segunda-feira, 17 de março de 2014

O preço a pagar

Um dos últimos livros que li tem como protagonista um juiz de meia-idade, com sucesso na profissão, todavia arrogante e narcisista. Embora leve uma vida de ‘bon-vivant’, com toda a sumptuosidade e regalias que o dinheiro pode proporcionar, no seu meio familiar deambula uma imensurável falta de união e afecto, devido ao seu egocentrismo e nulo altruísmo. Por desejar tanto o dinheiro, tornou-se um homem inseguro e prisioneiro das suas emoções, o que acarretou-lhe muitos sofrimentos. Só quando descobre que sofre de uma doença fatal é que ele cai em si, abruptamente, como se tivesse escutado pela primeira vez a sua voz interior. “Um futuro seguro significa mais do que acumular dinheiro. Afinal, o dinheiro pode ser roubado — e não pode curar doenças nem prevenir a morte.” — Eclesiastes 7:12.
Neste pequeno mas grande livro de Tolstói, este conta a história de um homem tão-rico-tão-rico-tão-rico que vivia na maior das misérias, e que perante uma vicissitude com consequência grave, tem um momento de tomada de consciência, uma epifania que o faz ‘despertar’ para o sentido que deu à sua inteira existência. É esta conscientização repentina que o salva a tempo, a tempo de amenizar os erros que cometeu durante a sua trajectória de vida.
‘A Morte de Ivan Ilitch’ (1886) é um excepcional estudo sobre a condição humana, que instiga, comove e que deixa a reflectir sobre o que fazemos e levamos desta vida. Nascemos sem nada… partimos desta vida sem nada levar, a não ser — como escreve o escritor russo — “sete palmos de terra.”
(Tolstói escreveu outros dois pequenos livros sobre a mesma temática que este, para quem tiver interesse os títulos são: ‘Senhor e Servo’ e ‘A Terra Que Um Homem Precisa’.)

(Texto publicado no Diário de Notícias da Madeira, em 17/03/2014)

1 comentário:

SOL da Esteva disse...

Na verdade o homem poderoso tem a tendência em sentir essa segurança determinante na sua Vida. Felizmente, tal não é verdade.
A Vida é feita de imensas variantes e o poder humano tenta sobrepor-se, mas o destino é o que é.
Um bom tema (sempre actual) para ser profundamente reflectido.


Abraços


SOL