sexta-feira, 18 de maio de 2012

A Vontade de Poder - Nietzsche -- Alfanje Edições (Divulgação)

Título: A vontade de poder
Autor: Friedrich Nietzsche
1ª edição: maio de 2012  
Editor: Alfanje Edições
edição original: 1906
páginas: 511
isbn: 978-989-97271-2-0
preço: 23,00 € 

o autor
Filósofo e filólogo alemão, Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu a 15 de Outubro de 1844, em Röcken bei Lützen, na Prússia, à altura o maior dos estados do Império Alemão, no seio duma família protestante. 
A sua carreira universitária começaria em 1864, na Universidade de Bona, onde enveredou por Teologia e Filologia Clássica, donde pouco depois se mudou para a Universidade de Leipzig para se concentrar nos estudos de Filologia, muito por influência do professor Ritschl.
Tendo travado conhecimento com a obra de Schopenhauer em 1865, e posteriormente com o homem, a sua amizade e influência, tal como a do compositor Richard Wagner, viriam a marcar o desenvolvimento da filosofia e do seu carácter. 
Em 1869, com apenas 24 anos, seria apontado como professor de Filologia Clássica na Universidade de Basel, na Suiça. A cadeira seria brevemente interrompida pelo serviço como enfermeiro na Guerra Franco-Prussiana de 1870. Nesta fase, para além das suas teses filológicas, lançar-se-ia na sua primeira obra de grande fôlego, «O Nascimento da Tragédia». Em 1879 seria forçado a demitir-se, atormentado por uma convalescença nervosa. 
De 1880 até ao seu colapso mental em 1889, e por conselho médico, deambulou por Nice, Sils-Maria, Leipzig, Turim, Genova, Florença, Veneza, Roma, e a sua obra foi favorecida: «A Gaia Ciência»,  «Para Além do Bem e do Mal», «Genealogia da Moral», «Crepúsculo dos Ídolos», «O Anti-Cristo» são produtos desta época. O estilo truculento, o pensamento radical e a vitalidade que dele ressumavam («o espírito vivifica») tornavam escolástico quem quer que se lhe comparasse. O materialismo, o catolicismo, o liberalismo, o pessimismo, a lógica, foram algumas das vítimas das suas considerações intempestivas.
Viria a falecer a 25 de Agosto de 1900, depois dum período duma década de insanidade (ainda bastante controversa quanto às causas) ao cuidado de sua mãe e irmã.
Os seus conceitos de eterno retorno, de vontade de poder, de super-homem, a sua genealogia da filosofia grega e da moral cristã, são hoje amplamente reconhecidos.

