Aquilo que temos e aquilo que somos

A vida é uma viagem. A grande maioria das pessoas vive iludida ao passar muitos do seus melhores anos em busca de coisas que acabam por ter, verdadeiramente, pouca importância. Há duas coisas que provocam stresse: não ter uma coisa que queremos e ter uma coisa que não queremos. O mais importante não é o que estamos a acumular durante o nosso percurso pela vida, mas sim em quem nos estamos a tornar, enquanto o trilhamos e, ocasionalmente, aparecem obstáculos no percurso — que devem ser vistos como contratempos que nos incitam ao crescimento pessoal. Apesar de a sociedade nos convidar a encher a vida de bens materiais, são os actos de altruísmo e compaixão que nos enriquecem e enaltecem a grandeza de um homem. O nível de felicidade mais abrangente deriva da dimensão do nosso impacto e contributo para com a vida dos outros — não querendo isto dizer que sejamos infractores para connosco mesmos —, e nunca o número de dígitos que a nossa conta no banco tem (não desdizendo que o dinheiro não é importante para o nosso bem-estar, porque o é, e muito) e as coisas que podemos adquirir com esse dinheiro — não é o telemóvel de última geração que ostentamos, o automóvel de alta cilindrada que conduzimos ou a casa que compramos que nos torna uma boa pessoa. Tudo o que é comprado nunca será nosso, realmente (numa abordagem mais transcendental). Independentemente do meio social a que pertencemos a pessoa torna-se, na sua consciência, aquilo que é, através da experiência (Carl Rogers). Nós somos aquilo que pensamos e nossos pensamentos são hábitos. Há que estar ciente que somos produto dos pensamentos que a nossa mente prolifera, que somos a soma de nossos estereótipos e crenças, que se pensarmos em desgraças, doenças, tristezas…, atrairemos esses impulsos mentais negativistas para o nosso estado emocional. Estaremos no caminho correcto para nos tornar um ser melhor quando praticarmos e recebermos ‘feedback’ do poder da gratidão, do respeito, da compreensão, da resiliência, etc. 

(Texto publicado no Diário de Notícias da Madeira, em 20/08/2014)