terça-feira, 25 de junho de 2024

«O Caso do Funeral Fatal», de Agatha Christie

Editora: ASA
Data de Publicação: Janeiro de 2024
N.º de Páginas: 320

«Mas ele foi assassinado, não foi?». Esta foi a pergunta, em jeito de malícia, que Cora, a irmã mais nova do falecido Richard, lançou para a plateia de familiares na sala de estar de Enderby Hall, uma casa vitoriana londrina, após o funeral do patriarca da família Abernethie. A trama deste romance tem como eixo central esta abertura, que deixa desde logo os leitores em suspense.
Cora, uma mulher de meia-idade «desajeitada», «bastante desequilibrada e demasiado estúpida», sempre foi conhecida como uma espécie de embaraço para a família. Em pequena era conhecida pela forma embaraçosa como deixava escapar verdades indesejadas. Quando casa-se com um pintor sem posses, ela ao dar-se conta que a família não vê essa relacção com bom augúrio, afasta-se do contacto com os irmãos durante mais de vinte anos.
A morte repentina e (supostamente) natural de Richard é o motivo que a faz regressar à casa onde cresceu, após tantos anos. Mortimer, o único descendente de Richard falecera uns meses antes e por isso era muita a curiosidade dos membros da família, que queriam saber se alguma da herança lhes cabia. Juntaram-se, assim, na residência, após o enterro, os irmãos, cunhadas e sobrinhos. Todos estavam à espera que Mr. Entwhistle, o advogado da família, lê-se o testamento. O que ninguém contava era que no dia seguinte, a autora da frase que lançou a celeuma perante todos os presentes, que ponha em dúvida se o irmão tinha falecido de morte natural ou não, ela própria tivesse sido alvo de um homicídio brutal…
Perante as duas mortes sucessivas, o advogado decide contratar um velho amigo belga, conhecido pelo seu brilhante desempenho como detective em casos como o que tinha em mãos. Poirot só “entra em acção” a partir da página 85 deste livro e só a ele e às suas “celulazinhas cinzentas” é que será possível o desvendar do(s) criminoso(s) que na família Abernethie se infiltrou.
Como é apanágio de Agatha Christie, ela só revela os traços psicológicos mais maléficos dos personagens que cometem os crimes nos seus romances policiais, a poucas páginas do desfecho das tramas. After the Funeral, título publicado pela primeira vez em 1953, tendo sido em 1963 adaptado para o cinema (Murder at the Gallop), não foge ao seu modus operandi. É uma trama intricada mas credível, povoada por personagens complexos, que sorrateiramente a autora de A Festa das Bruxas constrói e camufla. Qualquer um personagem poderia ter sido o autor do(s) crime(s). Contudo, copiando um excerto do livro: «os assassinos raramente são inteligentes». É necessário ser-se um bom escritor de policiais para esmiuçar as acções e pensamentos de cada personagem e imbuir a cada um, um motivo (credível) que o leve a cometer um crime; afinal, a complexidade da mente humana é infinita. O Caso do Funeral Fatal flui de página em página, terminando com uma surpreendente revelação. Uma obra que comprova a mestria da Rainha do Crime em confundir o leitor para depois esclarecê-lo.

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