segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A Vida das Abelhas, de Maurice Maeterlinck

Editora: Padrões Culturais
Ano de Publicação: 2012
Nº de Páginas: 176


O nome e a obra de Maurice Maeterlinck (1862-1949) são conhecidos de uma minoria de devotos da literatura. Pelo menos desde 1961 que nenhum livro deste autor laureado com o 11º Nobel de Literatura (em 1911) é editado em Portugal. A sua obra publicada dispersa-se entre alfarrabistas, bibliotecas públicas e privadas. No panorama editorial actual, a presente obra vem colmatar uma lacuna em relacção à pouca dinamização da extensa obra do autor - nome cimeiro da literatura simbolista. Este título vem pôr término ao hiato de mais de meio século, desde a 11ª e última edição da Clássica Editora, de A Vida das Abelhas (conforme dados da Biblioteca Nacional de Portugal).
O dramaturgo, ensaísta e poeta nascido na Bélgica conheceu a paixão e respeito pelas abelhas ainda na sua adolescência, tendo como passatempo observar com vagar e com todos os sentidos despertos, todo o conjunto de magnificências que a Mãe Natureza o proporcionava (seguindo o modus vivendi de naturalistas como Thoreau ou Whitman) e «ouvir tudo o que estava para lá da vida.» Portanto, desde muito cedo a sua curiosidade pelos fenómenos da vida e do espírito era evidente.
Logo nas primeiras páginas deste ensaio Maeterlinck alerta aos leitores, não afirmar «coisa nenhuma» que ele próprio não tenha verificado [a respeito dos insectos dos méis]. Não obstante o citado, o autor bebe de outras fontes, de cientistas e físicos como Huber, Swamerdam, Réaumur.
A estrutura do texto que compõe este livro, rege-se em torno do ciclo de vida das abelhas, e para tal, o livro divide-se por sete partes.
O mundo das abelhas é meticulosamente desvendado, fruto da visão e dos escritos do autor sobre: os comportamentos; os instintos; os sons manifestadores de sentimentos como felicidade, cólera, ameaça, angústia, solidão.
Estes pequenos insectos que gostam de flores, muito têm de secreto e místico. A este misticismo, Maeterlinck acrescenta a tensão, legando-a ao leitor, através de dicotomias, afirmando e questionando os porquês da existência, da alma, do material e do espiritual, do visível e do invisível.
Do mesmo olhar pormenorizado que vê mais além do visível, o naturalista veste a sua escrita com o mais ínfimo detalhe e através de palavras, descreve tudo o que no silêncio ouve, observa, sente. A sua escrita surge como a necessidade que um pintor tem em preencher uma tela em branco. O estilo a que se sorve é poético, muito bem urdido, mas ao mesmo tempo enredador.
O leitor leigo em apicultura, ou que nunca tenha demonstrado curiosidade em se informar sobre a vida das abelhas, pode a priori, mostrar completo desinteresse no assunto. Não é um livro técnico e experimentar ler as primeiras páginas é mais do que convincente para não o largarmos de vista.
O autor descreve em dezoito páginas exclusivas (pp. 115-133) o voo nupcial da abelha rainha, onde esta personagem central e mais importante da colmeia liberta em pleno voo um feromônio sexual, captando assim a atenção dos zangões. Apenas o amante mais resistente e forte poderá acoplar com a abelha “matriarca”, nesse que será o único voo realizado em formosos céus, pela rainha. Assim dá-se a fecundação do insecto laborioso, disciplinado, místico, conhecido há mais de 40.000 anos e de que o Nobel da Física 1921, A. Einsten, em tom presciente referiu: «Quando as abelhas desaparecerem da face da terra, o homem terá apenas 4 anos no planeta.»
A par desta obra sobre as abelhas, Maeterlinck (um homem que trocou a sua profissão de advogado pela da de escritor e tradutor (fez a tradução para o francês de Macbeth, de W. Shakespeare, por exemplo) publicou muitas outras obras, destacando-se os ensaios científicos e filosóficos sobre as flores (A Inteligência das Flores, Clássica Editora, 1916) e sobre as formigas (A Vida das Formigas, Clássica Editora, 1933)
Esta edição revista mantém o prefácio do tradutor Cândido de Figueiredo (1846-1925), que nos revela a magnitude e dificuldade com que se deparou com o texto desta obra, primeiro livro surgido de Maeterlinck, no país, em 1915; país que Maeterlinck visitou por duas vezes (em 1935 e em 1939), tendo sido agraciado pelo presidente Carmona, inclusive.
Nota: 5 de 5.
(Versão ampliada do texto publicado na edição de Outubro da revista Madeira Digital.)
 

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