quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Livros juvenis de 1939 e 1960 perduraram no tempo e são reeditados em Portugal

O livro de ficção juvenil Veloz como o Vento, escrito pela jornalista e autora belga Gine Victor, ganhou recentemente uma nova edição. A obra - publicada pela primeira em Portugal nos anos 1960 - tem o selo da Ponto de Fuga e tem como acrescento uma parte gráfica, da autoria da artista plástica e ilustradora Rachel Caiano. A tradução mantém-se a mesma, assinada pelo poeta Herberto Helder.
Veloz como o Vento, valeu à escritora, à altura de publicação, o Prix Jeunesse, atribuído em França ao melhor livro para jovens.

O livro é protagonizado por Kumbo, um rapaz que ficou órfão e foi acolhido por Gengisser, chefe de uma tribo mongol. É lá que ficará amigo da rapariga Surong e se tornará inseparável de um pequeno cavalo negro, batizado de "Veloz como o vento". 

Excerto
«A lua cheia ilumina a estepe. Em baixo, no topo de um cabeço, semelhando outros tantos pontos negros, os cavalos selvagens recortam-se no céu noturno.
Conduzido por um robusto garanhão, o bando pasta silenciosamente, avança passa a passo como que contra vontade, dá uma volta e regressa ao ponto de partida.»

Gine Victor nasceu em Mons, na Bélgica, em 1909. Jornalista e autora de romances para jovens, viveu vários anos na China da primeira metade do século xx. As impressões que então recolheu das paisagens, das gentes e das milenares tradições orientais marcam indelevelmente a sua obra. O exotismo dos cenários, o ritmo das aventuras e a capacidade evocativa da escrita, com uma linguagem rica mas acessível, envolvem os leitores e educam para os valores da experiência, da diversidade e da empatia.

Herberto Helder nasceu em 1930 e morreu em 2015. Foi um dos maiores poetas portugueses século xx. A par da sua produção literária, fez também muitas e variadas incursões no jornalismo e na tradução, nomeadamente de obras infantojuvenis.

Rachel Caiano nasceu em 1977. Artista plástica e ilustradora, com projetos nas áreas da edição de objetos de autor, pintura, cenografia e ilustração. Ilustrou livros de diferentes géneros, publicados em vários países, e colabora em diversas publicações periódicas. De Rachel Caiano estão editados pela Ponto de Fuga Contos de Encantar e O Mundo é Redondo.

Publicado pela primeira vez em 1939, O Livro dos Gatos Práticos do Velho Gambá é o famoso conjunto de poemas sobre gatos que T. S. Eliot foi escrevendo, durante a década de 30, em cartas para os seus afilhados. Serviu de base para o famoso musical composto por Andrew Lloyd Webber, Cats. Esta edição bilingue, com o carimbo da Assírio & Alvim, com tradução de Daniel Jonas, conserva as ilustrações originais de Edward Gorey.

T. S. Eliot (1888-1965) foi um poeta modernista, dramaturgo e crítico literário inglês nascido nos Estados Unidos. Recebeu o Prémio Nobel de Literatura de 1948. Eliot nasceu em St. Louis, Missouri, nos Estados Unidos, mudou-se para a Inglaterra em 1914, tornando-se cidadão britânico em 1927, com 39 anos de idade.
Em Portugal, foi publicado em Abril deste ano Ensaios Escolhidos (Relógio D'Água).

