Editora: Alêtheia
Data Publicação: Agosto 2014N.º de Páginas: 140 |
Numa carta endereçada a Mahatma Ghandi datada de 7 de Setembro de 1910, Tolstoi, pressentindo o seu fim iminente, escreve: «À medida que envelheço e agora que sinto tão claramente a aproximação da morte, desejo contar aos demais as coisas que me comovem especialmente.» Inconformado com a vida repleta de conforto e riqueza, o autor russo com 82 anos, decide fugir de casa, para continuar a viver uma vida simples. No dia da sua fuga Tolstoi deixa uma carta à sua fiel esposa, a 28 de Outubro desse ano da sua morte (ele morre a 20 de Novembro), onde diz que a sua convivência em casa tornara-se insuportável, e que era sua intenção «ficar longe da vida mundana e viver em paz e em reclusão nos últimos dias de minha existência.»A fase final — por muitos denominada como a de “conversão” — da vida deste que foi um dos escritores mais marcantes da literatura russa do século XIX, ficou marcada por uma grande crise espiritual. Uma «doença fatal interior» afectou o modo de pensar e de ver o mundo de um homem que, quase a completar cinquenta anos [em 1877, altura em que confessa ter tido um como que "momento de despertar"], era mundialmente reconhecido, tinha construído uma família, tinha riqueza e era respeitado e louvado por estranhos. A priori a felicidade era aquilo, mas porque tinha ele de lutar com o suicídio de tempos em tempos? Com a dita «doença fatal interior» a não dar paz ao homem que desde os dezasseis anos deixara de ir à igreja, tudo ia-se agravando. A crise existencial ganhara um aliado: a sua falta de fé. Em busca de um sentido para a vida Tolstoi relembra o seu passado, onde cometera assassínio (na guerra), mentiras, roubos, «promiscuidade de todos os tipos», etc. Ao dar-se conta de que não havia crime que não tivera cometido antes, e ainda assim era louvado, o autor de O Que é a Arte? encalça numa busca constante de respostas para as suas inquietações (contactando sábios indianos, monges, etc. e confrontando as ideias de filósofos como Sócrates e Shopenhauer). Para atingir uma vida mais feliz e com maior significado o autor deixou-se ficar mais próximo dos seus súbditos e quis captar o sentido que essas pessoas simples e trabalhadoras davam às suas existências. «O propósito do homem na vida é salvar a sua alma», chega a concluir.‘Um Homem em Busca de um Sentido’ podia ser um outro título para Confissão, obra de cariz autobiográfico, escrita em 1882 e apenas publicada na Rússia em 1906, devido à censura eclesiástica. Esta obra escrita na primeira pessoa move-se em várias direcções, mas todas elas convergem num todo. Na extensão destas páginas o leitor segue lado a lado com o autor e consegue sentir toda a sua angústia de viver, sem saber qual nem para que sentido. Este é um livro que potencia a reflexão e que depois de lido, inquieta.Quatro anos depois de terminar este livro Tolstoi escreveu A Morte de Ivan Ilitch, uma obra que tem como protagonista um homem que também procura de um sentido para o pouco tempo que tem de vida.No que se refere à edição da obra propriamente dita, a cargo da Alêtheia, editora que tem vindo a publicar obras intemporais da literatura, há que deixar uma nota de advertência. Vários erros de (falta de ou de má) revisão e de morfologia, para uma obra de 140 páginas não passam despercebidos. São várias as gralhas que se podem anotar numa errata. Uma obra destas merece maior cuidado.Excerto«as pessoas muitas vezes preferem a escuridão à luz, porque as suas acções são más. Pois aquele que age maliciosamente odeia a luz e evita-a para que não ilumine os seus actos. Compreendi que a fim de entender a vida é primeiro necessário que a vida não seja má e desprovida de sentido.» (p. 110)
Sem comentários:
Enviar um comentário