terça-feira, 9 de dezembro de 2025

«O Imoralista», de André Gide

Editor: Minotauro
Data de publicação: Março de 2022
N.º de páginas: 162

 

Publicado em 1902 e imediatamente lançado no âmago de uma verdadeira celeuma pública, O Imoralista apresenta-se como um romance de sedutora inquietação moral. Nele se acompanha a jornada interior de Michel, um jovem de vinte e quatro anos, recém-casado, que durante a lua-de-mel no Norte de África é acometido por uma doença severa, quase fatal. A convalescença, porém, transfigura-se numa espécie de renascimento: uma epifania vital que o impele a redescobrir o prazer da existência e a pulsação do desejo, sobretudo quando estabelece uma ligação ambígua e perturbadora com um adolescente árabe. É a partir desse contacto com a própria vulnerabilidade — e com a promessa vertiginosa da liberdade — que Michel começa a interrogar, com crescente audácia, os limites morais e sociais que o moldaram. 
Rico, culto e herdeiro de uma educação rígida, Michel casara com Marceline mais por deferência ao pai agonizante do que por verdadeira inclinação afectiva. Após a doença, movido por gratidão pelos cuidados sacrificiais da esposa, envolve-a num afecto quase devoto. O casal parte então numa longa viagem por França, Itália, Tunísia, Malta e Suíça, como se buscassem, na mobilidade, a vertigem de uma vida nova. Mas, já de regresso a casa, é Marceline quem adoece: «A doença entrara em Marceline, habitava nela doravante, marcava-a, manchava-a. Ela era uma coisa destruída.» A frase, dilacerante, resume a lenta corrosão do vínculo conjugal e a incapacidade de Michel de regressar à antiga vida moralmente ordeira. 
Na belíssima tradução portuguesa de Jorge Melícias, O Imoralista revela-se um feito literário de rara ousadia. Gide investe contra os dogmas da burguesia europeia e denuncia, com lucidez implacável, as forças insidiosas que restringem a liberdade do indivíduo. O romance — impregnado de elementos autobiográficos — foi recebido com surpreendente apreço crítico, apesar da matéria escandalosa da trama, centrada num homem que «não tinha força suficiente para manter uma vida dupla». A obra afirma-se, assim, como um dos pilares da produção do escritor, que, anos mais tarde, fundaria a mítica Éditions Gallimard e receberia o Prémio Nobel de Literatura em 1947. 
Depois de Os Meus Oscar Wilde (2020) e As Caves do Vaticano (2022), veio a lume pelas Edições 70 o ensaio Córidon (2022), um texto fulcral em que André Gide enfrenta, com coragem e clarividência, os preconceitos homofóbicos da sociedade do início do século XX. 

Excerto 
«Aquilo que sentimos em nós de diferente é precisamente aquilo que possuímos de raro, aquilo que confere valor a cada um»

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

«Olhar a Vida de Frente», de Sonia Ricotti

Editor: Verso Editora
Data de publicação 3.ª edição: Abril de 2025
N.º de páginas: 160

 

O segundo e indiscutivelmente mais célebre livro de Sonia Ricotti (n. 1965), uma conceituada e influente palestrante na área da recuperação emocional e da motivação pessoal, regressou recentemente às livrarias numa edição renovada.
Toda a realidade que habitamos nasce, antes de mais, na esfera do pensamento. Eis a pedra angular desta obra, forjada a partir dos desafios e tormentas que a autora enfrentou durante uma das fases mais sombrias da sua existência: «Tudo na minha vida parecia estar arruinado.» O término abrupto de um relacionamento que julgara idílico, dificuldades financeiras avassaladoras e problemas de saúde compunham o cenário adverso que a obrigou a repensar o rumo da própria vida.
Como recuperar o equilíbrio quando a vida nos desfere golpes que parecem irrecuperáveis? Neste livro, a especialista em lei da atração e meditação partilha não apenas as suas próprias lições de resiliência, mas também testemunhos comoventes — narrados na primeira pessoa por amigos que atravessaram provações profundas — e que funcionam como autênticos mapas de superação para o leitor que enfrenta momentos de desânimo ou perda. 
Enquanto oradora motivacional e CEO da Lead Out Loud Inc., empresa de desenvolvimento pessoal pioneira e transformadora, Ricotti apresenta estratégias claras e esclarecedoras para ultrapassar adversidades, atrair abundância e despertar os recursos internos de força que conduzem ao sucesso sustentável — sempre assente na premissa de que os nossos pensamentos moldam o nosso destino. 
Embora Olhar a Vida de Frente não seja, em estrito rigor, um livro sobre a lei da atração, integra alguns dos seus princípios essenciais, incorporando-os de forma natural e funcional. Trata-se de uma obra relativamente breve, mas surpreendentemente envolvente e de leitura fluida. 
Publicado originalmente em 2011, Unsinkable: How to Bounce Back Quickly When Life Knocks You Down apresenta conceitos que poderão ser familiares aos leitores mais experientes no universo do desenvolvimento pessoal. Ainda assim, revela-se um guia inspirador para quem atravessa períodos difíceis e procura encorajamento, clareza e orientação prática; é, portanto, uma leitura particularmente eficaz para quem tem pouca bagagem nesta área e procura um primeiro contacto transformador. 
Da autora estão disponíveis em Portugal, pela Bookout, os títulos Quando o Impensável Acontece (2013), A Lei da Atração (2018) e Alcance a Vida que Merece (2019). 

