«A Ansiedade nos Nossos Dias», de Diogo Telles Correia

Editora: Bertrand

Data de publicação: 07/09/2018
N.º de páginas: 168

Na era em que vivemos parece ser cada vez mais comum ouvirmos falar sobre doença mental. São vários os cantores (Lady Gaga, Adam Levine, Elton John), actores (Gwyneth Paltrow, Catherine Zeta-Jones, Jim Carrey) e apresentadores (Ellen Degeneres) famosos que deixaram o estigma de lado e falaram abertamente sobre as suas doenças mentais. O objectivo é sensibilizar sobre o assunto e acabar com a discriminação das doenças mentais, passando a mensagem de que ninguém está imune às doenças do foro mental.

Por cá, cerca de 16,5% dos portugueses sofrem de ansiedade, uma doença que é já denominada como a epidemia do século XXI (Augusto Cury dá-lhe o nome de Síndrome do Pensamento Acelerado). No seu mais recente livro, A Ansiedade nos Nossos Dias, o médico psiquiatra e psicoterapeuta Diogo Telles Correia refere que «esta começa a ser primariamente uma doença da sociedade e apenas secundariamente do indivíduo.»

Ao longo de oito capítulos, o especialista dá a conhecer aos leitores, através de uma abordagem simples e sem jargões, os vários tipos de ansiedade que estão diagnosticados. Para ilustrar cada uma das perturbações de ansiedade (entre elas a ansiedade social, a ansiedade generalizada e a perturbação de somatização), o psiquiatra transpõe para o papel alguns casos de pacientes seus que viram as suas vidas transtornadas (deixar de ir à escola, ao trabalho, sair com amigos, etc.) por causa da ansiedade. Assim, conhecemos por exemplo a Maria (que sofre de ansiedade social), o Álvaro (cujo maior receio é morrer) e o António (um septuagenário que padece de stresse pós-traumático).

No capítulo final, Diogo Telles Correia, fazendo uma relação entre a ansiedade nos dias correntes e as novas tecnologias (que incitam o isolamento e o contacto virtual), e em jeito de conclusão, é peremptório a afirmar que «este novo mundo é um viveiro da doença mental. (…) O Homem pós-moderno é um homem cansado, cheio de medos, de dúvidas.»

A Ansiedade nos Nossos Dias é um livro bem conseguido, que alia uma parte teórica bem fundamentada e fiável com uma mais prática: os testemunhos, cujas angústias mencionadas refletem o quotidiano de muitos portugueses.

Excertos

«Os genes que herdamos dos nossos pais (…), em conjugação com as experiências que vamos adquirindo acabam por moldar o nosso cérebro e determinar o modo como pensamos e nos comportamos perante os outros.» (p. 41)

«Os nossos traços de personalidade crescem em nós de forma lenta e progressiva e vão-se instalando em todos os nossos recantos, pensamentos, emoções, mas também no nosso corpo. Não acredito que nos possamos ver totalmente livres dessas inscrições que se vão gravando na matéria-prima da nossa existência.» (p. 55)

«É o mundo que nos incute culpas e medos. O medo de falhar, a vergonha de não ser infalível, a necessidade de ser cada vez melhor: um estudante perfeito, um filho perfeito, um cônjuge perfeito, um pai perfeito, um profissional perfeito. A perfeição que nos persegue sempre e à qual escapamos inevitavelmente. Por mais que a perscrutemos, ela não nos pertence.» (p. 123)