sábado, 1 de fevereiro de 2025

Os livros de ficção que em Fevereiro a Dom Quixote vai publicar

Além de obras de autores lusófonos, nomeadamente de Fernando Pinto do Amaral (Contos Suicidas), Luísa Sobral (Nem Todas as Árvores Morrem de Pé), Manuel Alberto Valente (Poesia, Substantivo Feminino) e Carlos Reis (Diálogos com Lídia Jorge), este mês a Dom Quixote apresenta aos leitores literatura traduzida, de Itália, Reino Unido, Estados Unidos, Espanha, Venezuela e Coreia do Sul.


Lá em Baixo no Vale
, de Paolo Cognetti
Um pai plantou duas árvores defronte da casa, uma para cada filho. A primeira, um larício, é Luigi, duro e frágil, que em trinte e sete anos nunca saiu do vale.
Ele e Betta apaixonaram-se ao tomarem banho nas poças do rio, entre as bétulas brancas: agora isso já não sucede tão amiúde, mas esperam uma menina.
Sente-se no ar o perfume de um novo começo. Ele acaba de aceitar um trabalho de guarda-florestal; ela vem da cidade e lê Karen Blixen.
A outra árvore é um abeto: Alfredo é o filho mais novo, sombrio e resistente ao gelo, irrequieto e brigão. Para não arranjar mais sarilhos optou por fugir para longe, para o Canadá, entre os índios e os poços de petróleo. Mas agora voltou.
Alfredo e Luigi só têm duas coisas em comum. A primeira está nos copos: beber sem parar durante dias, cair adormecidos e recomeçar na manhã seguinte, um branco, uma cerveja, um whisky e a seguir outra rodada ainda, beber ao balcão onde se aposta se o animal que mata os cães ao longo das margens será um lobo, um cão enlouquecido ou quem sabe o quê. Além do álcool, porém, há a casa diante daquelas duas árvores.
Agora que o pai se foi, Alfredo volta ao vale para se libertar dos laços remanescentes: ele não sabe, mas aquele casebre poderá, de um dia para outro, valer uma fortuna.
Num ritmo rápido e com a linguagem tersa dos grandes autores, Paolo Cognetti escreveu o seu Nebraska.



A Escolha de Karla
, de Nick Harkaway
Corre a primavera de 1963 e George Smiley deixou o Circus.
Com os destroços da guerra de espionagem do Ocidente contra os soviéticos espalhados por toda a Europa, Smiley está apenas concentrado numa vida mais tranquila. E, efetivamente, com o casamento mais estável do que nunca, correm rumores em Whitehall – não confirmados e algo escandalosos – de que é capaz de estar quase feliz.
Mas o Controlo tem outros planos. Um agente russo desertou nas circunstâncias mais invulgares e o homem que o mandaram matar em Londres está desaparecido.
Smiley aceita com relutância desempenhar uma única e simples tarefa, a de entrevistar Susanna, uma imigrante húngara empregada do homem desaparecido, e farejar uma pista. Mas, na sua ausência, as sombras de Moscovo foram-se alongando.
Smiley não tardará a ver-se embrenhado num perigoso mistério que definirá as batalhas futuras e atingirá o coração do seu maior inimigo...



