Edição: Matéria-Prima
Data de publicação: 25-10-2017 N.º de páginas: 176 |
O psiquiatra e terapeuta de casais José Gameiro (n. 1949) tem um novo livro de crónicas. São mais de cinquenta textos que na sua maioria foram publicados originalmente no Expresso, semanário para qual o autor escreve há quase dez anos.Em Talvez para Sempre, o especialista em terapia familiar aborda temas crónicos e rotineiros relacionados com a vida conjugal. Sejam baseados em casos verídicos ou simplesmente fruto da imaginação do autor, nas duas primeiras partes da obra, o leitor vai conhecendo, através de narradores masculinos e femininos, histórias muito sui generis de casais modernos e tradicionais, que procuram, encontram, vivem e desistem do amor. São exemplos as três histórias seguintes: Um casal maduro com filhos jovens decidem ir à discoteca depois de muitos anos sem lá porem os pés e acabam por fazer as compras da semana no supermercado; um marido diz que vai viajar em trabalho e afinal quer se escapulir para os braços da amante, mas dado um imprevisto, volta mais cedo a casa e oferece à mulher jóias que afinal eram para a amante; um homem mata a amante porque esta faz chantagem com ele, dizendo que ia contar à sua mulher sobre o affair deles: «(…) peguei na seringa com o cloreto de potássio e entrei no teu coração, como nunca te tinha penetrado. Olho para ti uma última vez antes de fechar a mala do carro. És uma morta linda, deixei-te os olhos abertos para os poder ver pela última vez.»No preâmbulo da terceira e última parte do livro, o co-fundador da Sociedade de Terapia Familiar, afirma que «O que há de fascinante em fazer terapia de casal é a imprevisibilidade da evolução da sua relação.» Os textos coligidos nestas últimas páginas são relatos de casais que passaram pelo consultório de José Gameiro à procura de uma alternativa ao divórcio. Enquanto que nas crónicas das duas primeiras partes, o leitor não consegue perceber o que é real e o que é ficção, aqui a escrita e o tom de Gameiro é mais íntimo e objectivo. «(…) porque é que temos de viver com a pessoa que amamos? Muitas vezes isso estraga tudo.», podemos ler na página 159.Quem ler Talvez para Sempre, o terceiro livro de crónicas do autor, vai ouvir falar sobre amor, traição e sexo por quem lida há mais quarenta anos com estes assuntos da esfera conjugal. Tudo através de uma escrita irreverente e um humor inteligente, uma linguagem que podemos encontrar também em livros como Até que Consigas Voar (2014) e Até que o Amor nos Separe (2011).Um apontamento para a capa bonita e cativante que a editora do livro escolheu apresentar. Quem lê o texto sinóptico nas badanas e contracapa do livro, tenderá a comprar o livro porque tudo dá a impressão de se tratar de um romance. Em nenhuma parte vem escrito que Talvez para Sempre é um livro de crónicas. Fica a pergunta: será que os livros de crónicas vendem menos que os romances e por isso há necessidade de “camuflar” o género literário a que uma obra pertence?Excertos«O amor faz-nos descobrir coisas que nunca imaginámos ser capazes de sentir, ou, ainda mais difícil, de dizer.» (p. 27)«O casamento já não impede nada, estamos todos no mercado.» (p. 86)«O casal é a relação mais estranha e imprevisível da natureza humana. Vale tudo, é uma espécie de relação com sete vidas, quando parece que tudo está acabado, renasce.» (p. 126)«Os casais são como os gatos, têm sete vidas.» (p. 126)
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