Para quem não é livroholic, pode parecer bobagem, papo de gente
metida a cult, conversinha de pseudo-intelectual. Mas não. O caso é
mesmo grave.
O livroholic nem sempre é um tipo que lê muitíssimo ou que lê tudo. O
leituraholic, sim, é um cult. Mas livroholic é um tipo diferente,
porque o fetiche está no objeto, não só no ato.
A casa dos livroholics, obviamente, são facilmente confundidas com
livrarias, bibliotecas ou sebos. Mas a característica principal reside
no fato de que eles nunca leram tudo o que está lá. Porque é humanamente
impossível ter lido tudo aquilo.
Os livroholics sempre têm em casa dezenas de livros que estão “na
fila” para ler. E frequentemente há alguns que eles nem pretendem ler,
mas que têm capas ma-ra-vi-lho-sas ou estavam em promoções
ir-re-sis-tí-veis.
Não tem jeito, eles não conseguem parar com compras alucinadas.
Livroholics procuram não entrar em livrarias porque sabem que vai dar
problema. Mas sempre acabam entrando. E vão ao delírio quando enxergam
mesinhas nas quais se vendem livros usados. As mãos até suam.
E o racicínio é mais ou menos assim:
“Só vou dar uma olhadinha, porque tenho vários livros para ler em
casa. Não posso comprar nada. Mas olha que baratinho esse! Não tem como
não levar, seria uma imbecilidade perder essa chance. Vou levar. Nossa,
olha esse aqui, que coisa incrível. É meio caro, mas realmente, com essa
edição vale muito a pena. É uma ótima compra, vou levar. Gente. Sempre
quis esse livro e ele está com 10% de desconto. Vou ter que levar
também. “
Pronto. Lá vai o livroholic de novo pra casa com a sua sacolinha,
radiante como criança com brinquedo novo. Chega em casa, espalha os
livros na cama e fica olhando, pegando, cheirando. Cheirar livros, não
vamos falar sobre esse assunto.
E frequentemente livroholics se flagram invejando as pessoas que
trabalham em livrarias e bibliotecas. Quase sempre concluem que essas
profissões são muito mais legais do que as suas. Até porque livroholics
simplesmente adoram organizar os próprios livros. Por tema, por autor,
por nacionalidade, por editora.
O livroholic também tem um hábito muito peculiar que é o de dar de
presente para as pessoas mais próximas- namorado, cônjuge, pais, irmãos,
filhos, amigos chegados- livros incríveis. Mas, com um detalhe: quem
quer ler esse livro é o livroholic. Ele compra um tipo de falso presente
para pessoas de quem ele poderá pegar o livro de volta. É uma solução
muito prática (e muito cara de pau): “já resolvo o presente de
aniversário e dou um jeito de comprar o livro que eu queria, mas que
ju-ro-por-deus, que minha mãe também vai amar. “Ahan.
E livroholics têm um outro grave problema. Ciúmes. Livroholics não
são nada bons na arte de emprestar livros. Às vezes, muito às vezes,
eles emprestam. Mas só para pessoas que eles têm quase certeza de que
devolvem (ou pelo menos para pessoas cujas casas eles possam invadir
para resgatar o livro). Mas sofrem muito mesmo assim. Livroholics não
são nada generosos nesse assunto.
Livroholics sempre têm um livro na bolsa, mochila, pasta, banco do
carro. Ou dois. Ou cinco. Ou nove. Os livros dos livroholics conhecem o
mundo, passeiam, andam de metrô, conhecem salas de espera. Os
livroholics escolhem carinhosamente o livro que vão levar antes de sair
de casa. E ficam vaidosos quando percebem que alguém está olhando para o
seu livro.
É quase patológico.
Mas vamos combinar que não poderia haver vício melhor. Ok, Nutella
pode ser melhor, mas livros são mais saudáveis. E, cá entre nós, também
são mais cheirosos.
Livroholics querem controlar melhor suas compras impulsivas. Querem
ser menos egoístas com sua biblioteca particular. Querem programar
melhor suas leituras. Querem ler mais. Mas livroholics nunca querem
deixar de ser livroholics. Há um certo charme no vício. Bom ou ruim, há
um certo orgulho de ser livroholic.
Texto da autoria de Ruth Manus, retirado daqui.
1 comentário:
Tão eu... Assim é cá em casa... E anda sempre um livro comigo, mesmo que não haja vontade ou possibilidade de ler durante as "viagens" durante dias. Mas saber que o livro está ali mesmo, à mão, se fôr preciso, é tão reconfortante!
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