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Ilustração de João Fazenda |
Vamos crescer com o livro!
Na minha primeira infância, gostava de
construir casas com pequenas peças e toda a espécie de brinquedos.
Usava muitas vezes um livro ilustrado a fazer de telhado. Nos meus
sonhos, entrava na casa, deitava-me na cama feita com uma caixa de
fósforos e olhava para cima, para as nuvens ou para as estrelas do céu. A
escolha dependia da ilustração que preferia na altura.
Por
intuição, segui as regras de vida das crianças que procuram criar um
ambiente seguro e confortável à sua volta. E o livro infantil ajudou-me
muito a atingir este objetivo.
Depois cresci, aprendi a ler, e o
livro, na minha imaginação, começou a assemelhar-se mais a uma
borboleta, ou mesmo a um pássaro, do que ao telhado de uma casa. As
páginas do livro pareciam asas que batiam. Era como se o livro, deitado
no peitoril, quisesse sair pela janela aberta em direção ao
desconhecido. Segurava-o com as mãos e começava a lê-lo, e o livro ia
ficando cada vez mais calmo. Então eu próprio voava para outras terras e
novos mundos, alargando o espaço da minha imaginação.
Que
alegria ter na mão um novo livro! De início, nunca sabemos sobre o que é
que ele fala. Resistimos à tentação de saltar para a última página. E
como o livro cheira bem! É impossível distribuirmos o seu cheiro pelos
vários elementos que o compõem: tinta, cola… não, é impossível. Existe
um cheiro particular no livro, um cheiro único e excitante. As folhas
encontram-se coladas, como se o livro não tivesse ainda acordado. E ele
só acorda quando começamos a lê-lo.
Continuamos a crescer, e o
mundo à nossa volta torna-se mais complicado. Enfrentamos questões a que
nem os adultos sabem responder. No entanto, é importante partilhar
dúvidas e segredos com alguém. E aí o livro volta a ajudarnos. Muitos de
nós terão um dia pensado: este livro fala sobre mim! E a personagem
favorita parece ser igual a nós. Tem problemas semelhantes, e resolve-os
com dignidade. E há outra personagem que não é igual a ti, mas tu
gostarias de seguir o seu exemplo, de ser tão corajoso e desembaraçado
quanto ela.
Quando há rapazes e raparigas que dizem "Não gosto
de ler!", isso faz-me rir. Não acredito neles. Comem gelados, jogam
jogos e veem filmes interessantes. Dito de outro modo, gostam de se
divertir! É que a leitura não serve apenas para desenvolver sentimentos e
personalidades, ela é, acima de tudo, um prazer.
É sobretudo com essa missão que os autores de livros para a infância escrevem os seus livros.
Sergey Makhotin
(tradução de Mª Carlos Loureiro a partir da versão inglesa de Yana Shvedova)
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