quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

«Nove Perfeitos Desconhecidos», de Liane Moriarty

Editora: ASA
Data de publicação: 27-08-2019
N.º de páginas: 496
O oitavo romance da australiana Liane Moriarty (n. 1966) permaneceu 13 semanas no top de livros mais vendidos do New York Times depois de chegar às livrarias dos EUA em Novembro de 2018. Mesmo antes de Nove Perfeitos Desconhecidos (Nine Perfect Strangers) ter sido publicado, a produtora de Nicole Kidman já havia adquirido os direitos para adaptar a história para uma série televisiva (com previsão de estreia para o final de 2020), tal como aconteceu em 2017 com outro romance da escritora: Pequenas Grandes Mentiras (Big Little Lies).
Nicole Kidman irá interpretar Masha Dmitrichenko, uma personagem bastante enigmática e intrigante, em torno da qual toda a trama gira.
A Tranquillum House é uma estância termal terapêutica e de bem-estar localizada nos confins da Austrália, que recebe várias vezes por ano grupos de pessoas que lá reservam 10 dias para aliviarem o stresse e desintoxicar a mente, o corpo e o espírito.
Observando-os e orientando-os nesse processo de transformação rigoroso, onde são proibidos aparelhos electrónicos, álcool e açúcares, está a directora do resort, «uma estranha mistura de líder carismática e fanática entusiasmada».
Depois de passar por uma experiência de quase-morte, Masha, que outrora era uma empresária de sucesso que vivia para o trabalho, mudara completamente de estilo de vida, e agora era uma mulher com uma missão bem delineada: proporcionar aos outros conhecimento e crescimento espiritual, revigorando as suas mentes e corpos cansados, através de diversos tratamentos holísticos.
Do novo grupo, constituído por 9 pessoas, fazem parte, por exemplo, uma escritora de meia-idade, divorciada e a passar pelos infortúnios da menopausa (esta é uma personagem com um sentido de humor bem apurado, que proporciona ao leitor vários esboços de sorriso ao longo da história); um jovem casal cujo relacionamento está à beira do colapso; uma quinquagenária a necessitar de elevar a sua auto-estima, devido ao ex-marido a ter trocado por uma mulher muito mais nova; e um casal e filha que enfrentam um luto prolongado.
O que estes novos hóspedes não sabem é que a directora do centro de bem-estar tem em mente desenvolver um novo programa “transformador” «para os moldar e transformar nas pessoas que podiam e deviam ser.»
Este romance apresenta um conjunto de personagens com personalidades muito diferentes e complexas. Liane Moriarty fez um trabalho primoroso de construção de identidades, não só dos personagens principais, como dos secundários. Ao cingir estes eus num único espaço onde são privados de escapes/distracções vindas de fora, a autora faz estes personagens saírem da sua zona de conforto e revelarem realmente quem são, sem máscaras. É interessante o leitor acompanhar como eles vão enfrentando vários desafios.
A trama de Nove Perfeitos Desconhecidos, que está tacitamente dividida em duas partes, tem tudo para proporcionar uma leitura estimulante. É fácil imaginarmos o cenário apresentado pela escritora num tríler psicológico ou num policial ao estilo de Agatha Christie. Liane Moriarty não seguiu nenhum destes caminhos (géneros literários), e talvez por isso o rumo que deu a esta história promissora, com humor sombrio e belíssimos personagens, tenha sido pouco sustentável. O epílogo não desanima, mas não é, definitivamente, o que se espera.
Outro aspecto a referir tem que ver com o título do livro: Nine Perfect Strangers. Não são nove os desconhecidos, visto que dois são um casal e outros três são familiares; este é um daqueles detalhes que qualquer editor não deve deixar passar.

Excerto
«(…) conseguia sempre esconder a raiva, mas nunca a dor»; «(…) crescera com fome de amor, e quando uma pessoa tem fome de algo que devia ter recebido em abundância, nunca consegue confiar completamente naquilo que lhe faltou.»

2 comentários:

S Dias disse...

Já li há algum tempo, é uma leitura agradável, que mostra nos mostra como o ser humano consegue ser o seu pior "juiz" e que pedir ajudar não é sinónimo de inferiodade ou derrota. Recomendo.

kassie disse...

Já li excelentes opiniões e críticas a esta autora, tenho muita curiosidade. Este já está na minha wishlist ☺