Excertos
«Confie, pois tudo acontece exatamente da forma que era suposto. Não resista. Renda-se às evidências, deixe o passado para trás e tenha fé no futuro.» 

«Há algo maior do que nós, uma presença que transcende o tempo e o espaço, que nos envolve e nos sustenta mesmo quando não conseguimos ver ou entender. Essa força universal dá sentido a tudo e guia-nos.» 

«A vida é uma viagem e (...) apesar de termos de enfrentar desafios ao longo do caminho (...), temos a capacidade de escolher como lidamos com eles.»

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Livro de John C. Maxwell explica porque falar não basta — é preciso conectar

Todos Comunicam, mas Poucos Se Conectam é a publicação mais recente da Smartbook, uma chancela da editora Nexo Literário. Este livro de John C. Maxwellautor e conferencista norte-americano, actualmente com 78 anos, chegou às livarias no início desta semana. A obra revela o segredo dos melhores comunicadores, sublinhando que falar é muito diferente de conectar.

Sinopse
Apenas uma coisa se impõe entre si e o seu sucesso. Não é experiência. Não é talento. 
John C. Maxwell afirma que, se quer ter sucesso, deve aprender a estabelecer ligações com as pessoas. E apesar de parecer que algumas pessoas já nasceram com esse dom, a realidade é que qualquer pessoa pode aprender a fazer de cada momento de comunicação uma oportunidade para estabelecer uma ligação eficaz.


Todos Comunicam, mas Poucos Se Conectam, John C. Maxwell partilha os Cinco Princípios e as Cinco Práticas adequadas para desenvolver esta aptidão essencial de estabelecer ligações, incluindo:
• Encontrar pontos em comum;
• Simplificar a sua comunicação;
• Captar o interesse das pessoas;
• Inspirar as pessoas;
• Imprimir autenticidade em todas as suas relações.

A capacidade de estabelecer ligações com os outros é um fator determinante para a realização plena do seu potencial. Não é segredo para ninguém! A capacidade de estabelecer ligações pode ser aprendida e aplicada nas suas relações pessoais, profissionais e familiares – pode começar desde já!

O autor
John C. Maxwell – coach, orador e autor de múltiplos bestsellers do New York Times, já vendeu 35 milhões de livros em 50 línguas. Foi considerado o maior líder em negócios pela American Management Association® (AMA) e o perito em liderança mais influente pela Inc. As suas diversas organizações formaram milhões de líderes em todas as nações. 

Livros do autor já publicados pela Smartbook
O Líder em Mudança, As 21 Irrefutáveis Leis da Liderança, A Atitude Faz a Diferença, As 15 leis do crescimento pessoal, Às vezes ganhas, às vezes aprendes e Os 5 Níveis da Liderança.

Recentes reedições
As 5 Linguagens de Amor das Crianças e As 5 Linguagens de Amor dos Adolescentes, do mesmo autor do grande sucesso de vendas mundial 
As 5 Linguagens do Amor

sábado, 29 de novembro de 2025

Um livro crucial para entender o cibercrime


Cláudia Pina é magistrada judicial há vinte e cinco anos, e especialista em cibercrime. José Vegar é jornalista, investigador e escritor. Escreveu, entre outros, os livros O Inimigo Sem Rosto — Fraude e Corrupção em Portugal (2003), Serviços Secretos Portugueses (2007) e O Controlo Contemporâneo e Futuro da Informação (2023). Ambos são autores de Cibercrime, uma obra fundamental para compreender uma das facetas mais populares e em crescimento do crime na actualidade.

