«A Biblioteca: Uma segunda casa» é um dos novos livros da Fundação FMS
A Fundação Francisco Manuel dos Santos está de parabéns. Ao longo da última década e meia, criou a Pordata, uma base de dados com informação estatística de dezenas de entidades oficiais nacionais e internacionais, publicou 75 estudos e 260 livros sobre a realidade portuguesa. Em 2024, prossegue a sua missão:
estudar, divulgar e debater a sociedade portuguesa.
Com liberdade e independência.
Eis as suas mais recentes publicações da colecção Retratos, que traz aos leitores um olhar próximo sobre a realidade do país, narrado por quem o viu - e vê - de perto.
A Biblioteca: Uma segunda casade Manuel Carvalho Coutinho Texto de apresentação
Quem lê quer ler. Mas como fazê-lo, sem poder de compra ou a possibilidade de contacto directo com o livro? Em Portugal, 303 Bibliotecas Municipais, integradas numa rede nacional criada em 1987, procuram cumprir o desígnio estatal de promoção da leitura junto de todos, das crianças aos idosos, de forma aberta e inclusiva.
Este livro retrata 21 destas bibliotecas, no continente e nas ilhas, reproduz de forma vívida a experiência de observação do seu funcionamento quotidiano e os testemunhos de bibliotecários, técnicos e leitores. São projetos muito diversificados, em constante movimento e crescimento, mas sobretudo espaços feitos para nós e que existem como extensões de nós. Há quem lhes chame de segundas casas.
O que (entre outras) é notícia neste ensaio
Segundo a Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, das 303 Bibliotecas Municipais em Portugal, 247 estão integradas na Rede Nacional de Bibliotecas Públicas. Actualmente apenas cinco municípios em Portugal não possuem uma Biblioteca Municipal. São eles: Aljezur, Marvão, Terras de Bouro, Vila Viçosa e Calheta. A solução encontrada para estes municípios será, por enquanto, através de Bibliotecas Itinerantes (isto é, uma Biblioteca móvel inserida num veículo devidamente equipado para colocar documentos à disposição dos seus utilizadores, o que permite chegar a localidades que tipicamente se encontram a longas distâncias da Biblioteca Municipal mais próxima). A importância do projeto das Bibliotecas Itinerantes é algo que figura também neste livro, contando-se ao dia de hoje quase 80 unidades em funcionamento.
Outro livro, da mesma colecção, que pode interessar: A Religião dos Livros.
Um dedo borrado de tinta: histórias de quem não pôde aprender a lerde Catarina Gomes Texto de apresentação
Casteleiro, no distrito da Guarda, é uma das freguesias nacionais com maior taxa de analfabetismo. Este livro retrata a vida e o quotidiano de habitantes desta aldeia que não tiveram oportunidade de aprender a ler e a escrever. É o caso de Horácio: sabe como se chama cada uma das letras do alfabeto, até é capaz de as escrever uma a uma, mas, na sua cabeça, elas estão como que desligadas; quando recebe uma carta tem de «ir à Beatriz», funcionária do posto dos correios e juntadora de letras. Na sua ronda, o carteiro Rui nunca se pode esquecer da almofada de tinta, para os que só conseguem «assinar» com o indicador direito. Em Portugal, onde, em 2021, persistiam 3,1% de analfabetos, estas histórias são quase arqueologia social, testemunhos de um mundo prestes a desaparecer.
Excerto
«Não saber ler é a vida não ser só nossa, guardada em nós, não a darmos a conhecer se não tivermos vontade. Não conseguir ler é ter de partilhar, mesmo que não se queira. Resta à pessoa, ao menos, escolher quem nos lê a vida.» (p. 82)
Catarina Gomes é autora dos livros Pai, Tiveste Medo?, Furriel não é Nome de Pai, Terrinhas e Coisas de Loucos.
Revolução inacabada: O que não mudou com o 25 de Abrilde João Pedro Henriques Texto de apresentação
O que não mudou com o 25 de Abril? Apesar de todas as conquistas de cinco décadas de democracia, há características na sociedade portuguesa que se mantêm quase inalteradas. Este livro investiga duas delas: o elitismo na política e o machismo na justiça.
O recrutamento para a classe política dirigente praticamente não abrange pessoas não licenciadas e com contacto com a pobreza, e quase não há mobilidade do poder local para o poder nacional. No sistema judicial, a entrada das mulheres na magistratura e a mudança para leis mais progressistas não alteraram um padrão de baixas condenações por crimes sexuais, cometidos sobretudo contra mulheres.
Cruzando factos e testemunhos, este é o retrato de um Portugal onde a revolução pela igualdade está ainda inacabada.
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