Ana Plácido (1831-1895) fez a sua estreia literária com Luz Coada por Ferros, em 1863, a que se seguiu, em 1872, sob pseudónimo masculino, o romance Herança de Lágrimas. A sua carreira literária regista romances, poemas, críticas literárias, traduções, adaptações e correspondência, sendo os seus textos muitas vezes assinados com nomes masculinos. Publicou contos e poemas em diversos jornais e revistas portuguesas e brasileiras. No plano pessoal, Ana Plácido ficou notabilizada por ter sido mulher do escritor Camilo Castelo Branco (este ano assinala-se o bicentenário do nascimento do escritor), com quem colaborou quer na escrita, quer na revisão da sua vasta obra.
Estas duas obras desta grande escritora do século XIX, que não teve ainda o merecido reconhecimento, encontram-se editadas pela Sibila Publicações.Sinopse
Os contos e textos autobiográficos que compõem este livro, o primeiro publicado por Ana Plácido, em 1863, foram escritos durante os 18 meses de prisão (de Junho de 1860 a Outubro de 1861) a que a autora foi condenada pelo adultério que assumiu ter cometido com Camilo Castelo Branco, que amava desde os 15 anos de idade, e com o qual viria a casar depois da morte do marido, um homem rico ao qual os pais a haviam literalmente vendido aos 19 anos, quando esse homem que a comprou tinha 43 anos.
Histórias de paixão, infelicidade, infidelidade e desilusão, magnificamente imaginadas e escritas, dialogam nesta obra singular com as «meditações» pessoais da autora sobre a injustiça de que foi vítima, exortando lucidamente as mulheres a que não se resignem a ser apenas «boas governantas de casa, e boas mães de família».
Luz Coada por Ferros é a revelação da poderosa voz literária de Ana Plácido, uma antecipação prodigiosa da reflexão sobre a emancipação feminina realizada por Virginia Woolf, no fim da segunda década do século XX, em Um Quarto Que Seja Seu.
Escreve Ana Plácido: «Hoje, quando os meus verdugos me supõem dias terríveis de desesperança e amargura, eu digo à alma que suba, à inteligência que se ilumine, e de pronto uma chama misteriosa me aclara esta difícil ascensão.»Na dedicatória à memória da irmã Maria José, escreveu:
[…] «Grande parte destes escritos nasceram na calamitosa época do cárcere e do escárnio dos meus algozes, nunca saciados das torturas que me infligiram. Dedicar-te-hei, pois, estas páginas, onde por vezes aparece o teu nome como a estrela da manhã, rompendo a custo das sombras pesadas da noite: é um dever sagrado. Foste a minha única amiga neste mundo: não conheci afeição mais verdadeira.» […]Sinopse
Diana de Sepúlveda vive um casamento sólido com um homem mais velho, a quem vê quase como um pai. O avassalador aparecimento na sua vida de Nuno, um jovem poeta, precipitará Diana numa abissal visita ao passado obscuro da sua própria família. A descoberta do segredo da geração que a antecede vai determinar o modo como lidará com a eventualidade de um novo amor.
Sob o pseudónimo masculino de Lopo de Sousa, onze anos depois de ter sido presa por adultério devido à sua ligação com Camilo Castelo Branco, Ana Plácido escreveu este apaixonante romance.
Usando a voz epistolar da protagonista na primeira parte e, na segunda, recorrendo a um narrador na terceira pessoa, sem nunca perder a estrutura do enredo — revelando um grande domínio das técnicas narrativas —, a escritora desenvolve um estudo sobre os temas do casamento forçado, da infidelidade conjugal e das suas consequências à luz da dualidade de valores com que a hipocrisia social da segunda metade do século XIX julgava moralmente os dois sexos. A entrega do corpo da mulher ao marido era vista como um dever, ao passo que a separação era considerada uma infâmia, que prejudicava as mulheres quanto aos seus desejos, aos seus direitos e à disposição dos seus bens, ferindo-lhes a dignidade, cerceando-lhes a liberdade e mesmo a sobrevivência, e impossibilitando-lhes a construção de um futuro sem o homem.
Outra obra publicada pela editora: Balzac — O Romance da Sua Vida, de Stefan Zweig.
sábado, 3 de maio de 2025
As obras publicadas de Ana Plácido
publicado por Miguel Pestana
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