«O Dia em que Perdemos a Cabeça», de Javier Castillo

Editora: Suma de Letras

Data de publicação: 15/01/2019
N.º de páginas: 380

A Suma de Letras guardou para meio do primeiro mês deste ano a publicação de um romance de grande suspense, de um autor espanhol estreante no meio literário.

Ao longo de 8 meses, Javier Castillo (n. 1987) escreveu um livro. Em Agosto de 2014, após ter-lhe sido renegado a edição do livro por várias editoras, o jovem aspirante a escritor decidiu disponibilizar o romance em versão digital na Amazon. Após um ano, a obra causou burburinho e foi lida por mais de 40 mil leitores e os seus direitos de publicação em papel foram adquiridos pela Suma de Letras espanhola. O Dia em que Perdemos a Cabeça, um tríler psicológico que tornou-se um fenómeno editorial antes da sua publicação em papel (actualmente conta com mais de 275.000 exemplares vendidos), chega agora aos leitores portugueses.

O livro começa com uma imagem atroz: um homem completamente nu, coberto de sangue, carrega na mão a cabeça decapitada de uma mulher. Nessa noite de Dezembro de 2013, em Boston, Jacob é preso e transferido para o centro psiquiátrico da cidade, onde é colocado sob a supervisão do Dr. Jenkins, um dos especialistas de saúde mental mais conceituados dos Estados Unidos. Para auxiliá-lo e traçar o perfil do criminoso é designado do FBI a analista comportamental Stella Hyden. As primeiras abordagens tidas com o presumível degolador provam ser inúteis, visto que Jacob decide não expressar-se verbalmente, sendo apenas a sua linguagem corporal a única a comunicar.

Ainda não consigo acreditar no que fiz ontem à noite, embora no fundo tenha uma sensação de tranquilidade

Qual a identidade da mulher decapitada e por que razão a sua morte foi tão lancinante? Que traumáticos episódios do passado ocorreram na cidade de Salt Lake, envolvendo uma família que lá passava férias? Será Jacob um serial killer que mata em nome individual ou tem outros comparsas no crime? Estas são apenas algumas perguntas que irão vir à tona, na mente de quem ler este romance viciante e cheio de acção, um tríler com perspicácia psicológica bem acentuada, que nos faz reflectir sobre o poder da influência de uma pessoa sobre outra (magnetismo) e nas sensações premonitórias que qualquer um de nós por vezes temos.

Fatum est scriptum

Embora seja de leitura voraz, O Dia em que Perdemos a Cabeça perde pontos por alguns pormenores do enredo sobre as personagens e suas acções terem sido ocultados/esquecidos de revelar aos leitores. Javier Castillo estruturou bem a história, resolvendo contá-la através de várias vozes narrativas e em diferentes momentos (1996 e 2013) — tornando a história ainda mais dinâmica —, mas ficou a faltar desenvolvimento em alguns assuntos que, se dados a conhecer ao leitor, fariam deste tríler um livro memorável.

Javier Castillo, nascido em Málaga, decidiu largar o seu emprego de consultor financeiro e dedicar-se totalmente à escrita. O seu segundo romance, El día que se perdió el amor foi publicado em Espanha em Janeiro de 2018, e no próximo mês de Março está previsto ser lançado um novo livro: Todo lo que sucedió con Miranda Huff.

Excertos

«Acho que ninguém se deveria arrepender das suas decisões. Deve aceitá-las, vivê-las, pedir perdão quando for caso para isso, mas nunca arrepender-se. A vida é composta por momentos fúteis, por decisões insignificantes tomadas pelo nosso eu particular em cada instante, de maneira mais ou menos meditada, mas somos sempre nós que as tomamos (…) Ninguém toma as decisões por si mesmo. Ninguém me obrigou a fazer o que vou fazer, mas deram-se as circunstâncias adequadas para que o meu eu, o meu ser, decida acabar com tudo hoje.» (pp. 79-80)

«Não há retrato mais dilacerante no mundo que o de uma vida esmagada por uma alma corrompida.» (p. 295)