Eu e outros animais, de George Stilwell

Editora: Livros Horizonte

Ano de Publicação: 2002

Nº de Páginas: 136

Os livros que contam histórias, na sua maioria de não-ficção, normalmente são abolidos da crítica e têm a tendência a serem rotulados de literatura menor. Se o livro não for da autoria de um escritor de renome a obra é directamente desconsiderada. Todavia a crescente edição de livros deste género prova que há leitores quanto-baste para os lerem.

George Stilwell é veterinário e professor universitário que investiga assuntos ligados à saúde e bem-estar dos animais domésticos e selvagens. Este Eu e outros animais é o seu segundo livro, mas antes publicou sobre a chancela da Livros Horizonte Veterinários e Outros Animais – livro esse que levantou alguma celeuma entre a classe veterinária (por causa do título sui géneris). O autor este ano publicou Quando os Macacos se Apaixonam (Esfera dos Livros), o seu terceiro livro.

- Está? É o doutor beterinário?

- Sim, sou eu, diga lá.

- Está longe?

- Isso depende.

- Ah pois! Tenho uma novilha charolesa que pariu há pouco tempo e agora tem uma coisa pendurada por detrás…

É assim que alguns episódios vividos pelo veterinário de província ou do campo (como o mesmo apelida-se) começam. A “coisa pendurada” veio a confirmar-se ser o útero que estava saído, de uma vaca acabada de dar à luz. O veterinário após um longo trabalho reintroduziu a “massa disforme” no interior do animal no lugar devido e lá voltou para casa.

Muitas vezes está o beterinário no conforto do seu lar, com os seus filhos, e de repente o telefone toca – seja dia, seja noite, seja sábado, seja domingos, assim o autor confessa ao leitor. 

Casado com uma colega da mesma profissão, ambos decidiram largar a grande cidade e invadir a nortenha província minhota.

George Stilwell neste livro relata o [seu] dia-a-dia atribulado e capta a essência das pessoas (na sua maioria agricultores já com alguma idade ) que vivem numa antiga província - seus credos, aflições e alguma ingenuidade e irredutível abnegação e resistência em relacção aos avanços tecnológicos e sociais – e o modo como cuidam dos seus animais, que dão-lhes o sustento. Nestas histórias nota-se no veterinário o interesse no bem-estar, tanto dos animais que cuida, bem como dos próprios proprietários. Estes muitas vezes vivem sós e uma palavra amiga é sempre bem-vinda.
O livro está recheado de exemplos que comprovam que os animais não são assim tão diferentes dos seres humanos. O instinto maternal e de amor no mundo animal, são muito comparáveis aos do seres-humanos, como George Stilwell testemunhou em muitas ocasiões: «Após anos de observação e convívio com todos os tipos de animais, não consigo encontrar grandes diferenças entre as espécies animais e a humana, no que toca à relacção mãe-filhos. No caso dos humanos dizemos que é amor e no caso dos animais resolvemos chamar-lhe instinto.»

Uma leitura agradável para quem gosta da voz de um contador de histórias humilde, que escreve em tom irónico, cómico, claro e expressivo, provocando ao leitor risadas ao longo das 136 páginas, de histórias pitorescas. Revela também um homem com muito respeito pelos animais de quatro patas (ou duas).
Um livro apropriado para ler confortavelmente e (se for o caso) com o seu bichano de estimação ao lado.