Editora: Gradiva
Ano de Publicação: 2012
Nº de Páginas: 324
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O novo romance, o décimo segundo do autor ganhador, por duas vezes, do prestigiado Man Booker Prize tem como objecto central da história um autómato. Narrado em dois tempos (séc. XIX e séc. XXI) e nas vozes de Catherine Gehrig, uma conservadora da área de relojoaria no (simulado) Museu Swinburne, em Londres, e de Henry Bradling, um inglês pai de um filho enfermo com tuberculose, que para atenuar a dor, tanto da esposa – que ainda chora pela perda de outro filho vitimado pela tuberculose - como a do pequeno Carl, viaja até à Alemanha para mandar construir um autómato em forma de pato. A história inicia-se quando Catherine fica a saber que o seu colega e amante há treze anos acaba de morrer, vítima de ataque cardíaco. O seu luto é iniciado mesmo ela não ter estado no funeral de Matthew, que deixa uma esposa e dois filhos. O seu consolo, agora que está sozinha, é a solidão, a bebida alcoólica e as lembranças dos momentos que passou com o amante. Para ela a felicidade é coisa do passado. Eric, o seu responsável superior, que sempre soube da relação dos dois, sabendo que Catherine está numa fase menos produtiva, escolhe-a para reconstruir um autómato criado no século XIX, que há muito estava nos confins do museu à espera que algum técnico o «reconstruisse». Junto com as tralhas do objecto em peças estão vários diários escritos pelo homem que mandou construir o robot. Catherine se apodera - mesmo que isto inclua roubar - desses manuscritos e o que lê neles faz sentir-se acompanhada, nos seus sentimentos vigentes. Se há mais de 150 anos a desolação, frustração e infelicidade existiam, e por tal foi concebido um objecto que funcionou como força motriz para os sorrisos de uma criança, agora pertence a ela «dar a volta» e expor no museu o autómato renovado em folha, ou melhor, em prata. Imbuída a satisfazer as ordens do chefe, a relojoeira contará com o apoio precioso da estagiária Amanda, que a irá muitas vezes enfurecer mas também se regozijar com o trabalho final do objecto, que de pato, se transforma em cisne. Em cada uma das duas histórias, distanciadas no tempo, existe um herói: Catherine e Henry. Os dois dão um significado diferente às vicissitudes menos boas da vida, que aconteceram a ambos. A vida e a morte não andarão sempre juntas? Uma das perguntas que este romance nos põe a formular é se a dor não actuará como um processo de cura? A Química das Lágrimas foca-se precisamente na química dos sentimentos que nutrimos pelos nossos entes queridos e no quanto estamos dispostos a fazer por eles. O epílogo deste livro de Peter Carey quase que é inexistente. O leitor, quiçá, não busca um final para dar por concluído o romance e sua ilação.
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