domingo, 5 de agosto de 2012

As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain

Ano de Edição: 2010
Nº de Páginas: 308

Ernest Hemingway (1889-1961), autor laureado com o Nobel de Literatura em 1954, proferiu a afirmação: «Toda a literatura americana moderna deriva de um livro (…)», a propósito desta obra de Mark Twain (1835-1910). Qualquer leitor que leia esta soberba afirmação de tão ilustre escritor, e caso desconheça a obra de Twain, com certeza se sentirá atraído a comprovar essa dantesca crítica. Essa mesma frase vem apensa à sinopse deste livro - uma reedição sob a égide dos 125 anos da primeira edição da obra e, simultaneamente, assinalar o 100.º aniversário da morte do autor. A vasta obra publicada em vida e postumamente, constituída por géneros literários diferentes (ficção, não-ficção, ensaio, peça de teatro, diário de viagem, et ecetera), caracterizam e evidenciam o ser versátil, ecléctico e letrado, do escritor e jornalista, que antes de ser famoso por um dos seus vários pseudónimos, era conhecido por Samuel Langhorne Clemens.
Em As Aventuras de Huckleberry Finn é-nos apresentado Huck, um jovem adolescente. Em apontamento introdutório, o narrador (o próprio Hucklebeerry) informa ao leitor: «Não saberás nada de mim sem ter lido um livro intitulado As Aventuras de Tom Sawyer.» (p.11) Esse livro foi publicado 8 anos antes (em 1976) e tinha também como um dos personagens, o próprio Huck. Tom Sawyer e Huckleberry Finn têm em comum o laço de melhor amizade, é-nos dado a saber logo no início do livro.
Tom Sawyer entra também nestas (novas) aventuras, mas não é,dentre os personagens secundários, o principal. Jim, é o parceiro das viagens que Finn iniciou pelo rio do Mississípi, com o apoio de uma jangada, desde que elaborou um plano astuto para dar a entender a sua morte. Em parte, este plano foi concedido para ele poder se livrar do pai bêbedo e violento, mas não só.
Jim é escravo e fugiu também, em prol de uma liberdade diferente, e por coincidência os seus destinos encontraram-se. Juntos, ao longo da jornada que entrelaçam, a dupla deparar-se-á com inúmeros obstáculos de força humana e material. A coragem e resistência, foram essenciais para que os dois personagens pudessem atingir a liberdade.
Huck ao dar alento ao seu propósito, de iniciar uma caminhada, sozinho, esquecendo todos os seus amigos, em concreto Tom Sawyer, e de não ter pensado nas consequências da sua viagem, nas situações adversas que poderiam surgir, revela-nos um traço da sua ingenuidade. Ingenuidade que não é sinónimo de imaturidade, sublinha-se. Os percalços que a vida lhe impões, foram os grandes estímulos para ele ser mais forte, e só assim o jovem aprendeu lições sobre a vida humana. A solidão foi-lhe fundamental para se sentir livre, seguro e seguir em frente. O pouco tempo em que durou o seu solipsismo, foi-lhe crucial para perceber que o seu “chão” é ele próprio que “pisa”. O próprio autor disse um dia: «A pior solidão é a de não se sentir confortável consigo mesmo.»
As aventuras são, ao fim e ao cabo, compreendidas como uma só. No entanto, são várias, dispersas, com poucos fios de Ariadne que as entrelacem; só há um ponto de visão, a do narrador.
Esta desconexão entre o leitor e a(s) história(s) faz com que seja difícil imaginar os desafios que os personagens estão enfrentando, o que torna difícil sentir agrado pelo que estamos a ler.
Twain dá a entender pela escrita que apresenta neste livro, que escreveu a pensar em si, consoante as suas reminiscências pessoais vividas. Perante a biografia de Mark Twain, temos conhecimento que ele transpôs as suas memórias de infância para esta história. Os locais por onde Huck viajou, também ele próprio trilhou.
Vejamos, a linguagem, mensagem e metáforas várias que este livro possui, são esplêndidas. Está bem escrito. Aqui entramos num ponto concreto. O que tem mais importância numa obra, o criador ou a criatura?
Visto por dentro, individualmente, este livro é desconexo, insulso. Visto por fora, no seu todo, a mensagem é mais concreta e elucidativa. É como irmos a uma exposição de arte, e de perto não entendermos certa obra, não percebermos o que o artista quis transmitir com ela, mas se se afastarmo-nos da obra física, o ponto de visão é outro. A abrangência é mais ampla, i.e., percebemos que o ponto onde nos posicionamos tem uma revelante importância, para o elaborar de uma crítica.
Esta obra terá várias interpretações. Para uns, será um livro complexo. Para outros, menos abrangente, mais vincado como um diário de um jovem aventureiro.
Este livro integra a lista do Plano Nacional de Leitura, e este declara “apto” a ler esta obra, qualquer jovem que frequente já o 6º ano de escolaridade. Duvido da aptidez de todos os jovens, mas assim está estipulado.
Depois de ler O Diário de Adão e Eva, mesmo sendo um livro parco em texto, deixou como imagem de marca o humor refinado, uma escrita vincada, por força de um escritor de punho forte. A essa imagem somo esta nova imagem, esperando futuramente somar e somar, passe a redundância e o eufemismo.

8 comentários:

Rafeiro Perfumado disse...

Fosse eu capaz de corar e estaria vermelho que nem o rabo de um babuíno, pois nunca li esta obra.

Miguel Pestana disse...

Vais sempre a tempo, Rafeiro.
E aproveita, pois este livro está a metade do preço no site da editora.

Teté disse...

Li Tom Sawyer e este de Huckleberry Finn há muitos, muitos anos, de modo que só tenho uma recordação vaga. Lembro-me que gostei de ambos, mas mais do primeiro! Talvez esteja na altura de os reler... :)

§ - Não gosto de reler livros, com tantos títulos que há ainda para ler, mas abro algumas exceções para estes que gostei muito na adolescência... :D

Miguel Pestana disse...

Toda a gente já leu estes livros "há muito tempo". A Helena F. - através do FB do blogue - disse que leu-o e releu-o tantas vezes, que tinha sido uma óptima companhia na infância dela; não-sei-mais-quem leu e marcou profundamente este As aventuras de Huckleberry,...

Sinto-me o último, dos últimos...he he

helena braga disse...

q saudades!!!

Angelina Violante disse...

Tenho este livro cá por casa mas ainda não o li, mas assim que o vi aqui lembrei-me logo dos desenhos animados que davam do Tom Sawyer, bons tempos.

DanielaMP disse...

Li o Tom Sawyer (do qual sou grande fã :D Adoro os desenhos animados!) mas este ainda não!
Tenho de arranjar uma maneira de o ler o mais rapidamente possível!!!

Unknown disse...

"A pior solidão é a de não se sentir confortável consigo mesmo"😻🙀