Sinopse
Em pleno século XXI, o crime mudou e os criminosos adaptaram-se a uma nova realidade, tornando-se mais astutos, ousados e sentindo-se praticamente imbatíveis. O digital ganhou relevância e protagonismo, tornando muito difícil o rastreio e descoberta de quem se oculta na rede para cometer atos ilícitos.
Cibercrime explora em profundidade as dimensões contemporâneas do cibercrime e da ciberguerra, desde as práticas mais conhecidas pelo leitor comum — ciberbullying, fraude sentimental digital, ciberviolência, abuso sexual de menores em ambiente digital, dark web e metodologias de desinformação e manipulação de informação —, às mais conhecidas pelos magistrados, polícias e profissionais de cibersegurança — criptomoedas, tecnologia blockchain, ransomware, DDO e guerra cibernética.

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Livros que serão publicados em Dezembro pelas editoras Sibila e Balzac

Depois do editar Sodade (actualmente na 2.ª edição), romance de Ana da Cunha que venceu o Prémio Literário Maria Amália Vaz de Carvalho (Câmara Municipal de Loures), a Sibila Publicações publica em Dezembro Duas Amigas, de Rita Homem de Mello, e uma nova edição do livro com que Inês Pedrosa se estreou no romance em 1992 - A Instrução dos Amantes -, obra que encontra-se publicada no Brasil, Espanha e Itália. 
Também a chancela Balzac Publicações publica no próximo mês Agulha em Palheiro, um romance envolvente, datado de 1865, em que Camilo Castelo Branco retrata a sociedade portuguesa do século XIX.


Duas Amigas
é a história de uma amizade improvável e de uma paixão resistente. Nina e Paloma, muito diferentes uma da outra, são amigas de infância que a vida separa e torna a juntar. Crescem juntas, com dificuldades familiares e financeiras. Nina troca uma carreira promissora na fotografia por um casamento que a leva para a Alemanha, enquanto Paloma, emocionalmente presa a uma paixão de adolescência por um estudante que morou em sua casa, num período em que a mãe se viu obrigada a arrendar quartos para sobreviver, se torna crítica literária.

Após o divórcio de Nina e o seu regresso ao Porto com a filha, as duas amigas e a criança partilham casa. Nina decide voltar a perseguir o seu sonho de ser fotógrafa enquanto Paloma reencontra o seu antigo e agreste amor, que reaparece como chefe de redacção da revista para a qual trabalha.

Um romance envolvente que nos fala da persistência dos sonhos para lá das desilusões, da arte como ampliação das possibilidades da vida, e do poder transformador da amizade. A estreia de uma voz luminosa na literatura portuguesa. 


Posfácio de Deolinda M. Adão. Com carta de Al Berto e apresentação de António Mega Ferreira.
O romance de estreia de Inês Pedrosa conta-nos a história de um grupo de jovens amigos, a partir da morte misteriosa de Mariana. A narrativa retrata em profundidade a aventura humana das grandes amizades e dos primeiros amores, com o seu cortejo de ilusões e desilusões.
Neste livro de juventude e sobre a juventude, apresenta-se uma voz forte e original na contemporânea literatura portuguesa, simultaneamente densa, clara, intensa e cheia de humor.

«A morte é a única testemunha da paixão. Tem ciúmes dos corpos e queima-os devagar. Quando os corpos se entregam ao império dos seus lumes é a morte que os ilumina».

Alguns outros livros de Inês Pedrosa publicados pela Sibila: Desamparo, Fazes-me Falta, Nas Tuas Mãos, A Eternidade e o Desejo.



Um
surpreendente romance de Camilo Castelo Branco, que pinta um vívido retrato do conflito entre dois mundos na Europa pós-Revolução Francesa e das lutas liberais. A narrativa desenrola-se nos cenários cosmopolitas de Roma, Florença, Madrid, Londres, Paris e Lisboa, incorporando figuras históricas como o poeta Bocage e o príncipe Jerónimo Bonaparte, que se cruzam com a trama ficcional.
A história de Fernando Gomes, um homem de origem humilde — filho de um sapateiro — que, ao tornar-se ex-combatente liberal condecorado e bacharel em Direito, ascende socialmente e frequenta os requintados salões da nobreza europeia. A sua jornada retrata a mobilidade social emergente, mas também a feroz resistência que essa ascensão provoca.
No salão do príncipe de Monfort, Fernando confronta-se com um duro oponente: o expatriado Bartholo de Briteiros, pai de Paulina e Eugénia, um nobre e rico desembargador miguelista que, durante as Guerras Liberais, mandou para a forca vários dos companheiros de armas de Fernando. O romance transforma-se, assim, num duelo pessoal e ideológico, onde o ódio político e de classe se manifesta numa tensão permanente.

