sábado, 15 de fevereiro de 2014

O essencial e o trivial

A correria dos tempos modernos

Na sabedoria oriental insiste-se muito na necessidade de aprender a estarmos mais atentos a nós mesmos, para desse modo podermos ser mais cônscios e arbitrários do nosso ser e acções, e dotados de uma visão realista das utopias que camuflam o mundo. A única capacidade que ao se ser espiritual é concedida, é a capacidade para transformar não o mundo nem os outros, mas a si próprio. O frenesim do quotidiano, as exigências profissionais, a doença, os desafios a que nos propomos, os impostos que nunca estão em dia, a instabilidade no país e no mundo que os ‘mass media’ tendem em sublinhar, os medos que nos aprisionam, a incerteza sobre o futuro próspero, e todo um sem número de tópicos podem afectar-nos o equilíbrio emocional. Ao ficarmos excessivamente focados no que acontece negativamente ao nosso redor, tendemos a perder o contacto com o nosso eu interior, e assim, gradualmente, desligamo-nos de nós mesmos. Inconscientemente, as nossas emoções tomam um caminho quase automático, qual efeito espelho. Poderemos ver bem expresso num dos filmes com mais nomeações para a edição deste ano dos Óscares, ‘O Lobo de Wall Street’, um dos mais impressionantes testemunhos cinematográficos do ritmo vertiginoso a que chegou a vida na sociedade contemporânea (um filme que recomendo). Por outro lado há pessoas que não querem podem resolver os seus próprios conflitos e, todavia, querem resolver os problemas dos outros. Ao adiarmos a resolução primeiro dos nossos problemas, e preocupar-nos com os dos outros, formamos, inconscientemente, um escudo acutilante autoprotector. Só quando o ser humano aprender a encarar as vicissitudes, os revezes da vida, como desafios e oportunidades que lhe ajudá-lo-ão a crescer, ele poderá sentir-se grato por essas tempestades ter enfrentado. Não vale a pena praticar ioga, meditação, ou fazer trabalho de voluntariado numa qualquer instituição se não respeita nem a si nem o outro, se é verbalmente violento e desagradável, se utiliza a sua autoridade para derrubar os seus súbditos, se fala mais do que escuta, ou se critica e se se sente ofendido com as admoestações que os outros lhe dirigem. “Eles insultam-me, mas eu não recebo o insulto” — Buda. Para experimentar a paz interior é fundamental não congestionar a sua vida com pensamentos triviais e que em nada lhe engrandecem o seu ser. Estes valores não se aprendem nas universidades: a bondade, o altruísmo, a compaixão. São conceitos que não se aprendem fora, mas dentro de cada um, é um percurso que só a cada um cabe trilhar.

(Texto publicado no Diário de Notícias da Madeira, em 15/02/2014)
 

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