segunda-feira, 12 de junho de 2023

Entre as novidades da Tinta-da-China consta «Ser Psiquiatra», o novo livro de José Gameiro

As Edições Tinta-da-China publicam nas últimas semanas deste mês, entre outros, o novo livro do psiquiatra José Gameiro, um livro que colige alguns contos do brasileiro Carlos Drummond de Andrade, e, com tradução de Rui Tavares, um conto filosófico da autoria de Voltaire.

Este livro fala da actividade profissional de José Gameiro enquanto psiquiatra. Procura descrever como tem sido, ao longo de quarenta anos, trabalhar com pessoas que estão em sofrimento ou querem prevenir o sofrimento que prevêem surgir das circunstâncias da vida.

Ser Psiquiatra fala de voos reais, de voos com as famílias, com os casais, com as pessoas, mas também da história pessoal e familiar do autor e de como ela influenciou e, em algumas situações, condicionou a sua forma de estar na actividade clínica. Fala sobre as diferenças entre encarar a psiquiatria e os seus quadros clínicos como um mero conjunto de sintomas ou colocando a ênfase nas pessoas, com as quais é preciso conversar para, em conjunto, encontrar alternativas que as façam sentir‑se melhor. Finalmente, fala também sobre as aprendizagens nascidas da terapia de casais e famílias e o modo como isso nos leva a olhar o ser humano sempre tentando perceber a forma como se relaciona com os outros.

Outros livros do autor: Talvez para Sempre; Até que Consigas Voar.


«Não há muitos prosadores, entre nós, que tenham consciência do tempo, e saibam transformá‑lo em matéria literária»: o diagnóstico, feito pelo próprio Carlos Drummond de Andrade no seu primeiro livro de prosa, Confissões de Minas (1944), pode ser usado a favor dele.

É evidente nestes Contos Plausíveis que Drummond é um desses raros prosadores que transformam a consciência do tempo em matéria literária. Isso dá‑se com especiais resultados nos breves contos que compõem este volume, editado originalmente em 1981 com textos da coluna que assinou ao longo de anos no Jornal do Brasil. «Como estou bem nesta poltrona de humorista inglês», diria decerto o Carlos poeta ao prosador, iluminando a extraordinária experiência de leitura que aqui nos oferece, numa das versões mais agudamente bem‑humoradas do seu sentimento do mundo (e do imundo). Guimarães Rosa sumarizou em superlativo: «Carlos Drummond de Andrade é, a meu ver, o maior prosador do idioma, e dificilmente será superado.»


«Micromegas é um bom resumo da postura filosófica de Voltaire e talvez um dos manifestos mais claros e desenvoltos do seu pluralismo céptico. No universo de Voltaire existem poucas constantes, e todas elas são existenciais: a estupidez ou a insatisfação, por exemplo. Um ignorante é sempre aquele que julga saber tudo, e um sábio é sempre aquele que aceita ser surpreendido e que compreende que nunca chegará a deter, conhecer ou comunicar quase nada da incomensurável riqueza que nos rodeia. Perante esta radical diversidade e superabundância do real, todos os textos, escritos ou a escrever, são impotentes. É por isso que escrever pouco foi, para Voltaire, uma maneira de dizer mais. É a chave deste paradoxo contido nos próprios jogos de escala do conto: recorde‑se que o seu protagonista não é apenas enorme (megas), mas simultaneamente minúsculo (micro/megas), ou melhor, não é na realidade nem pequeno nem grande – só é uma coisa e outra a partir do ponto de vista de quem olha. Da mesma forma, qualquer tema por mais vasto que seja pode (e deve, como Micromegas lembra ao saturniano quando exige ser instruído) ser contido em pouco discurso, numa espécie de trabalho de miniaturização intelectual. Corajosamente levado até ao fim: no seu final, Micromegas transforma‑ se mesmo num livro sobre tudo.»  — Rui Tavares, in Posfácio

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