sábado, 16 de maio de 2015

«Marquesa de Paiva», de João Pedro George

Editora: Livros d'Hoje
Data de Publicação: Março 2015
N.º de Páginas: 264
Ela arruinou duques, condes, banqueiros e dezenas de homens com poder e vasta fortuna. A Marquesa de Paiva, conhecida também como La Païva, nasceu no seio de uma família judia sem posses, em Moscovo, em 1819. Esther Pauline Lachmann, o seu nome de baptismo, passou a infância e adolescência inconformada com a vida simplória e de pouca bonança. Aos 17 anos casa-se com François Villoing, um alfaiate trabalhador e honesto, e têm um filho pouco tempo depois. Mas para esta mulher de índole forte e ambicioso a pacatez do lar sem luxo e a fidelidade não lhe preenche as suas intenções mais tenebrosas: conquistar a glória, o estatuto e dinheiro, muito dinheiro. Sem meias-medidas Esther foge para Paris, sem se despedir dos pais, marido e do filho. Com 19 anos chega à capital francesa, numa época em que a prostituição imperava à solta. E dedica-se a essa profissão nas ruas, depois em casas de alterne e só depois de alguns anos a lidar com a arte da sedução e do prazer torna-se profissional de luxo, satisfazendo os desejos mais promíscuos de homens endinheirados. Após alguns anos a somar dinheiro ela tem alguns contratempos e perde tudo, passando meses miseráveis e jura a si própria que se tornaria uma das mulheres mais ricas do seu tempo. Não vencida pelos percalços da vida ruma para Londres e conhece uma figura conhecida entre a aristocracia parisiense, um marquês português abastado, conhecido por ser viciado nas mulheres, no jogo e na boa vida. Albino Araújo de Paiva, o Marquês de Paiva, torna-se o seu segundo marido, em 1851, e além da sua dita fortuna, esta mulher calculista e sem escrúpulos alcança o título de Marquesa, a para todo o sempre denominada, Marquesa de Paiva. A lua-de-mel foi passada em Portugal, onde La Païva fica a conhecer que o português acumula dívidas intermináveis. Deixa-o entregue ao álcool e regressa sozinha a Paris, sem marido mas com o título que lhe enche o ego e começa a viver das aparências na dissoluta sociedade francesa, por quem era vista como uma mulher promíscua, fria, azeda e insuportável. Por ser misteriosa, ninguém conhecia o que ia no íntimo da sua alma.
O pianista austríaco Henri Herz foi o seu próximo "alvo". Conheceu-o na Prússia, mantiveram um relacionamento de 5 anos e dele teve uma filha. Foi através do pianista que Blanche Herz (a Marquesa) relacionou-se com artistas e músicos como Liszt e Richard Wagner. Ela educou-se e «inseriu-se nos meios culturais de Paris», conta-nos o autor desta biografia.
A mais inimitável de todas as prostitutas francesas do século XIX, uma idólatra de jóias, chega ao culminar da sua ambição ao se casar com o homem mais rico da Prússia, o Conde Guido Henckel von Donnersmarck, 11 anos mais novo que ela, que em 1855 manda construir para a amada de 38 anos, um sumptuoso palacete nos Campos Elísios, onde mais tarde ela receberá grandes personalidades da aristocracia (como imperador Napoleão III), da literatura (como Émile Zola, que diz-se ter-se inspirado nela para o livro Nana) e das belas-artes (como Eugène Delacroix), nos pomposos saraus e jantares realizados.
A sua profecia vingou: tornou-se numa das mulheres mais ricas do seu tempo, «tornou-se a rainha das cortesãs do Segundo Império e um dos grandes mitos sexuais franceses da segunda metade do século XIX», contudo morreu, aos 64 anos (em 1884), sem saber o que era amar, e talvez por isso, foi a mulher mais rica da sua época e a mais pobre de todas.
Marquesa de Paiva está eficazmente escrito duma forma objectiva e entusiástica, revela uma biografia engenhosamente trabalhada, o que estimula o leitor da primeira página à última. João Pedro George (n. 1971) recriou uma biografada absolutamente real, a transbordar sedução e maledicência. A Marquesa de Paiva tinha um poder de sedução inigualável, que enfeitiçava os homens, e com a ajuda do autor de Puta que os Pariu! A Biografia de Luiz Pacheco (Tinta da China, 2011) um pouco dessa arte de sedução que nela era inata, trespassou um pouco para o leitor. Outros dois pontos que jogam a favor desta biografia são os trechos de textos de escritores (como Camilo Castelo Branco) e diaristas da época que privaram com a Marquesa (como os irmãos Goncourt) e cujas histórias ficaram registadas para a posteriori.
Além de um bom trabalho de pesquisa sobre o enquadramento político, social e histórico das épocas narradas (a atmosfera cultural, os costumes, os preconceitos parisienses de Oitocentos, etc.), Marquesa de Paiva contém mais de uma centena de notas, onde o autor esclarece o leitor sobre detalhes mencionados ao longo da obra, que doutra forma poderiam ser passados despercebidos. Esta é uma biografia exemplar com o número certo de páginas.


6 comentários:

Arnaldo Santos disse...

A Marquesa de Paiva era uma mulher muito ambiciosa, querendo conquistar a glória, o estatuto e muito dinheiro (como, actualmente,muita gente em Portugal)
Uma excelente biografia, cuja leitura se recomenda.

Joana Baptista disse...

Não conhecia esta biografia. Parece ser muito interessante.

Joana Baptista disse...

Parece ser muito interessante. Adoro ler biografias de personalidades históricas e não conhecia esta.

Maria Santos disse...

este vai para a minha lista , sem duvida :)

Unknown disse...

Parece fantástico!

Unknown disse...

Não conhecia este livro. Parece interessante.