segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

«Talvez para Sempre», de José Gameiro

Edição: Matéria-Prima
Data de publicação: 25-10-2017
N.º de páginas: 176

O psiquiatra e terapeuta de casais José Gameiro (n. 1949) tem um novo livro de crónicas. São mais de cinquenta textos que na sua maioria foram publicados originalmente no Expresso, semanário para qual o autor escreve há quase dez anos.
Em Talvez para Sempre, o especialista em terapia familiar aborda temas crónicos e rotineiros relacionados com a vida conjugal. Sejam baseados em casos verídicos ou simplesmente fruto da imaginação do autor, nas duas primeiras partes da obra, o leitor vai conhecendo, através de narradores masculinos e femininos, histórias muito sui generis de casais modernos e tradicionais, que procuram, encontram, vivem e desistem do amor. São exemplos as três histórias seguintes: Um casal maduro com filhos jovens decidem ir à discoteca depois de muitos anos sem lá porem os pés e acabam por fazer as compras da semana no supermercado; um marido diz que vai viajar em trabalho e afinal quer se escapulir para os braços da amante, mas dado um imprevisto, volta mais cedo a casa e oferece à mulher jóias que afinal eram para a amante; um homem mata a amante porque esta faz chantagem com ele, dizendo que ia contar à sua mulher sobre o affair deles: «(…) peguei na seringa com o cloreto de potássio e entrei no teu coração, como nunca te tinha penetrado. Olho para ti uma última vez antes de fechar a mala do carro. És uma morta linda, deixei-te os olhos abertos para os poder ver pela última vez.»
No preâmbulo da terceira e última parte do livro, o co-fundador da Sociedade de Terapia Familiar, afirma que «O que há de fascinante em fazer terapia de casal é a imprevisibilidade da evolução da sua relação.» Os textos coligidos nestas últimas páginas são relatos de casais que passaram pelo consultório de José Gameiro à procura de uma alternativa ao divórcio. Enquanto que nas crónicas das duas primeiras partes, o leitor não consegue perceber o que é real e o que é ficção, aqui a escrita e o tom de Gameiro é mais íntimo e objectivo. «(…) porque é que temos de viver com a pessoa que amamos? Muitas vezes isso estraga tudo.», podemos ler na página 159.
Quem ler Talvez para Sempre, o terceiro livro de crónicas do autor, vai ouvir falar sobre amor, traição e sexo por quem lida há mais quarenta anos com estes assuntos da esfera conjugal. Tudo através de uma escrita irreverente e um humor inteligente, uma linguagem que podemos encontrar também em livros como Até que Consigas Voar (2014) e Até que o Amor nos Separe (2011).
Um apontamento para a capa bonita e cativante que a editora do livro escolheu apresentar. Quem lê o texto sinóptico nas badanas e contracapa do livro, tenderá a comprar o livro porque tudo dá a impressão de se tratar de um romance. Em nenhuma parte vem escrito que Talvez para Sempre é um livro de crónicas. Fica a pergunta: será que os livros de crónicas vendem menos que os romances e por isso há necessidade de “camuflar” o género literário a que uma obra pertence?


Excertos
«O amor faz-nos descobrir coisas que nunca imaginámos ser capazes de sentir, ou, ainda mais difícil, de dizer.» (p. 27)

«O casamento já não impede nada, estamos todos no mercado.» (p. 86)

«O casal é a relação mais estranha e imprevisível da natureza humana. Vale tudo, é uma espécie de relação com sete vidas, quando parece que tudo está acabado, renasce.» (p. 126)

«Os casais são como os gatos, têm sete vidas.» (p. 126)

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