quarta-feira, 11 de setembro de 2019

«Lá, Onde o Vento Chora», de Delia Owens

Editora: Porto Editora
Data de publicação: 04-07-2019
N.º de páginas: 392
1952, numa pequena aldeia na costa da Carolina do Norte. Com 6 anos, Catherine Dannielle Clark é «uma criança do pântano, de cabelo embaraçado e faces mascarradas, manchadas pelas lágrimas do vento.» Kya, como é apelidada, é a mais nova de cinco irmãos. A família vive numa cabana muito singela, junto a um pantanal. Neste tugúrio com poucas condições de habitabilidade, tirando alguns momentos de alegria propiciada pelos irmãos quando a figura paterna está ausente a pescar, a violência física e psicológica é constante. Pouco a pouco, cada um dos membros da família abandona o lar, para poderem poupar as suas vidas das temeridades perpetuadas pelo carrasco consanguíneo: o marido e pai. A mãe, os irmãos e depois o próprio pai, todos abandonam a cria mais pequena, deixando-a, aos 10 anos, entregue a si própria, ao seu desígnio.
A Mãe Natureza torna-se, literalmente, a cuidadora desta criança rejeitada e desfeita emocionalmente em pedaços. Com o tempo, ela se aventura mais profundamente na natureza do pântano, longe das pessoas da aldeia (que quando se cruzam com ela a olham de soslaio e rejeitam-na por a acharem um bicho do mato) e, assim, começa a aprender as lições da vida directamente do mundo natural, onde «o mar era tenor e as gaivotas soprano.»
Kya, com o adolescer a brotar, embora sofrendo silenciosamente e sem nenhum ser humano com que partilhar as suas angústias (as gaivotas, as garças e os corvos são os seus únicos ouvintes), se resigna a um modo de vida que acredita ser realmente a sua única forma de sobrevivência: «a solidão tornara-se um apêndice tão natural para Kya como um braço», «sempre que se ia abaixo era a terra que a amparava», «a natureza parecia ser a única pedra firme no caminho.»
Para poder comprar alimentos e abastecer o seu barco, esta miúda do pantanal apanha mexilhões e vende-os a um homem afro-americano velho, com quem desde logo cria uma ligação de amizade e com quem ameniza a sua necessidade urgente de falar com alguém.
Com 14 anos Kya encontra-se analfabeta. Caberá a Tate Walker, um rapaz, que sempre a protegera da malvadez das outras crianças, ensiná-la a ler e escrever. O simples facto de estar perto dele acalma-a. Desde o início dessas aulas que têm lugar numa cabana em ruínas ela começa a respirar sem dor, desde que a mãe se tinha ido embora. Será também este jovem de coração afável o primeiro (des)amor de Kya; anos mais tarde, em 1969, Chase Andrews, outra das suas paixões, é encontrado morto no pântano e todas as suspeitas recaem sobre Kya. Será que esta mulher vai permitir que o mundo exterior volte a roubar a vida que ela criou para si com tanto sacrifício e resiliência?

«Vai tão longe quanto puderes, até onde ouvires o vento chorar»

Lá, Onde o Vento Chora é uma história profundamente bela e comovente, com uma protagonista que teve uma vida pautada por rejeições e que soube buscar na natureza o seu fortalecimento. É uma história de sobrevivência, mas também uma história que aborda os temas da amizade e amor verdadeiros.
Este romance de estreia de Delia Owens, uma zoóloga americana de 70 anos, doutorada em Etologia, está escrito com um ritmo lírico que balança o leitor suavemente, através de uma prosa elegante, por vezes poética (principalmente nas últimas frases que terminam os primeiros capítulos do livro), onde é notório a habilidade e facilidade com que a autora descreve a natureza no seu esplendor, atraindo o leitor para a beleza que Kya vê em seu ambiente: a flora, a fauna, os animais selvagens e marinhos, as árvores, as plantas, etc. Referir que Delia Owens é coautora de três livros de não-ficção sobre a sua experiência como cientista da vida selvagem em África (Cry of the Kalahari, Eye of the Elephant e Secrets Of The Savanna), sucessos de vendas internacionalmente reconhecidos.
O que há de singular na escrita da autora é a forma realista e crível como deu vida a uma personagem inesquecível (que em certos momentos da história leva o leitor a querer abraçá-la e reconfortá-la), que esteve a ser detalhadamente composta ao longo de quase dez anos, o tempo que Delia Owens levou para terminar Where the Crawdads Sing, título original publicado em Agosto de 2018 nos Estados Unidos.
Apontar também que o conteúdo que enche as últimas páginas da história, poderia ter sido melhor executado e interligado com a temática principal. Sendo que toda a história é portentosa e de grande profundidade, o epílogo anteviu-se um pouco previsível.
Por curiosidade: só no Goodreads, esta obra regista (hoje) mais de 350 mil classificações de leitores, que lhe atribuem uma média de pontuação de 4,52 estrelas em 5. A adaptação desta história para o cinema já foi adquirida pela Fox 2000, com a actriz Reese Witherspoon ao leme da produção.

Excertos
«Quando encurralado, desesperado ou isolado, o homem reverte rapidamente a um estado instintivo, no propósito único de sobreviver. Esses instintos serão sempre o seu sofrimento.» (pp. 16-17)

«… à semelhança das suas colecções, também a sua solidão ia aumentando. O seu peito escondia uma dor do tamanho do coração.» (p. 155)

«A vida ensinara-lhe a amarfanhar sentimentos até estes se tornarem armazenáveis.» (p. 161)

«Os rostos mudam com as agruras da vida, mas os olhos continuam a ser uma janela para o passado.» (p. 246)

13 comentários:

Alexandra Guimarães disse...

As várias opiniões (muito positivas) que tenho lido sobre este livro e a sua sinopse, fazem-me crer que também eu iria gostar muito de poder conhecer esta história.

maresvivas disse...

Quero muito ler este livro, tem boas críticas.

Jorge Martins disse...

Parce ser deveras interessante....interessado em ler!

Bárbara Castro disse...

Fiquei curiosa ;)

Carolina Dias disse...

Quero ler este livro!!!

Filipe Leal disse...

Daqueles livros que marcam e que vão diretamente para a lista dos melhores que já lemos.

Carmen Mendes disse...

Parece ser um livro bem interessante, que desperta a curiosidade e a atenção do leitor.. um livro cuja leitura não deve ser deixada de parte.

Ana disse...

Sinopse cativante que nos leva a querer ler estre livro!!

AnaJoão* disse...

Fiquei curiosa com este 😊

Maribel Gomes disse...

Já tinha lido algo sobre este livro mas agora ainda fiquei com mais vontade de o ler. Obrigada pela partilha.

Marta disse...

Tenciono ler este livro pela sua singularidade.

Marisa Pimenta disse...

Gostei de ler a sinopse e fiquei curiosa para ler o livro

RBSoares disse...

Este está na minha lista das próximas aquisições.