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

«O Evangelho das Enguias», de Patrik Svensson

Editora: Objectiva
Data de publicação: Outubro 2019
N.º de páginas: 240
Foi considerado o livro mais promissor da Feira do Livro de Londres decorrida no passado mês de Março. Em apenas duas semanas, o livro de estreia do jornalista cultural sueco Patrik Svensson (n. 1972) foi vendido para editores de 22 países. Actualmente, são 33 os idiomas (entre os quais o chinês, o russo, o alemão, o francês, o grego e o italiano) que a partir do título Ålevangeliet estão ou serão traduzidos. A tradução portuguesa tem a assinatura de Elin Baginha e o carimbo da Objectiva.
O que tem de cativante e original um livro de não-ficção que se debruça sobre um peixe estranho e pouco conhecido do leitor comum? À partida, e cingindo-se apenas pelo título da obra, este seria um ensaio que teria como alvo um público muito específico (como os biólogos marinhos); mas não; não é à toa que editores de todo o mundo andaram a disputar um livro sobre a história das enguias: um peixe viscoso e sinuoso, que move-se no oculto, na escuridão e no fundo do lodo, «uma criatura que procura activamente escapar ao conhecimento humano.»
Através de uma narrativa bem construída e evocativa, escrita em capítulos alternados, o autor começa por nos fazer uma visita guiada ao mundo obscuro e simultaneamente misterioso da enguia, uma criatura que existe há pelo menos quarenta milhões de anos, que foi tema de inúmeras teorias ao longo dos séculos e que despoletou o interesse de um sem-número de cientistas de relevo, que estudaram e dissecaram, literalmente, a enguia sem realmente nunca conseguirem compreender as suas metamorfoses e enigmas respeitantes ao seu nascimento, reprodução e morte.
«Há circunstâncias em torno das enguias que é preciso escolher aquilo em que queremos acreditar. A enguia é uma dessas circunstâncias.» Assim inicia Patrik Svensson o capítulo que reservou para contar aos leitores os estudos e conclusões que Aristóteles, há mais de dois mil anos, dedicou à enguia - acreditava que esta criatura como nenhuma outra brotava do nada.
Um outro capítulo deste trabalho ensaístico põe-nos em 1876, em Itália, e relata-nos as tentativas de um investigador austríaco de 19 anos que auspiciava resolver o enigma (relativo à sexualidade) da enguia e deixar a sua marca na história da ciência: «O jovem Freud era um investigador ambicioso (…) provavelmente, aprendeu muito sobre a importância da observação sistemática e paciente para a investigação, conhecimentos que mais tarde aplicaria aos seus pacientes no divã da terapia.»
Em O Evangelho das Enguias, a parte que reveza com a de carácter científico, ontológico, cultural e mitológico destes peixes catádromos, é relativa à própria história do autor, que desde pequeno lembra-se de pescar enguias com o pai («Não me recordo de alguma vez termos conversado sobre outra coisa que não de enguias») nos riachos da Suécia. Nas páginas onde o autor expõe as suas memórias de infância e início de idade adulta, e o amor-mútuo que dois homens nutriram durante muitos anos pela protagonista deste livro, a prosa torna-se poética, simbólica e metafórica. Em algumas destas páginas, o autor antropomorfiza a enguia.
Seria impensável lermos um livro sobre enguias e nos depararmos com uma leitura inspiradora, que nos põe a refletir sobre a fronteira entre a vida e a morte.
Numa entrevista recente, Patrik Svensson afirmou que «a enguia se torna uma metáfora para a necessidade de todos procurarem a sua origem (…) É também sobre a minha própria experiência de pesca com o meu pai. Ele morreu e trouxe os seus segredos à profundidade, tal como a enguia. Dessa maneira, escrever tem sido uma jornada simbólica de volta ao Mar dos Sargaços. Meu próprio mar de sargaço.»

Excertos
«Com o Mar dos Sargoços acontece o mesmo que com os sonhos, raramente é possível dizer com toda a certeza exactamente quando se entra ou quando se sai, só se sabe que lá se esteve.» (p. 11)
«Tem havido muitos enigmas na área das ciências naturais, mas poucos se provaram tão persistentes e difíceis de resolver como a enguia.» (p. 30)
«O mais persistente e controverso de todos os enigmas relacionados com a enguia, também tem sido aquele sobre como ela realmente se reproduz.» (p. 31)
«As suas metamorfoses não são apenas adaptações superficiais. Uma enguia transforma-se no que precisa de ser, quando chega a altura certa.» (p. 57)

Os britânicos Jonathan Coe e Ian McEwan publicam livros onde abordam o Brexit

Em vésperas do Brexit, são publicados em Portugal dois livros de autores britânicos de renome, onde é abordado a saída do Reino Unido da União Europeia.
De Jonathan Coe (n. Birmingham, 1961), a Porto Editora lançou no dia de hoje O Coração de Inglaterra, um romance sobre um país dividido, onde o autor aponta com humor as fragilidades da sociedade britânica moderna, em particular as que o Brexit veio pôr em evidência. Actual e pertinente, este livro está já nomeado para o Prémio Femina.

Ian McEwan (n. Aldershot, 1948) é outro escritor inglês que também escreveu um livro sobre a tragédia do Brexit. A Gradiva vai publicar dentro de algumas semanas A Barata (título original: The Cockroach), uma novela que é uma homenagem ao clássico de Kakfa A Metamorfose.
Sinopse
Ian, Sophie, Doug, Coriander, Benjamin e Colin são algumas das personagens de Jonathan Coe que partilham com milhões de britânicos as tormentas de um país dividido nas primeiras décadas do século XXI.
Quando, em 2010, é eleito um governo sem maioria, os problemas estão só a começar. Seis anos depois, o mundo recebe a estrondosa notícia de que o Reino Unido deixará a União Europeia em resultado do referendo que inscreveu a palavra Brexit na História. Mas, em 2018, a confusão continua, assim como as negociações infrutíferas que só aumentam a impaciência e o descontentamento de todos.
O Coração de Inglaterra evoca oito turbulentos anos da vida britânica e o seu reflexo na vida dos cidadãos. Ian e Sophie são recém-casados que veem a relação tremer devido às diferenças políticas; aos 14 anos, Coriander encontra na rebeldia e nas escaramuças que assolam Londres uma forma de lutar por maior justiça social; Colin tem como última vontade poder votar no referendo que afastará o país da União Europeia e - em teoria - devolvê-lo ao que foi no passado; Benjamim, o filho, só quer ficar à margem dos acontecimentos e poder escrever. Pelo meio, o leitor assiste ao significativo aumento das atitudes xenófobas como consequência do declínio da indústria e da diminuição do número de postos de trabalho.
Neste romance, através de uma prosa clara e muito divertida, Jonathan Coe representa de modo magistral os estranhos tempos em que vivemos, mas sobretudo as marcas profundas que deixam nas pessoas.

