O best-seller do escritor Yann Martel A Vida de Pi, publicado em 2001, valeu-lhe o Man Booker Prize de 2002 – um dos mais prestigiados prémios de literatura. Poucos são os leitores que desconhecem o título do livro ou a história que nele é contada. Conta-se que até Barack Obama já elogiou o livro publicamente - qual o escritor que precisa de melhor divulgação do que esta?
Quem leu sabe que, a priori, parece quase impossível transportar a história do livro para o ecran, isto porque a acção, talvez em 90%, decorre em pleno mar do Pacífico.
A verdade é que o realizador Ang Lee, que também adaptou para o cinema o romance O Segredo de Brokeback Mountain em 2005, não encontrou nenhuma imposição logística e levou adiante a produção deste filme. O resultado do seu trabalho poderá valer-lhe receber 11 estatuetas douradas, o número das indicações aos Oscar deste ano. Alguns aspectos por que acho devidamente justo a Academia ter apontado o foco para este filme são as que em seguida nomeio (não vou abordar o enredo, pois este podem conhecer na minha recensão sobre o livro).
As filmagens iniciais decorridas em Pondicherry, na Índia, são reveladoras da cultura e religiões autóctones e reflectem um realismo absoluto. Todo o trabalho brilhante de fotografia, edição, montagem em 3D, etc. Não obstante, é detectável muitas vezes a «artificialidade» que estas tecnologias utilizadas em computador produzem. Suraj Sharma foi o actor que interpretou o jovem Pi na sua «jornada» física e, principalmente, espiritual. Muitas cenas são de monólogo, que transparecem emoções díspares, desde a solidão à extrema alegria. Embora bem conseguidas, não chegam a ser brilhantes. Aliais, a parte onde falha um pouco, este filme, é na categoria de representação – e isso é notado nas não indicações ao Oscar de melhores actores.
Em suma, o filme é primoroso, é egrégio pela soma de simbolismos espirituais, filosóficos, que podemos encontrar. O surreal, o utópico, conjuga-se em medida perfeita com o real. Quatro estrelas de nota.
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