 a obra
Esta é a tradução da edição póstuma de 1906, fruto da compilação dos cadernos de Nietzsche por Peter Gast, seu amigo, e editor desde 1876 (uma colaboração que abrangeu portanto vários dos seus livros), sob orientação da irmã, Elizabeth Foster, e segue um dos planos gerais traçados pelo autor.
     Num registo ricto, bruto, exuberante, cruel, cínico, desconstrutivo, míudo, que dá a impressão dum cerrar de fileiras do seu pensamento, embora com as suas orquídeas e sequóias, a sua impetuosidade e o seu crivo não passam incólumes.
     Vemos aqui montada uma análise severa ao (nosso?) niilismo, por um autor que não pretende escapar à sua era, afirmando-se como niilista reactivo, mas igualmente à filosofia e política Grega (Sócrates, Platão, Pirro, Epicuro, os sofistas), Hindu (Código de Manu), Europeia (Espinosa, Adam Smith, Herbert Spencer, Voltaire, Rousseau), Alemã (Goethe, Schopenhauer, Lutero, Kant), e primitiva Cristã (Cristo, Paulo).
     Não o querendo reduzir (até porque tem vários pesos e várias medidas), que exalta? Exuberância, desaforo, privilégio, jovialidade, crueldade, aparência, jogo, êxtase, festins, orgulho, egoísmo, nobreza, cerimónia, vigor, força, actividade, embriaguez, opulência, Vontade de Poder, paganismo, ambição, tirania, desigualdade, imoralidade.
    Que vitupera? Humildade, submissividade, austeridade, indústria, resignação, castidade, castração, altruísmo, desinteresse, objectividade, decadência, vício, pobreza, paz, repouso, democracia, cristianismo, nacionalismo, fatalismo, igualdade, moralidade.
excertos
«O amesquinhamento, a susceptibilidade à dor, a inquietação, a pressa e a confusão aumentam a passos largos — a materialização de todas estas tendências, a que chamam "civilização", torna-se cada vez mais simples, resultando que, face a esta monstruosa máquina, o indivíduo desespera e rende-se.»
 «o homem é o único animal que ri: só ele sofre de maneira tão excruciante que foi compelido a inventar o riso. O animal mais infeliz e melancólico é, como se podia esperar, o mais jovial.»
«Não acreditamos no direito que proceda dum poder que não saiba defendê-lo. Encaramos todos os direitos como conquistas.»
«"para ser alguém é preciso possuir alguma coisa". Este, todavia, é o instinto mais antigo e mais sadio de todos; devo ainda acrescentar: "para sermos melhores temos de desejar mais do que aquilo que temos". Pois esta é a lição que a própria vida prega a todos os seres vivos: a moral do Desenvolvimento. Ter e desejar ter mais, numa palavra, Crescer — é isso a própria vida. »
«O Reino dos Céus é um estado do coração (das crianças se escreve, "pois delas é o Reino dos Céus"): nada tem a ver com coisas extra-terrestres. O Reino dos Céus "chega", não cronologicamente ou historicamente, não num certo dia do calendário; não é algo que aparece um dia e que anteriormente não estava lá; é uma "mudança de sentimento no indivíduo", é algo que pode surgir em qualquer altura e que pode estar ausente em qualquer altura...»
«Aquele que sabe como a fama se origina suspeitará até da fama de que a virtude goza.»
«As nossas mais sagradas convicções, as que nos são perenes quanto aos mais altos valores, são juízos emanados dos nossos músculos. (...)  A intensidade de consciência está na razão inversa da facilidade e velocidade de transmissão cerebral. (...) O génio reside nos instintos; a bondade também. Só agimos perfeitamente quando agimos instintivamente.»
«Modestos, industriosos, benevolentes e temperados: assim queríeis que fossem os homems? — os homens bons? Mas tais homens só posso conceber como escravos, os escravos do futuro.»
«São as nossas necessidades que interpretam o mundo; os nossos instintos e os seus impulsos a favor e contra. Todo o instinto é um género de sede de poder; cada um tem o seu ponto de vista, que de bom grado imporia a todos os outros como norma. »
«Nunca ocorreu a ninguém encarar o seu estômago como um estômago estranho ou divino.»
«O tempo dos reis já passou porque as pessoas já não os merecem. Não querem ver o símbolo do seu ideal num rei, mas apenas um meio para os seus próprios fins.»
«Um velho sábio Chinês outrora disse que quando os impérios poderosos estavam condenados, começavam a ter inúmeras leis.»
«Conforme um povo sinta: "os direitos, a sagacidade, os dotes de liderança, etc., estão com a minoria" ou "com a maioria" — constitui uma comunidade oligárquica ou democrática. A monarquia representa a crença num homem completamente superior — um líder, um salvador, um semi-deus. A aristocracia representa a crença numa minoria selecta — numa casta superior. A democracia representa a descrença em todos os grandes homens e em todas as sociedades de elites: toda a gente é igual a cada qual. "No fundo somos todos rebanho e populaça."»
«O amante ganha de facto um maior valor; fica mais forte. Nos animais esta condição dá origem a novas armas, cores, pigmentos e formas, e acima de tudo novos movimentos, ritmos, novos apelos e seduções. No homem é justamente a mesma coisa. Toda a sua economia é mais rica, mais pujante e mais completa quando está enamorado do que quando não está. O amor torna-se dissipador; é pródigo o suficiente para isso. (...) Há um amor servil que se auto-subordina e se entrega — que idealiza e se ilude; há uma espécie divina de amor que despreza e ama ao mesmo tempo, e que remodela e eleva a coisa que ama.»
«A Natureza é cruel na sua jovialidade; cínica nas suas auroras. Somos hostis às emoções. Fugimos para onde a natureza move os nossos sentidos e imaginação, onde não temos nada que amar, onde não somos lembrados das parecenças morais e delicadezas desta natureza setentrional; (...) O grande bem-estar advém de contemplar a indiferença da Natureza para com o bem e o mal. Nenhuma justiça na história, nenhuma bondade na Natureza.»
«A absurda e desprezível forma de idealismo que preferia que a mediocridade não fosse medíocre, e que em vez de se sentir triunfante por ser excepcional, se indigna com a cobardia, a falsidade, a mesquinhez e a vileza. Não devemos desejar que as coisas sejam diferentes, devemos tornar o fosso ainda mais largo!»
«o instinto do rebanho valoriza a mediania como a coisa mais elevada e preciosa. desta forma é adversário de toda a ordem de castas; toma uma subida do seu nível para as alturas como se duma descida da maioria para a minoria se tratasse. O rebanho encara a excepção (...) como algo antagonista ou perigoso em si. o seu truque na lida com as excepções acima de si, os fortes, os poderosos, os sábios, e os fecundos, é persuadi-los a tornarem-se guardiães, pastores e vigilantes (...) — assim convertem um perigo numa coisa útil.»
«É preciso um homem ser muito ordinário para não sentir a presença dos Cristãos e dos valores Cristãos como opressivos, tão opressivos que lançam todos os humores festivos ao diabo. Pelos festins compreendemos: orgulho, desaforo, exuberância; escárnio de todas as espécies de seriedade e Filistinismo; um divino Sim ao nosso ser, como resultado de plenitude e perfeição física tudo estados a que um Cristão honestamente não pode dizer Sim. Um festim é uma coisa pagã por excelência.»
«Um rapazito são e vigoroso olhar-vos-á com sarcasmo se lhe perguntardes: "Tornar-te-ás virtuoso?" — mas imediatamente ficará em rebuliço se lhe perguntardes: "Tornar-te-ás mais forte do que os teus camaradas?"»
«Não é a satisfação da vontade que é causa de felicidade (...), mas a vontade que está sempre à procura de suplantar aquilo que se lhe arrosta. O sentimento de felicidade reside precisamente no descontentamento da vontade, no facto de que sem adversários e obstáculos nunca está satisfeita. "O homem feliz": um ideal gregário.»
«O prazer surge com o sentimento de poder. A felicidade significa que a consciência de poder e de triunfo começou a prevalecer. O progresso é o fortalecimento do tipo, a habilidade de exercer grande força de vontade: tudo o mais é um mal-entendido e um perigo.»

Outras obras:

2 comentários:

Miguel Pestana disse...

A minha opinião sobre o livro " Bom Senso, O Manual do Ateu", de Holbach:

http://silenciosquefalam.blogspot.pt/2012/01/bom-senso-manual-do-ateu-holbach.html

Anónimo disse...

nietzsche, um grande pensador. Só pode ser um excelente livro