quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

«Olá, Farol!», de Sophie Blackall

Editora: Fábula
Data de publicação: Fev. 2020
N.º de páginas: 50
Utilizados desde a Antiguidade, os faróis foram concebidos tendo como objectivo orientar os navegadores durante a noite e para avisá-los que estão a se aproximar da terra.
Para haver sinalização luminosa direccionada ao mar sempre em actividade, os faroleiros usavam candeeiros alimentados por petróleo, seguidamente a gás, e posteriormente e até aos dias de hoje a alimentação da luz óptica no topo dos faróis é alimentada por via eléctrica.
A década da mudança deu-se em 1920, quando a profissão de faroleiro começou a deixar de ser necessária, assim que os faróis começaram pouco a pouco a ganhar automatização (o que não quer dizer que nestes últimos 100 anos os “guardiões dos faróis” já não estejam a exercer funções. Segundo um artigo do DN, em 2016 ainda haviam 25 faroleiros que residiam com as suas famílias em faróis portugueses.)
O mais recente livro infantil da autora e ilustradora Sophie Blackall, conta a história de um farol e do seu último cuidador, nos últimos anos antes da tecnologia chegar a todo o vapor.

No rochedo mais alto de uma minúscula ilha nos confins do mundo, ergue-se um farol. Foi construído para durar para sempre, alumiando o mar com a luz, guiando os navios que passam.
Quando um novo faroleiro chega para substituir o antigo, é-lhe passado o testemunho de nunca deixar que a luz se cesse no imponente farol. Nos primeiros tempos, ele entretém-se a remodelar à sua medida o interior do seu novo abrigo, enquanto vai vigiando e transpondo para o diário do farol todos os acontecimentos que merecem uma nota. Todavia, o faroleiro «anseia por ter alguém com quem conversar»; nem as cartas que escreve e lança dentro de garrafas ao mar, destinadas à mulher, lhe esvazia a solidão.
Em contrapartida, o protagonista da história sente-se privilegiado por presenciar grandes espectáculos da natureza, a partir desse porto de abrigo: cardumes e baleais magistrais, icebergues monumentais, mágicas auroras boreais, etc.
Entretanto a sua mulher chega, juntamente com o navio abastecedor que lá vai de tempos a tempos deixar comida e notícias do mundo. E assim as quatro estações vão passando, enquanto ventos assobiam, ondas esbravejam, tempestades deixam o céu negro e o sol cobre a torre majestosa de luz natural.
Tudo muda quando uma carta inesperada com o selo da Marinha chega…
Olá, Farol! é uma obra que aborda temas como a coragem, lealdade, perseverança e resiliência. Sophie Blackall, autora australiana multipremiada (entre outros prémios, venceu por ilustrações suas, por duas vezes, a Medalha Caldecott), com mais de 30 livros ilustrados no seu currículo (são exemplos A Fine Dessert, A Voyage in the Clouds e Ruby’s Wish), através de uma narrativa singela e cativante, apresenta aos mais novos a transitoriedade do tempo e das coisas. Tudo tem um início e um fim. O tempo é fugaz e faz parte integrante da vida e que temos de lidar com as imprevisibilidades.
As ilustrações a tinta da China e aguarela contidas neste álbum de formato alto e estreito (não por acaso), primam pela minuciosidade das pinceladas e pela expressividade que delas resultam, quando retratam emoções (tristeza, contentamento, nostalgia, etc.) e estados de tempo (nevoeiro, tempestade, chuva, etc.).
Na parte final de Olá, Farol!, vem uma nota da autora, onde esta informa o seu fascínio por faróis e sobre as etapas de feitura deste seu livro (recomendado para todas as bibliotecas), inspirado num farol real. O interesse em conhecer melhor a história dos faróis, é despoletado no leitor após o término da leitura (é o caso desta curiosidade: dos 28 faróis portugueses abertos ao público no nosso país, o farol da Ponta do Pargo, na Madeira, electrificado apenas em 1958, foi o farol mais visitado em 2019).
Não iremos olhar para os faróis de forma igual, após ter passado pelas nossas mãos este livro encantador.

2 comentários:

Miguel Pestana disse...

https://discovermadeira.blogspot.com/2020/03/farol-da-ponta-do-pargo-ilha-da-madeira.html

Ana disse...

A história da vida vivida num farol que nos leva a visitar os nossos faróis! Já fomos a alguns 😉