Outros livros do autor: A Casa do Sono (Asa), Exposição (Dom Quixote), entre outros.
Sinopse
Jim Sams sofreu uma metamorfose. Na sua vida anterior, era ignorado ou até considerado repugnante. Na sua nova encarnação, é o homem mais poderoso da Grâ-Bretanha - e a sua missão é fazer a vontade do povo. Nada poderá desviá-lo do seu caminho; nem a oposição, nem os dissidentes do seu próprio partido, nem sequer as regras de uma democracia parlamentar.
Com inteligência, a perspicácia e o humor contundente que lhe são característicos, Ian McEwan homenageia a obra mais famosa de Frank Kafka, mostrando-nos um mundo virado ao contrário.

«Naquela manhã, ao acordar, Jim Sams, esperto, mas algo leviano, depois de uma noite cheia de sonhos perturbadores, viu-se transformado numa criatura gigantesca.»

Outros livros do autor: Máquinas Como Eu, Mel, Expiação (Gradiva), entre outros.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

De João Guimarães Rosa acaba de sair uma nova edição de «Grande Sertão: Veredas»

Chegou hoje às livrarias nacionais Grande Sertão: Veredas, o único romance da autoria de João Guimarães Rosa (1908-1967), escritor, diplomata, novelista, romancista, contista e médico brasileiro, considerado por muitos o maior escritor brasileiro do século XX.
Esta sua obra-prima foi distinguida, no momento da sua publicação, em 1956, com o Prémio Machado de Assis, do Instituto Nacional do Livro, o Prémio Carmem Dolores Barbosa, e o Prémio Paula Brito.
Revolucionário na forma - praticamente inventou uma língua nova - e no conteúdo, Grande Sertão: Veredas mudou a literatura e assumiu-se, desde o primeiro dia e ao longo do tempo, como uma das mais importantes obras literárias da língua portuguesa, comparada - na ambição e na universalidade - a obras como Os Lusíadas, Dom Quixote e Fausto.

Referir que a presente edição portuguesa, com a chancela Companhia das Letras, respeita na íntegra o texto da 22.ª edição da obra, publicada pela Companhia das Letras Brasil no passado mês de Fevereiro.
Sinopse
Definido pelo próprio Guimarães Rosa como "autobiografia irracional", o romance usa como cenário o sertão brasileiro e os trilhos - "veredas" - que o gado vai sulcando no terreno árido, uma rede complexa de caminhos na qual é fácil perder o rumo - como na vida, como no mundo. No centro da encruzilhada está Riobaldo, protagonista-narrador, jagunço feito fazendeiro, que vai desfiando as suas memórias a um interlocutor desconhecido enquanto faz a sua travessia, debatendo-se entre deus e o diabo, entre o bem e o mal, a luz e as trevas. E dentro de Riobaldo está tudo: está o amor, o sofrimento, a força, a violência e a alegria de todos os homens e mulheres. Porque "o sertão é do tamanho do mundo".

Elogios
«Rosa não escreve sobre o sertão. Escreve como se ele fosse o sertão. Um sertão que se enche de estórias para contrariar o curso da História.»
Mia Couto

«Quando lemos Guimarães Rosa e seu maravilhoso Grande Sertão: Veredas, tem algo dito ali que não pode ser dito de outra forma. (#) A grande visão da vida que nos dá uma obra literária é o que faz esta obra ser grande.»
Mario Vargas Llosa

«Nunca vi coisa assim! É a coisa mais linda dos últimos tempos. Não sei até onde vai o poder inventivo dele, ultrapassa o limite imaginável. Estou até tola. A linguagem dele, tão perfeita também de entonação, é diretamente entendida pela linguagem íntima da gente - e nesse sentido, ele mais que inventou, ele descobriu, ou melhor, inventou a verdade.»
Clarice Lispector (carta a Fernando Sabino)

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Faktoria K de Livros lança livro de contos de Alejandro Pedregosa

Ou, do escritor e poeta espanhol Alejandro Pedregosa, é o novo título da colecção Confluências de ficção para adultos da Faktoria K de Livros. Por esta obra que reúne 13 contos sobre o destino, a sorte e a morte, o autor recebeu em 2018 o "Premio de la Crítica Andaluza".

Sinopse
Antologia de contos breves, intensos e poderosos, todos eles unidos no respectivo título por um «ou» inicial e optativo. Contos que exalam ecos longínquos de lenda ou fábula moral e atribulada, escritos com a mestria de um artesão minucioso. Contos que põem em cena uma galeria de personagens de existência efémera que vai saudando o leitor ao longe, do cenário, mesmo antes de enfrentar o seu destino, por vezes trágico, mas quase sempre com a resignação de um penitente.
Excerto
«O menino encontrou o corpo atirado a um espinheiro. Vinha da aldeia e andava por aquelas lombas agrestes à procura de espargos. Ficou surpreendido mas não se alarmou. O corpo transmitia uma pacífica resignação. Estava de face virada para o matagal e era evidente que não se podia mexer. O menino inclinou-se, agarrou numa pedra e lançou-a ao vulto. Foi embater na carne mole e ouviu-se apenas um lamento, uma espécie de brisa fugaz e dolorosa. Ainda não está morto, pensou ele…»