Mesa para Dois
, de Amor Towles
Seis contos e uma novela de um dos mais conceituados escritores norte-americanos da actualidade.
É com Pushkin que começa este livro – não o famoso escritor, mas antes um camponês, também ele “uma espécie de poeta”, que por amor à mulher (uma deslumbrada comunista) se muda para Moscovo em 1918.
Na grande metrópole, descobre os limites da revolução proletária (é despedido num ápice) e o rosto da nova Rússia: falta tudo, o pão, o leite, os medicamentos…
Sem desanimar, encontra um novo afazer, guardar lugar nas filas. E é graças ao seu talento que, após várias peripécias, acaba por partir para Nova Iorque no fim de 1929.
Nada é inocente na escrita de Amor Towles. O facto de a primeira história começar na Rússia e acabar nos Estados Unidos estabelece a ponte entre este livro e os dois primeiros romances do autor: As Regras da Cortesia (Nova Iorque, anos 30) e Um Gentleman em Moscovo (que arranca no despontar da União Soviética).
Estabelece ainda outro paralelo. As cinco histórias que se seguem, embora ambientadas em Manhattan, são herdeiras de Gogol, Tchékov ou até Pushkin, eivadas pela mesma deriva moral, pelo existencialismo, a duplicidade, o vício, o amor ao belo.
É também este universo que o autor transporta para o breve romance que encerra este livro: Eve em Hollywood. Aqui, Amor Towles recupera uma das suas grandes criações, Evelyn Ross, que perdêramos de vista em As Regras da Cortesia.
A personagem, de estonteante beleza, rasgada por uma profunda cicatriz, reaparece agora em Los Angeles, em 1938. E com ela redescobrimos o noir americano, pisamos o terreno antes trilhado por Chandler – não na pista de um crime, mas como investigadores dos profundos recessos da alma humana.



A Praça do Diamante
, de Mercè Rodoreda
O peso da tragédia que, nos anos negros da guerra civil, devastou a Catalunha, surge-nos como elemento fulcral e angustiante nesta extraordinária narrativa da vida de uma operária de Barcelona, figura humilde de mulher que, a pouco e pouco, vai adquirindo um valor de encarnação de toda a humanidade anónima, fraca e martirizada.
A própria autora afirma que A Praça do Diamante é sobretudo um romance de amor. A ação não poderia, aliás, ser mais simples e, em simultâneo, mais comovedora.
A trama de peripécias miúdas, que tecem o destino de uma mulher comum, e a forma admirável como se harmonizam a singeleza dos factos com a descrição elegíaca de um mundo perdido, de um modo de viver, do palpitar de uma comunidade, são de uma beleza rara, só possível numa obra-prima de dimensão universal como esta.
A testemunhar o acolhimento unânime do público e da crítica, Diana Athill escreveu, comentando a edição inglesa deste livro marcante: «É o melhor romance publicado em Espanha de há muitos anos para cá.» E Michel Cournot, a concluir o seu artigo no Le Nouvel Observateur sobre a edição francesa deste romance, salienta: «Temos a sensação de que uma pequena operária de Barcelona tomou a palavra para defender toda a esperança, a liberdade e a coragem.»



Simpatia
, de Rodrigo Blanco Calderón
Primeiro romance publicado em Portugal do escritor venezuelano, que estará na Póvoa de Varzim, de 15 a 22 de Fevereiro, para participar no Festival Literário Correntes d’Escritas.Ulises mora em Caracas no apartamento da mulher e dá aulas num workshop de cinema, mas tem cada vez menos alunos.
Paulina – que nunca quis filhos e tampouco lhe permitiu ter um cão – decidiu ir-se embora do país… e não o levar.
Mas, quando tudo começava a desmoronar-se na vida de Ulises, Nadine, uma paixão antiga, regressa à Venezuela; e, por outro lado, o sogro – o General Martín Ayala, que em tempos foi próximo de Hugo Chávez – deixa-lhe em testamento o enorme casarão da família, sabendo que só Ulises será capaz de pôr de pé nesse edifício uma fundação que acolha, trate, alimente e, se necessário, dê até sepultura a todos os cães abandonados de Caracas.
A Paulina e ao irmão gémeo, curiosamente, não deixa nada…
Entre as intrigas terríveis de Paulina e os lençóis da enigmática e volátil Nadine, Ulises será o cão vadio que recebe os restos da simpatia dos demais.
Com um refinado sentido de humor e uma mestria narrativa difícil de encontrar, Rodrigo Blanco Calderón oferece-nos um romance magistral, tragicómico e grotesco sobre cães, amor, cinema, herança e identidade – e reflete de forma bastante irreverente sobre o chavismo e as míticas figuras do Libertador Simon Bolívar e… do seu cão.

Lê a sinopse de Amor na Grande Cidade, de Sang Young Park, aqui.

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