terça-feira, 22 de julho de 2014

«A Borboleta Voando no Vazio», de Chuang Tzu e Lié Tzu

Editora: Dinalivro
Data de Publicação: Maio 2014
N.º de Páginas: 312

Os leitores residentes em Portugal que interessam-se por livros que contêm as doutrinas, saberes e pensamentos orientais chineses, têm ao seu alcance a possibilidade de adquirirem duas obras-primas da filosofia taoista, O Livro de Chuang Tzu e O Livro de Lié Tzu, coligidas num só livro. Esta obra da Dinalivro — editora que tem vindo a apostar na publicação de obras ditas espirituais —, vem, pela primeira vez na língua de Camões oferecer aos leitores duas das três obras fundamentais do Taoismo — a outra obra é Tao Te Ching (Editorial Presença, 2010), escrita há mais de dois mil anos por Lao Tzu, o pai do Taoismo; obra traduzida também por Joaquim M. Palma, especialista no deciframento de textos orientais.
A Borboleta Voando no Vazio está dividido em duas partes, uma para cada Livro, além de possuir uma introdução, notas de rodapé, um resumo breve sobre o Taoismo, uma lista das dinastias chinesas e um glossário muito pertinentes e esclarecedores para os leitores leigos; tudo para o bom entendimento do Tao, «o princípio supremo que engloba todos os seres e coisas».
Sobre a Parte I: Chuang Tzu (369 a.C. – 286 a.C.) em sete capítulos esclarece que o Tao não pode ser definido («O grande Tao não cabe dentro de qualquer definição. A verdade não precisa de palavras. A verdadeira compaixão não precisa de se mostrar.»), nem encontrado, nem apre(e)ndido, pois Ele é Vazio («O Tao mora no vazio»), é Silêncio, está no Desapego, na Não-acção. O Tao significa literalmente um Caminho e tem sido várias vezes traduzido como o Método, o Absoluto, a Natureza. É precisamente essa não-definição que também o mestre e sábio do Tao, o Mestre Lié (IV - III a.C.) refere no seu Livro.
Sobre a Parte II: Lê-se no início d’O Livro de Lié Tzu que «a missão de cada coisa é funcionar de acordo com a sua própria natureza.» Através de histórias, aforismos e contos Lié Tzu e seus discípulos demonstram a importância que tem o Vazio para quem segue o Tao. Ele só é alcançado por quem está em silêncio, por quem fala através dele e no silêncio se sente bem. No Taoismo, o Yin e o Yang simboliza o princípio gerador de todas as coisas, a partir da união duas energias opostas e complementares entre si, o positivo e o negativo.
Na leitura de A Borboleta Voando no Vazio temos de nos desapegar das nossas crenças e valores, para que possamos nos interiorizar sem preconceitos na doutrina taoista. É verdade que foi através da escrita (destes dois Livros) que a essência do Tao nos é revelada, todavia o leitor tem que encontrar um outro meio de compreensão para lá das palavras, para vislumbrar um resquício do que é enaltecido pelo Tao — não que a leitura dos textos seja de difícil interiorização, mas não são as coisas mais simples as mais complexas?
Este é um livro intemporal, pois nele é possível o leitor esbarrar-se, constantemente, com muitas passagens incrivelmente claras e úteis para a actualidade social, religiosa, política, etc., do século XXI.

Excerto:
«Alguém perguntou a Lié Tzu: “Porque dá tanta importância ao vazio?”, a resposta foi: “No vazio não existe nenhuma possibilidade de valorização (…) Na quietude e no vazio encontraremos a verdadeira morada.”» (pp. 146-147)


7 comentários:

Nuno Antunes disse...

Gostava de ler! ;)

fatima goncalves disse...

adorei o livro. li e depois ofereci-o a minha filhada que tambem adorou.

Wildeman disse...

Encomendei esse livro após ler O barco vazio, de Osho. Recomendo também. Adorei a postagem.

Miguel Pestana disse...

Obrigado Douglas por ter passado por aqui. Vou apontar a sugestão do livro do Osho (não sei se em Portugal o título será o mesmo).

Wildeman disse...

Este livro do Osho idolatra Chuang Tzu. Adorei o blog.

Diogo Canudo disse...

Deve ser bastante interessante o livro. :)

Amadeu António disse...

Alguém teria a amabilidade de me fornecer um contacto do Joaquim Palma?
Não o conheço pessoalmente mas conheci a matriz cultural por onde ele passou, em Évora, além de me interessar igualmente por tradução, e gostava de trocar impressões com ele.

Agradecidamente,

Amadeu Duarte