculo onde o pássaro
do real fica preso. E se a minha poesia,
tendo partido do ar, do mar e da luz, evoluiu, evoluiu sempre dentro
dessa busca atenta. Quem procura uma relação justa com a pedra, com a
árvore, com o rio, é necessariamente levado, pelo espírito de verdade
que o anima, a procurar uma relação justa com o homem. Aquele que vê o
espantoso esplendor do mundo é logicamente levado a ver o espantoso
sofrimento do mundo. Aquele que vê o fenómeno quer ver todo o fenómeno. É
apenas uma questão de atenção, de sequência e de rigor. (...) E é
por isso que a poesia é uma moral. E é por isso que o poeta é levado a
buscar a justiça pela própria natureza da sua poesia. E a busca da
justiça é desde sempre uma coordenada fundamental de toda a obra
poética.»
Sophia de Melo Breyner Andresen, in Livro Sexto (1962).
Um poema de Sophia
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