Uma narrativa poderosa em torno dos temas do amor, da honra, da redenção, da vingança, do preconceito de classe e das cicatrizes duradouras da guerra civil, ambientada no turbilhão social e político da primeira metade do século XIX.

Coração, Cabeça e Estômago é um dos muitos livros da bibliografia camiliana.

terça-feira, 25 de novembro de 2025

Romances italianos premiados publicados pela Book Cover

A Book Cover Editora foi fundada em 2017 e actualmente conta com mais de 150 títulos publicados, mantendo sempre o seu objetivo de editar obras de referência e apostar em novos autores portugueses e estrangeiros.

Eis algumas publicações de Literatura Italiana que a Book Cover Editora tem vindo a trazer para os leitores portugueses. São obras galardoadas com os mais prestigiantes prémios literários.

Alma

Texto sinóptico

Três dias dura o regresso de Alma a Trieste. Fugiu da cidade para reconstruir uma vida longe dela, e agora está de volta para receber a imprevista herança do pai. Um homem sem raízes, que detestava o culto do passado e os seus legados, um pai fascinante mas fugidio, que ia e vinha da fronteira sem que fosse possível perceber qual era o seu trabalho na ilha, à sombra do marechal Tito “olhos de víbora”. Em Trieste Alma volta a um mapa de territórios esquecidos. Reencontra a linda casa na avenida dos plátanos, onde passou a sua infância com os avós maternos, distante anos-luz da desordem e do caos da sua, “onde as pessoas entravam e saíam, e parecia que a roupa nunca tinha sido tirada das malas”. Volta à casa no Carso, para onde mudaram repentinamente e na qual chegou Vili, filho de um casal de intelectuais de Belgrado amigos do pai. Vili que, de um dia para o outro, entrou na sua vida cancelando definitivamente a Áustria-Hungria. É pelas suas mãos, “um irmão, um amigo, um antagonista” que Alma tem de receber a herança do pai. No entanto, Vili é a última pessoa que gostaria de voltar a ver.


Elogios da imprensa
“Federica volta a escrever, com um talento mágico que lhe é próprio, sobre personagens carismáticas, silenciosas e inquietas.” La Stampa

"Se quiserem navegar pelas inquietações da fronteira oriental italiana “onde a geografia leva a melhor sobre a história”, então deixem-se levar pela leitura de Alma." La Repubblica

Federica Manzon estreou-se em 2008 com Come si dice addio (Mondadori), ao qual seguiram-se Di fama e di sventura, La nostalgia degli altri e Il bosco del confine. Com Alma ganhou o prémio Campiello 2024. Vive entre Milão e Trieste.


Vita

Texto sinóptico

”As palavras, Diamante mete-as na bagagem – na única mala, a única riqueza que leva da América. Talvez não valham nada, mas não importa. Deixa a Vita tudo o que encontrou, tudo aquilo que perdeu. Deixa-lhe o rapaz que foi e o homem que nunca virá a ser. Até o seu nome. Mas as palavras – aquelas, leva-as consigo.”

Em 1903 Vita e Diamante, com nove e doze anos, desembarcam sozinhos em Nova Iorque. Vindos da miséria do campo do Sul de Itália, são projetados para uma metrópole moderna, caótica e hostil. Vita é rebelde, possessiva e indomável, Diamante silencioso, orgulhoso e temerário. À sua espera estão opressões, violência e traições. Mas também ocasiões para se resgatarem, a descoberta da amizade e, principalmente, do amor, que se revelará mais forte do que a distância, a guerra, os anos. 
Este feliz romance, épico e fabuloso, comovedor e amargo, continua a encantar os leitores do mundo inteiro. Ao dar voz a um conjunto de personagens perdidas na memória, Melania Mazzucco entrança os fios de uma narração familiar e universal ao mesmo tempo. A história de todos os que sonharam – e ainda sonham – uma vida melhor.


