No adverso está o ganho

A adversidade é uma condição da vida. Todos já lidamos de perto e desde muito cedo com situações que se opuseram no nosso dia-a-dia, de fácil ou de difícil resoluções e sem estarmos confiantes de determos a força para superá-las. Em criança, se nos era negado um rebuçado, podíamos fazer birras, se prometêssemos nos portar bem sabíamos que seríamos recompensados, e por conseguinte o nosso desejo seria concretizado. Com o nosso desenvolvimento e maturidade, ao mesmo tempo com a responsabilidade que ganhamos, todos passamos por situações bem mais adversas e complexas no nosso quotidiano pessoal, familiar, profissional e social. A adversidade está em toda a parte e nunca sabemos quando um evento inesperado nos vai acontecer. Nesses momentos ruins a maioria das pessoas pergunta-se muitas vezes o porquê de serem elas as escolhidas para protagonizarem esse período de infortúnio. Nesse momento o nosso optimismo desfalece e tende-se a gerar emoções e pensamentos negativistas, tóxicos. Tendemos a nos vitimizar e a culpar os outros pelo sucedido. Alguma vez olhamos para a natureza da situação adversa e tentamos entendê-la ou sequer aceitá-la? E se pensarmos nessas vicissitudes como um teste para ganharmos coragem e alterar algum comportamento em nós para que possamos nos tornar num ser humano melhor? Quando aprendermos a aceitar o obstáculo como uma parte natural da nossa aprendizagem (que é ilimitada), começamos a estar mais preparados para as adversidades que possam surgir, ficamos mais fortes e seguros, e impedimos que o pensamento pessimista se instale e se prolongue por dias e meses — muitas vezes criando em nós doenças. Todos nós podemos ser melhor uns para os outros e principalmente bons para nós mesmos. Quantas pessoas têm-se ferido sem se dar conta? É nos momentos de maior adversidade, de crise, que podemos romper com as crenças e fronteiras que impusemos a nós próprios durante uma vida inteira. É esse o momento ideal para mudarmos e aprendermos que é nos períodos de resiliência que mais amadurecemos e mais sábios nos tornamos.

(Texto publicado no Diário de Notícias da Madeira, em 17/06/2014)