Recentes publicações com o selo da Editora Meridiano

O Choque do Futuro - As Pessoas e os Mundos, de José Maria Rodrigues da Silva
O choque do futuro, um futuro que já está entre nós, obriga a saber como é possível preservar a humanidade do homem perante as tecnologias que dominam o futuro: a robótica, as tecnologias de informação, a engenharia genética.
O que nos espera é ameaçador, sobretudo se se entender que a ordem tecnoeconómica determina a simbólica ou ético-cultural, como entendem quer o neoliberalismo dos E.U.A. quer o marxismo-leninismo.
Felizmente, eu sempre entendi que entre a ordem tecno-económica e a simbólica ou ético-cultural há relações de acção-reacção e não há determinismo. É isso que me faz feliz, pois se assim não fosse nada havia a fazer para evitar que a humanidade do homem se perdesse irrevogavelmente.
Compreende-se, pois, que termine este ensaio invocando o direito à liberdade de pensamento com recurso a uma conhecida canção da Resistência.

A Gravidez do Meu Vazio e Outros Contos, de Elisabete Lucas
Este livro de contos - de leitura intensa, que não dispensam a ironia - traz-nos narrativas cheias de vida e de morte. Também derrotas e vitórias, desvios e oportunidades. Nem sempre o que se deseja chega na medida certa.
Nem sempre o que se espera surge segundo os planos. Os imponderáveis da vida! Muitos. Interessantes. Continuidades e reviravoltas: sem elas, o que seríamos? Apenas passantes sem história e sem histórias. Vinte e cinco contos surpreendentes!
A Meridiano é uma chancela da Editora Sinais de Fogo.

Novos livros de João Tordo e Afonso Cruz

João Tordo escreveu o seu primeiro tríler. A Noite em Que o Verão Acabou (672 pp.) chega dia 5 de Novembro às livrarias com o cunho da Companhia das Letras, a mesma editora que a partir de amanhã faz sair o novo livro de Afonso Cruz, intitulado paz traz paz (120 pp.)
14 de Setembro de 1998. O dia em que Chatlam, uma pequena vila americana, acordou em choque com o homicídio de Noah Walsh. O principal suspeito: a sua filha de dezasseis anos. No Verão de 1987, o adolescente Pedro Taborda apaixona-se por Laura Walsh, a filha mais velha de um magnata nova-iorquino. Ela e Levi – uma criança misteriosa – passam férias com os pais no Lagoeiro, uma pacata cidade algarvia. Rica e moderna, a família Walsh tem tudo para dar muito nas vistas no sul de Portugal. Inebriado pelas formas perfeitas e pelos modos ousados de Laura, Pedro encontra na rapariga americana o seu primeiro amor. Mas quando o Verão acaba, a família Walsh regressa aos Estados Unidos e o destino fica por cumprir.
Dez anos depois, Pedro, decidido a tornar-se escritor, vai estudar para Nova-Iorque. Fascinado com Gary List, antigo prodígio das letras americanas, chega aos Estados Unidos determinado a perseguir os sonhos da juventude. Ao reencontrar Laura, está longe de suspeitar que esse acaso o mergulhará no crime mais falado dos anos noventa, o homicídio do milionário Noah Walsh.
Com um segundo homicídio a atrapalhar a investigação e uma corrida para salvar Levi, de apenas dezasseis anos, acusada de matar o pai, Pedro e Laura enredam-se irremediavelmente na teia de segredos que envolve a família Walsh, desde os anos quarenta do século XX até ao impensável desfecho nas primeiras décadas do novo milénio.
Porque em Chatlam – e neste thriller imparável – nada é o que parece.
O QUE ESCONDE LEVI WALSH?


Da narradora d’O LIVRO DO ANO, aquela menina que carrega um jardim na cabeça e atira palavras aos pombos, chega-nos um novo diário com os seus pensamentos, inquietações, experiências e os sonhos de melhorar o mundo através de pequenos gestos ou actos heroicos, atacando o absurdo com o absurdo e a noite com canteiros de flores.
Páginas feitas de inusitada poesia, para leitores de todos os feitios. Até os normais.

«Última Paragem Auschwitz» é uma das próximas novidades da Planeta

Última Paragem Auschwitz, de Eddy de Wind
Um arrepiante testemunho das atrocidades de Auschwitz e, pelo que se sabe, o único livro escrito integralmente no campo de extermínio.
Em 1942, o médico judeu Eddy de Wind apresentou-se como voluntário para trabalhar em Westerbork, um campo de trânsito de judeus, no este dos Países Baixos, onde conheceu Friedel, uma jovem enfermeira. Os dois apaixonam-se e casam. Em 1943, foram deportados para Auschwitz num comboio de mercadorias e são separados, indo Eddy para o Block 9 e Friedel para o 10, onde se realizavam experiências médicas.
Quando os russos se começam a aproximar de Auschwitz, no Outono de 1944, os nazis decidiram apagar os seus vestígios e foi ordenado aos prisioneiros, entre os quais se encontrava Friedel, recuar até ao interior da Alemanha, no que se conheceria depois como «marchas da morte». Eddy, pelo contrário, escondeu-se e ficou em Auschwitz, onde encontrou um lápis e um caderno e começou a escrever.
Esta é a sua história.
Eddy de Wind escreveu um doloroso e comovedor relato dos horrores no campo, analisa e observa o comportamento das pessoas - tanto boas como más - e o que são capazes de fazer. Descreve Auschwitz como nunca antes havia sido descrito. Do interior e com a profunda impressão desse momento.
Eddy de Wind (1916–1987) foi o último médico judeu a formar-se na Universidade de Leiden, na Holanda, durante a Segunda Guerra Mundial. Ofereceu-se para trabalhar no campo de trabalho de Westerbork, com a falsa impressão de que a sua mãe, que havia sido levada pelos alemães, seria salva da deportação. Lá, ele conheceu e casou-se com a sua primeira esposa, Friedel. O casal foi deportado para Auschwitz em 1943. De Wind retornou à Holanda no verão de 1945 e especializou-se como psiquiatra e psicanalista. Última Paragem Auschwitz foi publicado em holandês em Fevereiro de 1946. 
Obra relacionada: O Rapaz que Seguiu o Pai para Auschwitz.

