Notas Sobre Uma Arte Útil
Parte Escrita I
de Júlio Pomar
Introdução: Sara Antónia Matos
Organização: Pedro Faro
Edição: Março de 2014
Número de páginas: 328
Júlio
Pomar [Lisboa, 1926] vive e trabalha em Paris e Lisboa. Frequentou a
Escola de Artes Decorativas António Arroio e as Escolas de Belas-Artes
de Lisboa e do Porto. No início da sua carreira, foi um dos animadores
do movimento neo-realista, desenvolvendo uma larga intervenção crítica
em jornais e revistas. Tem-se dedicado especialmente à pintura, mas
realizou igualmente trabalhos de desenho, gravura, escultura e
«assemblage», ilustração, cerâmica e vidro, tapeçaria, cenografia para
teatro e decoração mural em azulejo. Foram-lhe atribuídos vários
prémios. Além de diversos
textos publicados em revistas e catálogos, sobre outros artistas e sobre
a sua própria obra, Pomar é autor de livros de ensaios sobre pintura.
Da Cegueira dos Pintores
Parte escrita II
de Júlio Pomar
Tradução: Pedro Tamen
Introdução: Sara Antónia Matos
Organização: Pedro Faro
Edição: Abril de 2014
Número de páginas: 134
Greco ou O Segredo de Toledo
de Maurice Barrès
Tradução e apresentação: Aníbal Fernandes
Edição: Abril de 2014
Número de páginas: 96 (com imagens a cores)
Hoje, Maurice Barrès [Charmes (Vosges), 1862 – Neuilly-sur-Seine, 1923] é largamente referido nas histórias da literatura francesa; é o autor de La Colinne Inspirée, o seu mais belo romance, o homem de Les Dérracinés,
romance a várias vozes onde talvez possa ver-se anunciado o fascismo
europeu de trinta anos mais tarde, ou deste Greco onde as descobertas de
Toledo e do seu pintor se interpenetram sob um olhar crítico, e para
fazer o que ele próprio reconheceu como narrativa de uma «ideologia
apaixonada». Em 1902, durante a sua demorada peregrinação em Toledo,
Barrès entusiasmava-se com o que era então o mais «difícil» pintor da
Espanha; com o Greco que nesses anos de públicos muito pouco receptivos
às brutais divergências do seu hábito, com olhares só educados pelas
regras, hostilizava as suas alongadas e distorcidas proporções humanas;
com esse pintor, visto como lúgubre e obscuro, quase resumido a verdes,
azuis e amarelos, com carnes de cadáver e raros vermelhos que aos
profanos lembravam sangue quente; com a sua arte, que ao querer retratar
um povo dividido entre origens mouriscas e semíticas mas dominado pela
fé cristã, reivindicava um espaço (dir-se-ia que impossível de
encontrar) onde fosse reconhecível a síntese dos padrões do Renascimento
e do Barroco, dos artificialismos maneiristas, mas também um frio
despojamento não fatal à sua febre de sonho e revelação. O Greco de
Barrès não é apenas o génio exterior às normas da pintura da sua época,
mas a verdade fugidia da alma toledana. E quando nos enfrenta, esguio e
«astigmático», pede para vermos como conferiu aos seus corpos a alma que
deles constantemente se escapa.
Aníbal Fernandes, «Apresentação»
Bubu de Montparnasse
de Charles-Louis Philippe
Tradução e apresentação: Aníbal Fernandes
Edição: Abril de 2014
Número de páginas: 144
A história contada em Bubu – que
poderia ter-se limitado a prolongar outras histórias que em Zola ou nos
Goncourt rondam os meios da prostituição – isolava-se por uma diferença.
Fazia a sua denúncia com uma ambiguidade incómoda para muitos leitores
dessa época, dir-se-á que escondia mal um elogio da força, que se
afastava do bom exemplo moralizador e se decidia por um desfecho que
dava vitória aos opressores. Philippe [Cérilly (Allier),
1874 – Paris, 1909] denunciava uma realidade parisiense do seu tempo
apoiando-se em factos e em números, como se depreende de uma das suas
cartas: «Continuo os meus estudos sobre a prostituição. […] E descubro
coisas horríveis. Sífilis, alcoolismos, canalhice, são os fenómenos
quotidianos de mais de cinquenta mil mulheres de Paris. […] Sinto
sobretudo uma compaixão imensa por esta miséria.» De tudo isto o seu
romance fez um retrato implacável mas com voz de homem seduzido
pela força pessoal, incapaz de evitar uma vitória do «fortalhaço» Bubu.
Que no mundo as coisas vão mal e os fortes vencem, é uma das afirmações
que mais facilmente se extraem do seu texto. […] Em toda a sua obra
literária Philippe inventa pouco e constrói levemente uma ficção que
olha a sua própria vida ou o que bem perto dela andou. Os factos de Bubu
de Montparnasse são quase todos reais.
Aníbal Fernandes, «Apresentação»
Já houve muitos romances sobre a vida no
seu baixo nível, sobre o vício e a degradação das grandes cidades.
Romances de sentimentalismos, romances de sátira, romances de
indignação, romances de reforma social, romances de luxúria. Bubu de Montparnasse consegue
não ser nada disto e não pertence ao último caso, categoricamente. É
certo que Philippe incomoda e demora-se, complacente, no que podemos
sentir pelo mundo como ele é; mas não tem um remédio que lhe permita
fazer uma argumentação. É ao mesmo tempo compadecido e desapaixonado; no
seu livro não condenamos ninguém, nem sequer condenamos um «sistema
social»; e ao lê-lo, até o mais virtuoso poderá sentir isto: pequei
enormemente por pensamento, palavra e obra.
T.S Eliot, «Prefácio»
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