Elogios da imprensa
“Uma história cheia de histórias, escrita com a graça vigorosa de um dom misericordioso e feroz”. La Stampa

“Um romance cheio de compaixão, rico em personagens inesquecíveis. Para ler até à última página”. Die Welt


A Arquitetriz

Texto sinóptico

Roma, século XVII, Plautilla Briccia é a filha do pintor e comediógrafo Giovanni Briccio que herda do pai a sua propensão artística, tornando-se numa pintora famosa no meio artístico romano e, mais tarde, na primeira arquiteta italiana. A sua longa vida é narrada neste romance, através de episódios que partem duma cuidada reconstrução histórica, mas revelam um olhar tão irónico quanto lúcido, sobre as contradições morais da grande cidade artística da Europa naquele século. Plautilla terá de negociar habilmente com a família, com a condição social da mulher, com os mecenas papais e com os artistas seus coetâneos, para se inscrever na história do urbanismo iluminado de Roma, ao lado de Bernini e Pietro da Cortona. Sagaz e incansável, Plautilla move-se numa Roma fervilhante que se desvela em todos os seus pormenores humanos e artísticos.

Elogios da imprensa
“Mazzucco atinge aqui o seu auge, seja pela inesgotável riqueza dos pormenores, seja pela coesão apaixonante de todo o livro.” La Repubblica

“A verdade da A Arquitetriz é a força da literatura. É a extraordinária escrita de Melania Mazzucco.” La Stampa

Melania Mazzucco (1966), escritora italiana, publicou o seu primeiro romance em 1996, Il bacio della Medusa. Em 2000, o romance-documentário sobre Annemarie Schwarzenbach, Lei così amata, recebe o Prémio Napoli e o Prémio Bari para a categoria de romance. Em 2003, o romance Vita vence o Prémio Strega e o reconhecimento internacional em Espanha, com o Prémio Santiago de Compostela em 2005, e no Canada, com o Globe and Mail Book of the Year. A Arquitetriz, romance de 2019, vencerá vários prémios, entre eles o Prémio Stresa e o Prémio Manzoni. O romance Un giorno perfetto foi adaptado ao cinema, em 2009. 

Psiquiatra Pedro Afonso explica no seu novo livro por que a imersão online está a adoecer a sociedade

(QUASE) sempre online 

Como a imersão online nos deixou mais sós, ansiosos, 
deprimidos e desligados do mundo real


«Numa altura em que se discute, em vários países, o aumento da idade mínima de acesso às redes sociais para os 16 anos, esta obra fornece diversos elementos científicos sobre o impacto da utilização destas plataformas na aprendizagem, na violência e na saúde mental de adolescentes e jovens, contribuindo de forma significativa para esse importante debate. 
[…] este livro é mais do que um alerta; é um guia lúcido para compreender as dinâmicas do mundo digital em que vivemos. O seu conteúdo não se limita a diagnosticar os problemas, mas também aponta caminhos para se desligar e viver melhor, explorando a responsabilização das plataformas digitais, dos políticos, dos pais e dos educadores, e sugerindo um equilíbrio e uma ética na utilização das novas tecnologias. Espero que a sua leitura possa ser útil para um público alargado, desde pais e educadores a profissionais de saúde, bem como para qualquer pessoa consciente dos desafios da era digital.»

Pedro Afonso é médico psiquiatra. Possui um Mestrado em Ciências do Sono e um Doutoramento em Psiquiatria e Saúde Mental pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Foi professor convidado no Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa, onde coordenou a Pós-Graduação em Psiquiatria e Saúde Mental (2012-2017), e professor auxiliar convidado de Psiquiatria na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (2011-2022). Colabora como professor convidado na AESE – Business School, no programa Executive MBA. 
Fundou e foi editor-chefe da Revista Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (2015-2023). É autor de várias obras de ficção e científicas, entre as quais se destacam Esquizofrenia (2010), O Sono e a Esquizofrenia (2012), Manual de Psiquiatria Clínica (2014), Quando a Mente Adoece (2015) e Dicionário de Psicopatologia (2020).

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Livro de contos «Árvore Anciã» entre as novidades das Edições Letras Lavadas

Árvore Anciã – Contos
, de Ricardo Barros 
Uma árvore, anciã como as nervuras do tempo, cresce no cerne deste livro. Os contos, veios de um tronco enrugado, urdem memórias e identidades entre o que se diz e o que se perde no rumor das raízes. O autor escreve como quem rasga a pele do mundo: a pena arde, febril, entre lirismo e crueza; devassa segredos no lume incerto da memória e varre a fuligem do passado – a nostalgia de infâncias perdidas, ecos da guerra colonial que colidem com a dureza da cidade, rostos de família que persistem na bruma dos dias. 
As palavras ora correm como um rio sereno, ora se partem como um osso exposto entre carne e metáfora – fluxo incandescente, sulco na madeira, cicatriz no tempo. Árvore Anciã não é um livro: é um corpo pulsante, trespassado pelo lume e pela voragem. Quem o lê não o lê – entra nele, perde-se, torna-se a própria travessia.