A Fujitiva, de Jessica Barry
A verdade pode matá-la...
Sobreviver a um acidente de avião é apenas o início para Allison. A vida que construiu para si - o noivo perfeito e o mundo luxuoso de ambos - desapareceu num ápice. Agora tem de correr, não só para fugir dos segredos sombrios do passado mas também para despistar o homem que a persegue a cada passo. No outro lado do país, a mãe de Allison desespera por notícias da filha, que se encontra desaparecida, dada como morta. Uma história de mistério, cativante e impossível de parar de ler.

Origens - Como a Terra nos criou, de Lewis Dartnell
Terra, vento, água e fogo foram fundamentais para a história da Humanidade.
Como o mundo físico moldou a história da nossa espécie.
Quando falamos de história humana, concentramo-nos em geral em grandes líderes, forças populacionais e guerras decisivas. Mas como determinou a terra o nosso destino? O nosso planeta oscila, impulsionando mudanças no clima que forçaram a transição do nomadismo para a agricultura. O terreno montanhoso levou ao desenvolvimento da democracia na Grécia.
«Porque é o mundo como é?
«Não digo isto como modo de meditação filosófica - porque estamos todos aqui? -, mas sim num profundo sentido científico: quais são as razões por detrás das principais características do mundo, da paisagem física de continentes e oceanos, montanhas e desertos? E como é que os terrenos e as atividades do nosso planeta e, além dele, do nosso ambiente cósmico, afetaram o surgimento e o desenvolvimento da nossa espécie e a história das nossas sociedades e civilizações? Em que medida a própria Terra foi a protagonista no momento de dar forma à história humana - uma personagem com traços distintivos, um humor variável e dada a ocasionais explosões irascíveis?

sábado, 26 de outubro de 2019

«Frankissstein» é um dos próximos livros a publicar pela 20|20 Editora

Frankissstein (romance), Gelo (romance), Rumi: Sabedoria Intemporal (espiritualidade) e Casa em Ordem, Mente em Paz (vida prática) são quatro títulos de novos livros da 20|20 Editora que saem a 28 deste mês.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

«Um Mundo Cheio de Histórias de Animais», de Angela McAllister e Aitch

Editora: Jacarandá
Data de publicação: 02-10-2019
N.º de páginas: 130
A presente antologia colectada pela escritora britânica Angela McAllister, reúne 50 histórias infantis sobre animais, pequenos e grandes e de todas as espécies, de todo o mundo. São contos e fábulas que entrelaçam o lado do mito com o da lenda, apresentando belas heroínas, poderosos heróis e todo o género de criaturas estranhas e mágicas.
Em cada conto, o leitor fica a saber a origem do mesmo: de que país a narrativa é oriunda e de que fonte provém. Além disso (o que vem pôr o leitor geograficamente bem situado enquanto vai folheando as páginas), as histórias estão separadas tendo em conta os 6 Continentes.
‘As dez crias de avestruz’ é um dos contos provenientes de África, mais precisamente do Quénia, e fala-nos de uma avestruz e das suas dez crias, que enquanto a progenitora se ausenta do ninho para ir buscar alimento, os filhotes desaparecem. Esta história termina com uma leoa ladra a olhar para um buraco vazio.
Nas páginas 22 e 23 está um conto tradicional da Índia, sobre um homem sábio que viajava pelo mundo montado num elefante e que encontra seis irmãos cegos, que lhes pergunta «O que é um elefante?» Após cada um irmão tocar numa parte do portentoso mamífero, eles começam a brigar…
A história ‘Asa de águia e o búfalo’, oriunda da América do Norte, fala sobre um búfalo que tinha poderes espirituais, que os usa para transformar montanhas e castigar caçadores.
De 1966 e a perdurar até aos nossos dias vem neste livro uma história do Peru, que tem como protagonistas uma rã, que não suporta olhar o seu reflexo no riacho porque nascera diferente dos outros seus espécimenes, e uma pastora, que fica serva de uma ave, um condor. Esta é uma história mágica sobre uma troca de identidade.
Em duas páginas duplas (86 a 89) vem narrada uma história europeia datada de 1843: ‘O rouxinol’. «Na China, havia um imperador que adorava rodear-se de coisas bonitas.» A moral desta fábula é de que a liberdade é um bem precioso e que nem o ouro pode comprá-la.

