sexta-feira, 7 de junho de 2013

«As Esganadas», de Jô Soares

Editora: Presença
Ano de Publicação: 2013
Nº de Páginas: 216
Este livro, As Esganadas (que na altura deste texto já vai na sua 2ª edição, em menos de 3 meses da sua publicação pela Presença), faz uma homenagem à cultura portuguesa. Referências às ilhas dos Açores e da Madeira ou personagens que entram na história como Fernando Pessoa, Manoel de Oliveira e Vasco Santana são a prova disso. A história, basicamente, tem os seguintes contornos: 1938, Rio de Janeiro, uma série de crimes brutais envolvendo mulheres gordas (gorda é a palavra que Jô Soares utiliza e que faz questão de não substituir por qualquer outro sinónimo ou eufemismo), só gordas, que comeram doces portugueses, só portugueses, assola a população brasileira, principalmente as mulheres obesas. Um homem obcecado pela figura materna continua matando todos os alvos semelhantes à sua progenitora, que encontra pelo caminho. O serial killer é dado a conhecer ao leitor desde o início da narração: Caronte, dono da funerária ‘Estige’, a mais concorrida do Rio. A fixação amor-ódio pela própria mãe leva a que Caronte engendra minuciosamente armadilhas, como forma de vingança, de escape, pelas acções que a sua mãe cometeu contra ele, durante a sua infância. Os assassinatos são uma forma de extravasão — um complexo exemplo do designado Complexo de Édipo. «Caronte percebe que jamais se livrará da mãe, a não ser que a mate sempre, sempre» — lê-se na página 21.
A trama concentra-se no suspense da busca pelo chacinador de obesas, por parte de um grupo perito nestes casos, da polícia brasileira, constituído por um delegado rabugento, um auxiliar medroso e de um ex-inspetor português. Para compor o grupo de investigação terão como ajuda a repórter fotográfica Diana, uma mulher exuberante, excessivamente atractiva… Este é o foco deste novo romance policial do comediante brasileiro.
Em As Esganadas são vários os panos de fundo que adornam a narrativa. São demais, digo. São personagens demais, são piadas demais, são referências demais (embora críveis e reveladoras da erudição de Jô Soares). Em pouco mais de 200 páginas de romance, não deveria caber tantas referências históricas e literárias, por vezes, quase sempre, despropositadas ao fio condutor narrativo (por exemplo, os capítulos 15, 16, 17 e 23 são desnecessários, não acrescentam nada à história. Abordar futebol é um dos erros do autor, neste romance). Assim, confunde-se se Jô pretende exibicionismo ou apenas partilha o seu saber.
Este livro apresenta, entre páginas, desenhos humorísticos de dois ilustradores, que descrevem em imagens alguns pormenores da trama. É um pró de As Esganadas, que difere e que pouco se encontra em policiais.
Sumando: este romance tem os ingredientes necessários para ser um romance original, todavia perde com os excessos/sobredosagem. Cabe ao leitor separar o  trigo do joio.
Uma ressalva: agradeço ao autor por apresentar no livro a referência a Síndrome de Nagali ou Naegeli Syndrom. Fiquei a conhecer que os portadores da síndrome não têm, nem nunca terão, impressões digitais. Mas esta informação não é mais uma futilidade para a narrativa…

Três citações:
«Dentro de cada mulher gorda há uma mulher magra suplicando para sair» (p. 78)
«Ser gordo ou se achar gordo são duas coisas diferentes» (p. 90)
«O senhor não é gordo, é só um pouco baixo pro seu peso» (p. 90)

4 comentários:

João Mira disse...

estou curioso para ler este livro

Paula disse...

Um livro que estou ansiosa por ler :)

Norma Gondar disse...

Já li, foi uma leitura divertida...

Vasco disse...

Tenho alguma curiosidade