Há 50 anos, em Julho de 1963, na Madeira, a primeira biblioteca itinerante foi posta em circulação pelos vales e montanhas de uma ilha em que as estatísticas revelavam índices elevadíssimos de população analfabeta. O objectivo destes veículos, literalmente, de cultura era estimular o gosto pela leitura e elevar o nível cultural das pessoas com menor acesso à educação, através do empréstimo gratuito de livros. Foi um sucesso estrondoso esta ideia frutífera, que no continente tinha arrancado 5 anos antes, do escritor Branquinho da Fonseca, que na época era director da Fundação Calouste Gulbenkian. Na Madeira as bibliotecas “andantes” percorreram muitos quilómetros e falou-se na época numa “revolução cultural” que deu frutos, ou seja, criou hábitos de leitura na população, principalmente nos mais jovens que morando nas periferias das cidades, e sem dinheiro para os meios de transporte para lá chegarem, numa época em que na ilha as deslocações eram morosas e de difícil acessibilidade, não tinham meios de ir ao encontro dos livros. Em 2002 as unidades móveis foram completamente retiradas do activo e o seu acervo pode ser encontrado um pouco distribuídos pelo rol de bibliotecas municipais existentes, fixas, criadas não há muito. Os livros continuam a ser facultados para leitura nestas bibliotecas e com maior concentração de títulos na Biblioteca Pública Regional da Madeira. Não cheguei a ver nenhuma biblioteca itinerante mas pelos recônditos lugares desta ilha, acredito que muitos leitores têm memória do dia em que a biblioteca vinha ter com eles, e eles vestiam-se com aprumo para fazer o câmbio por que tanto aguardavam e que os faria ler com prazer, sem custos.(Texto publicado na secção '5 sentidos', do Diário de Notícias da Madeira, em 15/08/2013)
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
Quando a cultura era itinerante
publicado por Miguel Pestana
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2 comentários:
Que saudades da carrinha da Gulbenkian que vinha à minha aldeia todos os meses! Graças a ela, passei férias deliciosas imersa na leitura!
Graças à biblioteca itinerante pude ler livros durante o ensino primário.. .. De 15 em 15 dias, parava em frente da escola primária para podermos requisitar livros novos! Uma ideia muito boa que acabou por ficar esquecida!!!
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