Da Austrália há um conto tradicional que nos prende a leitura, de tão singelo que é. Fala-nos de uma magia que fez com que todos os cangurus nascessem com um “avental”.
Estes são apenas 6 da meia centena de belos contos, lendas e mitos didácticos incluídos em Um Mundo Cheio de Histórias de Animais (tradução de Paula Caetano), um álbum que contém belíssimas ilustrações em aguarela e guache da artista romena Aitch (Mădălina Andronic).
Este é um livro que concilia com brio a parte escrita com a parte visual. Em cada uma das histórias, a ilustradora soube captar a essência de cada narrativa; a sua criatividade e precisão ao retratar pessoas e animais, faz as histórias sobressaírem da página. Referir que há um lado sombrio e gótico (uma característica no trabalho da artista) em algumas estampas, onde manchas a preto preenchem o fundo das ilustrações.
Esta é, portanto, uma leitura surpreendente e divertida, para crianças e adultos.
De Angela McAllister encontram-se publicados em Portugal vários livros infantis, como Pequena Demais? (Minutos de Leitura, 2015) e Já Sou Grande, Mamã! (Livros Horizonte, 2006).

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

«A Maldição do Marquês» é o título do novo romance histórico de Tiago Rebelo

O autor Tiago Rebelo tem um novo livro. Baseado em factos verídicos, A Maldição do Marquês (576 pp.; Edições Asa) é uma descrição imparável das intrigas palacianas e das lutas pelo poder; dos casamentos, das traições e das luxúrias na Corte de D. José; e também uma secreta e improvável história de amor capaz de sobreviver a todas as provações.

Sinopse
José Policarpo de Azevedo, criado de um dos fidalgos mais poderosos do reino, condiciona involuntariamente os mais dramáticos acontecimentos, que mudaram Portugal no século XVIII.
D. José reina, mas delega todas as decisões no omnipotente marquês de Pombal, que trava uma guerra de morte com a velha nobreza e os padres jesuítas.
O terramoto que arrasa Lisboa, a revolta dos índios brasileiros e o atentado contra o rei são oportunidades históricas aproveitadas com exímia mestria política pelo maquiavélico marquês de Pombal para ganhar definitivamente o poder.
Mas, a todo o momento, a obscura figura de José Policarpo de Azevedo intromete-se nos planos do homem forte do reino, que inicia uma longa e implacável perseguição para o capturar e executar.
O destino do único e misterioso sobrevivente do massacre dos Távora, mantido em segredo durante séculos, é finalmente revelado.