A Multiplicação dos Milagres
, de João Pedro Porto 
Berto Brizi é a Osga, um editor turinense radicado em Milão que, à falta de bons autores, e confinado a uma vida de hedonismo, hipocondria e muita preguiça, inventa três génios literários. Um dia, batem-lhe à porta os três, encarnados, sanguíneos de paixões e ódios. Que fará Brizi? Denunciar os farsantes será denunciar a sua farsa e, assim, perder os seus confortos. 
A sua caprichada mentira poderá agora ser uma verdade da qual não consegue escapar. Uma viagem por Itália, sem que essa palavra seja uma vez escrita ou lida, desde uma aldeia fantasmagórica piemontesa até ao grande vulcão do sul, enchendo olhos e estômagos com inexpugnáveis iguarias, antigas fábulas de máquinas, figuras e criaturas míticas, esta é uma carta de amor ao país de Dante, e um elogio ao lugar da ficção no mundo. 
Uma história atemporal que denuncia os nossos dias de verdades incertas. Um romance ao estilo de Italo Calvino, com o sentido cénico de Pirandello, mas numa voz distinta, que testará o leitor mais pronto à verdadeira aventura literária.


Quando o desejo sabe a mar
, de Carlos Enes 
Dizes bem: o desejo sabe a mar. Incorpora a imensidão, a frescura, o inesperado, a inconstância e a pitada de sal que tempera o desassossego das nossas almas. Se eu fosse o Criador transformava todos os dias da semana em quintas-feiras. Os dias do nosso amor. Amor apressado, clandestino, amor esplendoroso e louco. Dou a vida para estar contigo, pois cada minuto é um minuto de ouro, como bem afirmas. 
Sinto-me terra por lavrar, aguardando a cada instante o orvalho da madrugada, o arado que me revolve em ondas de prazer infinito. Adoraria que as noites fossem passadas ao teu lado e não aqui por cima de ti. Nem imaginas o que sofro, ao saber que há apenas um soalho a separar-nos. Quando o silêncio é mesmo silêncio, ouço os teus passos e, se apurar bem o ouvido, até agarro a tua respiração. Como poderei dormir nestas condições? 
Não sei que forças invisíveis me impedem de saltar da cama, descer a escada e entrar nos teus lençóis. E depois de saciar a fome, pedir que cantes baixinho, em serenata doce junto do ouvido: Amapola, belíssima Amapola…


Recomeçar – Livros, viagens e histórias de amor
, de Paulo Noval
O silêncio de Paul B. Valley, um escritor de renome, ecoa mais alto do que as suas palavras. No auge da sua carreira, faz uma escolha radical: deixar a escrita para trás e partir numa busca interior que o levará ao encontro do que perdeu. Entre a Ilha Terceira e as grandes metrópoles, entre o passado dos seus pais e o seu presente, Paul desvenda as camadas de uma vida marcada por perdas. É uma viagem de regresso a casa, não apenas à ilha onde nasceu, mas também ao coração da sua própria história. Ao reencontrar o seu amor de juventude, Paul confronta-se com a possibilidade de um novo começo.
Recomeçar é uma celebração da vida, da literatura e do amor que, tal como as ondas do Atlântico, nos leva de volta ao lugar onde tudo pode ser reinventado.

domingo, 23 de novembro de 2025

«Coração, Cabeça e Estômago», de Camilo Castelo Branco

Editora: Guerra & Paz
Data de publicação: Maio 2024
N.º de páginas: 224

Camilo Castelo Branco, um dos escritores mais prolíficos da literatura portuguesa, destacou-se pela sua vasta produção literária. A sua obra caracteriza-se pela profundidade emocional e pelo olhar atento aos dramas humanos. Em 1862, Camilo publicou uma das suas obras mais originais, Coração, Cabeça e Estômago. Cada palavra do título refere-se a uma fase da vida de Silvestre da Silva, narrador e protagonista do romance. 
A primeira parte centra-se na juventude de Silvestre, marcada por emoções intensas, ilusões e desilusões, mostrando como o coração orienta as escolhas e atitudes de um jovem inexperiente. