sábado, 28 de fevereiro de 2015

«Um Homem e o Seu Cão», de Thomas Mann

Editora: Bertrand
Data Publicação: 06/02/2015
N.º de Páginas: 120

Foram vários os escritores que escreveram sobre, ou inspiraram-se, em seus fiéis e admiráveis animais de estimação: Doris Lessing nunca escondeu a sua paixão por gatos e escreveu sobre os felinos no livro Gatos e Mais Gatos; os cães, para Anton Tchekhov, eram «grandes pessoas»; já Clarice Lispector confessou que «nenhum ser humano me deu jamais a sensação de ser tão totalmente amada»; em suas crises depressivas Virginia Woolf buscava reconforto emocional num cocker spaniel que nunca saía do seu redor, aquando desses momentos de angústia. Também o autor de A Montanha Mágica dedicou um livro a descrever a sua relacção de companheirismo e afeição com um perdigueiro alemão chamado Bauschan.
Um Homem e o Seu Cão foi escrito em 1918 e é o retrato de uma amizade, entre um animal de estimação e o seu dono, construída muito aos poucos, com desconfianças por parte de ambos, enquanto iam se apercebendo da índole um do outro. Tendo como pano de fundo Bad Tölz, cidade alemã localizada na Baviera, onde Thomas Mann possuía uma casa à beira rio, ao longo de cinco capítulos o escritor, então com 57 anos de idade, vai dando a conhecer ao leitor os últimos dois anos da sua vida, passados desde que Bauschan veio ter às suas mãos, era então um cãozinho de seis meses, muito medroso e afoito pela comida, de tanto que dela nesses primeiros meses de vida estivera privado.
Com um novo dono, um novo habitat onde predomina grandes áreas de vegetação e montanhas, com uma natureza aquática (rios, lagos, riachos) diversificada e mesmo ao redor, com passeios regulares ao longo da pradaria circundante, surge um novo Bauschan, com hábitos saudáveis e carácter mais forte. Esta nova compleição e robustez ganhas por este cão é relatada por Thomas, quando o canino é internado numa clínica veterinária, inesperadamente, superando com ânimo e resiliência uma doença de perda de sangue. Mann, nesses dias em que fica separado do seu cão, confessa ter ficado surpreso consigo próprio, dado o surgimento repentino de uma profunda solidão, pela ausência do seu fiel amigo. É essa constatação de apego, de anseio pela vida de um outro ser que ajuda o escritor a chegar a uma nova compreensão da natureza humana, do amor e da humanidade em toda a sua complexidade.
A escrita de Thomas Mann nesta obra revela-se analítica, descritiva em pormenores que fazem o leitor visualizar e sentir estar a acompanhar os protagonistas pelos seus passeios e desfrutar da quietude dos sons dos pássaros, que o autor que é considerado um dos maiores romancistas do século XX, utilizando a escrita transmite. Um livro ideal para os leitores que têm ou já tiveram animais de estimação.
Publicado pela Bertrand Editora e traduzido do alemão por Sara Seruya, Um Homem e o Seu Cão foi dado à estampa originalmente em Munique, em 1919, dez anos antes de Mann ser agraciado com o Nobel de Literatura, sob o título Herr und Hund - Ein Idyll, numa edição exclusiva de 120 exemplares numerados e assinados pelo autor. No início da década de 1960 teve a sua primeira publicação em Portugal (O Cão e o Dono, Editorial Inquérito), cuja tradução esteve a cargo de João Gaspar Simões.

(Esta informação não consta neste livro mas da entrada do diário de Thomas Mann de 16 de Janeiro de 1920, que revela Bauschan não ter resistido a uma cinomose. Foram cerca de quatro anos o tempo que o cão esteve com o autor.)


3 comentários:

Maria José disse...

Conheci a obra de Thomas Mann na faculdade... era parte das cadeiras de Língua Alemã. Não conheço este livro e fiquei com vontade de o ler. Obrigada pela partilha!

Joana Bessa disse...

Este vai para a minha lista para próximas leituras! :D

Neuzinha disse...

este gostaria de ler