terça-feira, 28 de maio de 2019

«Hotel Silêncio», de Audur Ava Ólafsdóttir

Editora: Quetzal
Data de publicação: 18/04/2019
N.º de páginas: 200
Jónas Ebeneser tem 48 anos e desde que se divorciou vive sozinho numas águas-furtadas. Este homem sensível e silencioso, que tem a mania de consertar tudo o que lhe aparece à frente, sempre esteve rodeado por mulheres: a mãe, a ex-mulher e a filha. Mas agora, para o apoiar nesta difícil fase da sua vida, em que se sente desamparado, só pode contar com Gudrún Nenúfar, a filha.
Ao começar a questionar o sentido que a sua vida tem, agora, ele não encontra nenhum propósito para continuar a viver. Assim, com um objectivo bem delineado, este islandês decide planejar metodicamente como passar os seus derradeiros últimos dias. Comprada a passagem, só de ida, para um dos países mais perigosos do mundo, Jónas vê concretizado o primeiro passo do seu plano suicida.
Quando chega ao hotel que reservou, na bagagem traz apenas uma muda de roupa e um berbequim — esta ferramenta, calculou Jónas, serviria apenas para um fim: o seu.
Ao conhecer a história devastadora e traumatizante por que passaram os dois jovens irmãos que estão a gerir o decadente Hotel Silêncio, o protagonista desta história sopesa, de forma tácita e inconsciente, as suas cicatrizes físicas e psicológicas com as deles. Num estado flutuante, entre se atirar para o abismo ou se agarrar à vida, deambulará Jónas (em islandês significa “pomba da paz”) Ebeneser (“aquele que se faz útil”).
Conseguirá este homem desesperançado e infeliz ressurgir das cinzas e encontrar um sentido para a sua existência?
Hotel Silêncio (Ör, no original, que significa “cicatriz”) é um romance de superação individual e transcendência repleto de simbolismo, cuja mensagem central que nele podemos encontrar é a de que uma vida escassa em propósitos é uma vida perdida.
Através de uma prosa minimalista e imagética, por vezes escrita em tom poético, a escritora islandesa Audur Ava Ólafsdóttir (n. 1958) capta a atenção do leitor desde as primeiras páginas, fazendo com que percorramos o mesmo caminho e que façamos as mesmas perguntas de índole existencial que o protagonista. Este é um livro que faz o leitor olhar para o espelho e para o seu caminho percorrido; este é, portanto, um livro que vale a pena ler.
Hotel Silêncio foi traduzido para português directamente da língua islandesa por José Vieira de Lima (1951-2019).
Desta autora premiada, encontram-se também publicados em Portugal os romances Rosa Candida (2014) e A Mulher é Uma Ilha (2016).

Excertos
«As feridas fecham-se a diferentes velocidades e as cicatrizes formam-se por camadas, algumas mais profundas do que outras.» (p. 53)

«A minha infelicidade, quando muito, é irrisória, se comparada com as ruínas e a poeira que se veem da minha janela.» (p. 109)

1 comentário:

Ana disse...

O tema é actual, a solidão, a perda do sentido na própria vida e depois o interesse pela outra vida dos outros que nos faz balançar nos nossos dilemas!