O filósofo Karl Popper, um grande apaixonado pelos livros, proferiu a seguinte frase: «O livro é o bem cultural mais importante da Europa e talvez da humanidade.» A incentivação à leitura, em Portugal, desde há muito que passou a constituir um grande objectivo das entidades ligadas à Cultura. Em várias cidades portuguesas a Feira do Livro foi um dos eventos criados que veio potenciar o incitamento da população para a leitura. Desde 1930, em Lisboa e no Porto, o evento que promove o objecto livro, decorre anualmente em meados de Maio e Junho. Em 2013 a Feira do Livro do Porto não se realizou pela primeira vez, e a do Funchal este ano, a 40.ª edição, pelos vistos, também não vai sair para a Avenida Arriaga; pelo menos ninguém do pelouro da Cultura da Câmara Municipal do Funchal tornou público o programa e datas da Feira do Livro ou ‘Festa do Livro’ ou ‘Festa da Cultura’, segundo denominações oficiais dos últimos anos.Este ano há Feira? Se sim, ou se não, os leitores madeirenses, assíduos visitantes da Feira que sempre se realizou em fins de Maio, inícios de Junho, já deviam terem sido informados. Primeira metade de Julho decorrida e, a esta altura que escrevo este artigo, nenhuma informação existe sobre a Feira de 2014, nem no sítio da C.M.F. nem em nenhum outro. A edição do ano passado da Feira a meu ver foi das mais fracas, o que tem vindo a acontecer nos últimos quatro anos para cá. O contacto directo com os autores convidados é diminuto; o Livro deixou de ser o principal protagonista do evento, havendo agora animações despropositadas, desfiles e música em excesso, que não se coaduna com um evento literário. Nos tempos áureos da Feira, quando os livros partilhavam o Jardim Municipal com os leitores, quando quem não ligava aos livros não tinha de ser “forçado” a percorrer a Placa Central, quando era Maria Aurora a grande dinamizadora do evento, apostava-se em trazer grandes nomes da Literatura ao Funchal. Desde o aparecimento no Funchal de um evento literário anual organizado por entidades privadas, que conta com o apoio do Departamento de Cultura da C.M.F., que a Feira do Livro tem passado para segundo plano nas prioridades culturais funchalenses. A Feira não pode ser considerada um complemento, um acessório, e estar dependente de outros eventos literários.António Lobo Antunes: "A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos."(Texto publicado no Diário de Notícias da Madeira, em 18/07/2014)
terça-feira, 19 de agosto de 2014
Feira do Livro do Funchal 2014: uma incógnita
publicado por Miguel Pestana
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