Editora: Planeta Portugal
Data de publicação: 01-10-2019 N.º de páginas: 240 |
São poucos os que nunca se depararam com textos de Martha Medeiros na internet. Algumas frases desta que é uma das mais reconhecidas cronistas brasileiras costumam tornar-se virais nas redes sociais, dado a enorme subtileza e profundidade com que escreve sobre relações humanas, em especial sobre o amor, um assunto recorrente nas suas crónicas.Para assinalar os 25 anos de carreira, no passado mês de Maio foi lançado no Brasil uma antologia que compila as suas melhores crónicas. A edição portuguesa da obra, O Melhor de Martha Medeiros, tem o selo da Planeta e chegou às livrarias no primeiro dia de Outubro.Ao longo deste quarto de século, a autora de Divã (o seu romance mais popular, já adaptado para o cinema) escreveu mais de 2 mil crónicas em jornais como ‘O Globo’ (do Rio de Janeiro) e ‘Zero Hora’ (do Rio Grande do Sul). 100 desses textos foram escolhidos pela própria, tendo como critério os que tiveram mais impacto e celeuma no público; são exemplos ‘A rapariga do carro azul’, ‘O tipo do outro lado da rua’, ‘Levantar voo’, ‘Dois minutos de ontem à noite’, ‘Mulher de um homem só’, ‘A sogra do meu marido’ e o texto que tornou-se viral no mundo inteiro, que se intitula ‘Morre Lentamente’: «Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pontos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeções, sentimentos.» (p. 113)Estas crónicas, das quais 4 são inéditas, não estão ordenadas por ordem de publicação nem por temática. Revelam uma pessoa sensível, arguta, cirúrgica no modo de apresentar as suas ideias e pensamentos sobre assuntos como o namoro, o casamento, a infidelidade, o sexo, a amizade, a solidão, etc.Alguns textos de Martha Medeiros coligidos em O Melhor de Martha Medeiros são difíceis de se ler: às vezes são um murro no estômago, de tão verdadeiros e certeiros; são aquelas frases que os nossos companheiros e amigos não se atrevem a dizer-nos. O pensar de Martha rompe com clichés, ideias estereotipadas. Ela disseca sentimentos e emoções, com os quais as pessoas lidam diariamente, com o seu bisturi: a sua escrita criativa, perspícua, imagética e por vezes mordaz.Salientar que esta compilação foi pensada ser publicada primeiramente em Portugal, como forma de apresentar o trabalho desta consagrada escritora ao público português (apenas um dos seus livros foi publicado em Portugal, em 2006 e encontra-se esgotado). A proximidade do aniversário foi o motivo para que a antologia tivesse sido editada originalmente em terras brasileiras.Excertos«De vez em quando é preciso abrir a nossa caixa-negra, vencendo o medo do que podemos encontrar. Que maduro é aquele que mata as vertigens e os espantos.» (p. 11)«(…) as mesmas coisas que nos revelam também nos escondem (escrever, por exemplo).» (p. 12)
«Qualquer ser humano é um depósito de angústias, carências, traumas e neuras.» (p. 21)«O amor, em si, não é difícil. O amor é fácil. Difíceis somos nós. Somos um simpático sarilho para quem se atreve a entrar na nossa vida e a ficar connosco por mais de dez dias, prazo suficiente para percebermos que a perfeição não existe.» (p. 21)«Que lugar melhor para uma criança, para um idoso, para uma mulher apaixonada, para um adolescente com medo, para um doente, para alguém solitário? (…) tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve.» (pp. 45-46)«Amor é aquele troço sem razão que desarruma a nossa vida. Que melhora a nossa vida. Que piora a nossa vida. Que justifica a nossa vida.» (p. 107)«O tempo não cura tudo. Aliás, o tempo não cura nada, apenas tira o incurável do centro das atenções.» (p. 121)«Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama e, ainda assim, doer.» (p. 124)«Amor não é medicamento. Se está deprimido, histérico ou ansioso de mais, o amor não se aproximará (…). O amor espera que a pessoa esteja feliz para surgir diante dela sem máscaras nem fantasias (…). O amor é o prémio para quem relaxa.» (pp. 135-136)«De todos os que preenchem a nossa solidão, os livros são os mais anárquicos, os mais estimulantes. Leia, e o seu silêncio ganhará voz.» (p. 159)
1 comentário:
Como adoro ler esta frase diz-me muito e concordo em absoluto com ela: «De todos os que preenchem a nossa solidão, os livros são os mais anárquicos, os mais estimulantes. Leia, e o seu silêncio ganhará voz.»
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