Primeiras páginas do livro:
«Quando, ao final da tarde, José Policarpo de Azevedo desembarcou no Paço Real da Ribeira, Lisboa estava a arder, ou o que restava dela. A cidade desabara à hora da missa e encontrava‑se em escombros.
Era sábado, 1 de Novembro de 1755, dia de Todos os Santos. O Sol erguera‑se na sua máxima força e a manhã radiosa avançara doce, transparente e tranquila, sem qualquer prenúncio de desgraça. Havia meses que não chovia e o Verão entrara inclemente pelo Outono adentro, notando‑se a canícula nos caminhos poeirentos e nos campos secos onde não brotava uma erva, não se via um pedaço de verde.
Lisboa acordou mole e pachorrenta e, ainda estremunhada, preparou‑se para a missa. São Roque, Santa Catarina, São Paulo, a Sé de Lisboa, o Loreto, o convento do Carmo, muitas dezenas de outras igrejas, estariam em breve sobrelotadas para o serviço religioso mais importante do dia. O povo ia à missa.
Nobres e burgueses vestiam os seus melhores fatos e destilavam de calor, acotovelando‑se nos templos a deitar por fora, em redor dos quais enxameavam mendigos esfarrapados, cocheiros ocupados com os seus cavalos irrequietos, vendedores de bugigangas e crianças órfãs que dormiam pelas ruas e que, desde bem cedo, eram atraídas pelo toque dos sinos às igrejas onde afluíam as gentes ricas.
Ainda não eram oito horas quando D. Carlota Justina Vasconcelos de Mattos, filha única do conde de Montargil, abriu um olhinho rameloso, esticou um braço fora das cobertas, espreguiçou‑se muito indolente, deixando depois cair o braço na cama, como que hipnotizada a fitar os anjos desenhados no dossel, por cima dela.
Sentiu‑se preguiçosa, capaz de ficar mais uma hora à deriva nas intermitências do sono, mas não, hoje era um dia importante, era preciso reagir. Deitou a mão à mesinha‑de‑cabeceira, agarrou na pequena campainha e agitou‑a com energia, fazendo bater o badalozinho estridente. Logo acudiram a criada Arlete e a ama, dona Consolação. A rapariga abriu a porta do quarto, afastou o grosso reposteiro de veludo pesado, enquanto dona Consolação aguardou atrás com os dedos das mãos entrelaçados à frente do peito como que em oração, muito direita, de queixo erguido, grave no seu vestido fúnebre, um fio ao pescoço e uma grossa cruz de prata. D. Carlota Justina ergueu‑se na cama e ficou sentada a fazer beicinho, exaurida, dir‑se‑ia enferma, ou a chocar um resfriado. Mas não, no auge dos seus 17 anos, era já uma mulher feita e senhora do seu nariz empoado, uma «frança», como se usava chamar às mais requintadas do reino, seguidoras incondicionais da moda francesa. Pois bem, D. Carlota Justina não padecia de nenhuma febre e dona Consolação não fez caso dos modos contrariados da menina, que mais não eram do que a atitude chique que se esperava de uma donzela excessivamente elegante.
Arlete apressou‑se a ajudar a menina a sair do leito, a pôr os chinelos de veludo, a envergar o robe de chambre.
A ama ocupou‑se do petit‑déjeuner, um prato de fruta variada, descascada, cortada em pedacinhos. D. Carlota Justina segurou um pequeno espelho de prata e observou‑se olhos nos olhos, cheia de melancolia.
— E monsieur Marcel? — perguntou, distraída.
— Está a chegar — disse a ama. — Ficou de vir às oito e meia.
— E ainda não são?
— Faltam quinze minutos.
O cabeleireiro chegou pontualmente à hora combinada. Saltou da sua sege de luxo, imobilizada por baixo do pórtico que dava passagem para o jardim, e subiu a escadaria que conduzia ao primeiro andar. Percorreu em passo alegre e saltitante os corredores marmoreados, os sucessivos e imensos salões pintados com frescos, atravessou aquela casa apalaçada onde moravam somente D. Carlota Justina e o paizinho, e um batalhão de criados, naturalmente.
A mãezinha expirara minutos depois do parto, vítima de uma complicação inesperada, uma hemorragia que os médicos não puderam conter. Desde então, nunca mais ninguém vira o conde interessar‑se por outra mulher. Monsieur Marcel instalou‑se na antecâmara do quarto de D. Carlota Justina com todos os seus frasquinhos mágicos de pós coloridos, de perfumes, os papelinhos, os instrumentos para encanudar o cabelo, para armar um penteado de uma altura inacreditável, cheio de laçarotes e flores. D. Carlota Justina veio ter com ele e cumprimentaram‑se com dois beijos no ar, como velhos amigos. O cabeleireiro era um íntimo dela, muito afectado, muito divertido, sempre cheio de mexericos para contar. Sabia todos os amores e todos os escândalos da Corte e não se inibia de os contar, um mimo!
Uma hora passou, enquanto monsieur Marcel trabalhava sem parar, tagarelava sem parar, cheio de espírito, erguendo a sua escultura com a cabeleira de D. Carlota Justina como só ele sabia fazer, como um artista criando a sua obra de arte. Por fim, subiu a um banquinho atrás da cadeira onde ela se sentava protegendo a cara com uma máscara em forma de cone bicudo e deixou cair sobre o seu cabelo uma nuvem de pó branco. E quando a nuvem assentou o artista saltou do banquinho dando gritinhos de entusiasmo e ofereceu‑lhe um espelho de mão para que ela visse como estava linda.
— Liiiinda!! — esganiçou‑se o artista.
D. Carlota Justina, comovida com o resultado, bateu palminhas de contentamento e soltou um riso estridente, quase histérico.
Monsieur Marcel foi‑se, cantarolando palacete fora, radiante por ter deixado a cliente satisfeita, satisfeito consigo mesmo, convicto de que era um génio, não fosse ele o cabeleireiro mais disputado pelas mulheres mais nobres do reino. Sim, que lá ele só servia a fidalguia!» (pp. 9-12)

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Estão a chegar novos livros de John le Carré, Daniel Silva, James Rollins e Robert Bryndza

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John le Carré, Daniel Silva, James Rollins e Robert Bryndza. 
Serão editados nos próximos dias tríleres de suspense/espionagem destes autores mundialmente conhecidos.
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Do escritor britânico de 88 anos John le Carré, a Dom Quixote lança a 29 deste mês Agente em Campo, «um retrato arrepiante do nosso tempo, ora doloroso, ora com laivos de humor negro».

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Uma reedição de Retrato de uma Espia, de Daniel Silva, é publicada pela Bertrand Editora no último dia de Outubro. A protagonizar este romance está, pois claro, Gabriel Allon, o restaurador de arte e espião bem conhecido dos leitores do jornalista que desde 1997, resolveu dedicar-se por completo à escrita. Nesta história, Gabriel Allon é chamado a Washington para ser confrontado com uma nova face do terrorismo global...

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São 512 as páginas que os fãs do americano James Rollins irão ter pela frente, quando estiver disponível nas livrarias (a partir de 8 de Novembro) O Forjador de Almas. Este título pertence à série 'Força Sigma', que foi considerada «no topo das boas leituras» (New York Times) e uma das «melhores leituras de Verão» (People).

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De Robert Bryndza, autor, entre outros, do bestseller internacional A Rapariga no Gelo (2017), a Editora Alma dos Livros publica no próximo dia 8 um novo livro. Mistério em Nine Elms, o sétimo título deste autor a ser traduzido para português, é, segundo a sinopse, «um thriller brilhante, misterioso e inteligente.»

