sábado, 4 de maio de 2013

Um poema do livro de poesia «Inquietude», de Sérgio Fraclim



Livros Mágicos

1.
Dormir sobre livros.
Dormir e sonhar
Com palavras segredadas,
Cantadas ao ouvido.
Dormir sobre livros,
Ter mão dada, passear
Pelos campos sem tempo.

Dormir sobre livros.
Rasgar páginas, palavras contigo.
Sentir a alma da primavera
E dormir, sorrindo, dormir
Tranquilo por te ter na floresta
Dos livros que escrevi em ti.

Que a alegria de viver
Seja partilhada, marcada
Com um marcador de livros,
Com um marcador que marca
O meu livro de poemas.

Dormir, sorrir as estrelas.
Cantar a lua, cantar o teu rosto
Pelos recantos da floresta mágica.
Dormir depois de sentir
Um pensamento terno, um beijo
Um beijo deixado entre livros,
Livros nos quais me deito…

Toca-se-te agora
Como folheio um livro raro.

2.
Teu corpo como livro:
Cheio de palavras,
Por páginas perfeitas
Pausadamente espalhadas…
Lê-lo, perscrutá-lo
Para lá dos capítulos
E dos segredos escritos.

Ter-te na estante de mim
E ler-te nos meus desejos,
Nas minhas insónias.
Ter-te sem medo de o tempo
Transformar o branco do papel
No amarelo da minha saudade.
Ter-te na estante de mim
E dar-te neste pouco que é apenas meu
A brevidade do amor eterno e feliz.

Teu corpo como livro:
Para ter nesta hora incerta
E na cabeceira dos últimos dias.
Teu corpo como livro:
Apertá-lo ao peito
E tranquilo adormecer. 

Sérgio Franclim, in Inquietude, 2013, Saída de Emergência


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