terça-feira, 8 de novembro de 2011

A Tia Júlia e o Escrevedor - Mario Vargas Llosa

Editora: Dom Quixote
Nº de páginas: 376
Ano de publicação: 2010

[Dando continuidade à leitura de autores Nobel, depois de Todos os Nomes de Saramago – Nobel 1998, Gatos e mais gatos de Doris Lessing – Nobel 2007 e Desgraça de M.J.Coetzee – Nobel 2003, agora e dando fecho a este “ciclo” de leitura de escritores galardoados, A Tia Júlia e o Escrevedor de Mario Vargas Llosa – Nobel 2010.]     

Publicado pela primeira vez em 1977, A Tia Julia e o Escrevedor é um romance-novela semi-autobiográfico, (não sabendo-se até que ponto a realidade transborda a ficção), que retrata sócio-culturalmente a América do Sul, mais concretamente o Peru.
A novela conta a história do jovem Mário, o próprio autor, que idealiza ser um escritor. Este, aos dezassete anos trabalha numa emissora de rádio, onde conhece Pedro Camacho, um excêntrico escrevedor de radionovelas, que desperta em Mário uma certa admiração.
Como enredo principal temos o enamoramento de Mário pela tia Júlia, parentesco por afinidade, que é divorciada e catorze anos mais velha que ele. O jovem irá enfrentar com intrepidez os pais, tios e avós, que vêm com olhos preconceituosos e tradicionalistas, este seu relacionamento com a tia. Não obstante e para calar as vozes, casa-se com ela, se bem que por depois de muitas reviravoltas.
A Tia Júlia e o Escrevedor está dividido em capítulos intercalados entre o romance de Mário e Júlia e os folhetins do escrevedor Paulo Camacho.
Nesta obra a linguagem utilizada por Vargas Llosa é rica em palavras de significados não acessíveis ao leitor menos provido de conhecimentos, tornando-se um livro de leitura não fácil.

Como ponto fraco temos os capítulos que descrevem as história novelescas do escrevedor, que embora sejam todas de interesse, estas são baralhadas entre si, com os personagens de uma novela serem mencionados noutra, promovendo o caos de enredos. Claro, esta desordem é provocada pelo autor intencionalmente, fazendo assim o leitor testemunhar na pele, a confusão mental com que os ouvintes da rádio também sentem, devido ao desfasamento dos textos radiofónicos..

O livro explora também e tão bem o universo entre ficção e realidade,  misturando este dois mundos, sem nunca o autor se descair ao identificar-se e falar na primeira pessoa.

Não é um livro, pelo menos no seu todo, em que todo o tipo de leitor se identifique. É um livro escrito com punho contundente. Sendo parte do livro, designado de novela, estilo literário pouco vulgar, esta cria uma objecção/ barreira que quebra o avanço à mesma velocidade de leitura até o término do livro.

Embora emparelhado textualmente e por vezes confuso, este livro é um exemplo de inteligência literária. Não obstante um autor a revisitar.

6 comentários:

Teté disse...

Li e gostei muito! A confusão, está claro, deve-se à que vai no cérebro do escrevedor, que escreve uma série de enredos de radionovelas em simultâneo - até se perceber essa dualidade entre o real e o que sai da máquina de escrever, o leitor ficara um pouco à nora. Mas a partir do momento em que isso se percebe, depois a leitura não é complicada... :)))

Este já li depois de ele ter ganho o Nobel, mas anteriormente tinha lido "Travessuras da Menina Má" que, sendo completamente diferente, também gostei! Se apanhar por aí outros livros de Llosa, leio novamente, com prazer! :D

NLivros disse...

Olá Miguel!

Antes de mais, obrigado pelos teus simpáticos comentários.

Acerca deste livro, já o li e não gostei! Aliás, não consigo gostar de Vargas Llosa. Li este e um outro (não me recordo agora do título) e não gostei de ambos.

Abraço!

José Santos disse...

Li 'A tia Júlia...' há muitos anos (15, 20??) e lembro-me que gostei. Gostei da história e dos outros pequenos contos que nela se entrelaçam!!

Tiago M. Franco disse...

Miguel,

Não posso estar mais em desacordo com a opinião sobre este livro.
Quanto a mim o que transforma esta obra numa obra de excepção é a troca de personagens nas novelas de Pedro Camacho.
Para lhe dar um exemplo, reparou que o nome do juiz, pessoa totalmente insuspeita é aquele que viola numa outra novela uma criança? Quem não se lembra do processo Casa Pia...

Miguel Pestana disse...

Tiago, ainda bem que os livros também provocam entre os leitores, díspares pontos de vista.

Anónimo disse...

Pois Miguel, eu também não apreciei muito este livro do autor, nem nunca mais quero ler outra obra dele.
Quando não se gosta, não se gosta!