Oráculos, cristais e qigong são temáticas de novos livros de espiritualidade e esoterismo

O Oráculo Sagrado da Deusa, de Patrícia Jarimba
A Libertação da Alma: O Oráculo, de Michael A. Singer

Alquimia Interior, de Pedram Shojai
O Grande Livro das Grelhas de Cristais, de Judy Hall

domingo, 20 de outubro de 2019

Helena Sacadura Cabral tem um novo livro

A vida tem muitos caminhos, e todos nós somos o resultado daquilo que semeamos e cuidamos, defende a escritora Helena Sacadura Cabral.
Fiel às suas crenças e à sua verdadeira essência, a autora reforça nas páginas de As Minhas Escolhas a importância das escolhas que fazemos e daquilo que escolhemos sentir.
Com otimismo e perseverança, a autora acredita que todos podemos alcançar a felicidade, mesmo quando são poucas as razões para sorrir.

«Os anos foram-me ajudando a perceber que as energias só devem ser gastas naquilo que nos torna melhores pessoas.»

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

«O Melhor de Martha Medeiros», de Martha Medeiros

Editora: Planeta Portugal
Data de publicação: 01-10-2019
N.º de páginas: 240
São poucos os que nunca se depararam com textos de Martha Medeiros na internet. Algumas frases desta que é uma das mais reconhecidas cronistas brasileiras costumam tornar-se virais nas redes sociais, dado a enorme subtileza e profundidade com que escreve sobre relações humanas, em especial sobre o amor, um assunto recorrente nas suas crónicas.
Para assinalar os 25 anos de carreira, no passado mês de Maio foi lançado no Brasil uma antologia que compila as suas melhores crónicas. A edição portuguesa da obra, O Melhor de Martha Medeiros, tem o selo da Planeta e chegou às livrarias no primeiro dia de Outubro.
Ao longo deste quarto de século, a autora de Divã (o seu romance mais popular, já adaptado para o cinema) escreveu mais de 2 mil crónicas em jornais como ‘O Globo’ (do Rio de Janeiro) e ‘Zero Hora’ (do Rio Grande do Sul). 100 desses textos foram escolhidos pela própria, tendo como critério os que tiveram mais impacto e celeuma no público; são exemplos ‘A rapariga do carro azul’, ‘O tipo do outro lado da rua’, ‘Levantar voo’, ‘Dois minutos de ontem à noite’, ‘Mulher de um homem só’, ‘A sogra do meu marido’ e o texto que tornou-se viral no mundo inteiro, que se intitula ‘Morre Lentamente’: «Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pontos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeções, sentimentos.» (p. 113)
Estas crónicas, das quais 4 são inéditas, não estão ordenadas por ordem de publicação nem por temática. Revelam uma pessoa sensível, arguta, cirúrgica no modo de apresentar as suas ideias e pensamentos sobre assuntos como o namoro, o casamento, a infidelidade, o sexo, a amizade, a solidão, etc.
Alguns textos de Martha Medeiros coligidos em O Melhor de Martha Medeiros são difíceis de se ler: às vezes são um murro no estômago, de tão verdadeiros e certeiros; são aquelas frases que os nossos companheiros e amigos não se atrevem a dizer-nos. O pensar de Martha rompe com clichés, ideias estereotipadas. Ela disseca sentimentos e emoções, com os quais as pessoas lidam diariamente, com o seu bisturi: a sua escrita criativa, perspícua, imagética e por vezes mordaz.
Salientar que esta compilação foi pensada ser publicada primeiramente em Portugal, como forma de apresentar o trabalho desta consagrada escritora ao público português (apenas um dos seus livros foi publicado em Portugal, em 2006 e encontra-se esgotado). A proximidade do aniversário foi o motivo para que a antologia tivesse sido editada originalmente em terras brasileiras.


Excertos
«De vez em quando é preciso abrir a nossa caixa-negra, vencendo o medo do que podemos encontrar. Que maduro é aquele que mata as vertigens e os espantos.» (p. 11)

«(…) as mesmas coisas que nos revelam também nos escondem (escrever, por exemplo).» (p. 12)
«Qualquer ser humano é um depósito de angústias, carências, traumas e neuras.» (p. 21)

«O amor, em si, não é difícil. O amor é fácil. Difíceis somos nós. Somos um simpático sarilho para quem se atreve a entrar na nossa vida e a ficar connosco por mais de dez dias, prazo suficiente para percebermos que a perfeição não existe.» (p. 21)

«Que lugar melhor para uma criança, para um idoso, para uma mulher apaixonada, para um adolescente com medo, para um doente, para alguém solitário? (…) tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve.» (pp. 45-46)

«Amor é aquele troço sem razão que desarruma a nossa vida. Que melhora a nossa vida. Que piora a nossa vida. Que justifica a nossa vida.» (p. 107)

«O tempo não cura tudo. Aliás, o tempo não cura nada, apenas tira o incurável do centro das atenções.» (p. 121)

«Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama e, ainda assim, doer.» (p. 124)

«Amor não é medicamento. Se está deprimido, histérico ou ansioso de mais, o amor não se aproximará (…). O amor espera que a pessoa esteja feliz para surgir diante dela sem máscaras nem fantasias (…). O amor é o prémio para quem relaxa.» (pp. 135-136)

«De todos os que preenchem a nossa solidão, os livros são os mais anárquicos, os mais estimulantes. Leia, e o seu silêncio ganhará voz.» (p. 159)