sexta-feira, 18 de outubro de 2019

«O Melhor de Martha Medeiros», de Martha Medeiros

Editora: Planeta Portugal
Data de publicação: 01-10-2019
N.º de páginas: 240
São poucos os que nunca se depararam com textos de Martha Medeiros na internet. Algumas frases desta que é uma das mais reconhecidas cronistas brasileiras costumam tornar-se virais nas redes sociais, dado a enorme subtileza e profundidade com que escreve sobre relações humanas, em especial sobre o amor, um assunto recorrente nas suas crónicas.
Para assinalar os 25 anos de carreira, no passado mês de Maio foi lançado no Brasil uma antologia que compila as suas melhores crónicas. A edição portuguesa da obra, O Melhor de Martha Medeiros, tem o selo da Planeta e chegou às livrarias no primeiro dia de Outubro.
Ao longo deste quarto de século, a autora de Divã (o seu romance mais popular, já adaptado para o cinema) escreveu mais de 2 mil crónicas em jornais como ‘O Globo’ (do Rio de Janeiro) e ‘Zero Hora’ (do Rio Grande do Sul). 100 desses textos foram escolhidos pela própria, tendo como critério os que tiveram mais impacto e celeuma no público; são exemplos ‘A rapariga do carro azul’, ‘O tipo do outro lado da rua’, ‘Levantar voo’, ‘Dois minutos de ontem à noite’, ‘Mulher de um homem só’, ‘A sogra do meu marido’ e o texto que tornou-se viral no mundo inteiro, que se intitula ‘Morre Lentamente’: «Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pontos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeções, sentimentos.» (p. 113)
Estas crónicas, das quais 4 são inéditas, não estão ordenadas por ordem de publicação nem por temática. Revelam uma pessoa sensível, arguta, cirúrgica no modo de apresentar as suas ideias e pensamentos sobre assuntos como o namoro, o casamento, a infidelidade, o sexo, a amizade, a solidão, etc.
Alguns textos de Martha Medeiros coligidos em O Melhor de Martha Medeiros são difíceis de se ler: às vezes são um murro no estômago, de tão verdadeiros e certeiros; são aquelas frases que os nossos companheiros e amigos não se atrevem a dizer-nos. O pensar de Martha rompe com clichés, ideias estereotipadas. Ela disseca sentimentos e emoções, com os quais as pessoas lidam diariamente, com o seu bisturi: a sua escrita criativa, perspícua, imagética e por vezes mordaz.
Salientar que esta compilação foi pensada ser publicada primeiramente em Portugal, como forma de apresentar o trabalho desta consagrada escritora ao público português (apenas um dos seus livros foi publicado em Portugal, em 2006 e encontra-se esgotado). A proximidade do aniversário foi o motivo para que a antologia tivesse sido editada originalmente em terras brasileiras.


Excertos
«De vez em quando é preciso abrir a nossa caixa-negra, vencendo o medo do que podemos encontrar. Que maduro é aquele que mata as vertigens e os espantos.» (p. 11)

«(…) as mesmas coisas que nos revelam também nos escondem (escrever, por exemplo).» (p. 12)
«Qualquer ser humano é um depósito de angústias, carências, traumas e neuras.» (p. 21)

«O amor, em si, não é difícil. O amor é fácil. Difíceis somos nós. Somos um simpático sarilho para quem se atreve a entrar na nossa vida e a ficar connosco por mais de dez dias, prazo suficiente para percebermos que a perfeição não existe.» (p. 21)

«Que lugar melhor para uma criança, para um idoso, para uma mulher apaixonada, para um adolescente com medo, para um doente, para alguém solitário? (…) tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve.» (pp. 45-46)

«Amor é aquele troço sem razão que desarruma a nossa vida. Que melhora a nossa vida. Que piora a nossa vida. Que justifica a nossa vida.» (p. 107)

«O tempo não cura tudo. Aliás, o tempo não cura nada, apenas tira o incurável do centro das atenções.» (p. 121)

«Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama e, ainda assim, doer.» (p. 124)

«Amor não é medicamento. Se está deprimido, histérico ou ansioso de mais, o amor não se aproximará (…). O amor espera que a pessoa esteja feliz para surgir diante dela sem máscaras nem fantasias (…). O amor é o prémio para quem relaxa.» (pp. 135-136)

«De todos os que preenchem a nossa solidão, os livros são os mais anárquicos, os mais estimulantes. Leia, e o seu silêncio ganhará voz.» (p. 159)

1 comentário:

Maribel Gomes disse...

Como adoro ler esta frase diz-me muito e concordo em absoluto com ela: «De todos os que preenchem a nossa solidão, os livros são os mais anárquicos, os mais estimulantes. Leia, e o seu silêncio ganhará voz.»