segunda-feira, 11 de julho de 2016

«As Altas Montanhas de Portugal», de Yann Martel

Editora: Presença
Data de publicação: 21/04/2016
N.º de páginas: 272

Após o grande sucesso à escala mundial que o filme A Vida de Pi (2012) obteve, era com grande expectativa que os leitores aguardavam a publicação de um novo livro de Yann Martel (n. 1963), o autor do livro publicado em 2001 que deu origem ao filme.
The High Mountains of Portugal, assim intitula-se o romance tão esperado do escritor canadiano, que a Editorial Presença traduziu para português (trabalho a cargo de Isabel Nunes e Helena Sobral). Até saber o desenlace da história, o leitor tem três sub-histórias, que interligam-se, para absorver: uma passa-se em 1904, a seguinte em 1939, e a terceira na era actual.
Lisboa. Tomás trabalha no Museu Nacional de Arte Antiga, onde é assistente do conservador. É lá que este homem que acaba de perder a mulher e o filho, encontra um diário de viagem abandonado, datado do século XVII, escrito por um padre em São Tomé, no golfo da Guiné. Ele começa a ler o pergaminho e a se interessar pelo conteúdo que o faz deslocar, através de um dos primeiros automóveis a surgir em Portugal, até uma igreja no norte do país. Este homem amargurado, pensa estar no limiar de uma grande descoberta, que tem epicentro na aldeia de Tuizelo.
Trás-os-Montes. Eusébio Lozora é médico-legista e um leitor voraz dos policiais de Agatha Christie. Num dia, chega uma mulher de surpresa à sala de autópsias onde o doutor trabalha, e pede para ele examinar o cadáver do marido que falecera no dia anterior, mas com ela a presenciar toda a minuciosa necrópsia.
Canadá. Um senador, depois de a mulher morrer, parte para Portugal para viver durante uns tempos, e traz com ele uma companhia inusitada: um chimpanzé. Ao se alojar numa aldeia nortenha, todas as atenções se centram no símio. Que poderá este homem, em fase de luto, aprender com Odo? «Mais do que as pessoas comuns possam pensar. Os chimpanzés são os nossos parentes mais próximos em termos de evolução. Partilhamos um antepassado comum.» (p. 186)
Mais uma vez, Yann Martel transmite na ficção o seu fascínio por animais exóticos, colocando-os em situações de proximidade com os humanos. Se em A Vida de Pi é um tigre, neste romance é um chimpanzé o co-protagonista da história. Além de na ficção eles serem personagens, estes animais selvagens podem representar mais do que isso; são símbolos que transpõem o real e entram no mundo da imaginação de cada leitor.
Em As Altas Montanhas de Portugal o real e absurdo se misturam e criam um mistifório de emoções, dado a obra estar dividada em três narrativas que variam muito em tom e qualidade. As primeiras páginas do livro cativam pouco, a escrita é um pouco repetitiva em duas passagens fulcrais do livro: a viagem de automóvel que o primeiro protagonista realiza, e a dissecação do moribundo da terceira história (parte da obra que é mais profunda e contemplativa).
As Altas Montanhas de Portugal é um daqueles romances que precisamos de tempo para absorver e compreender cada particularidade da sua mensagem.

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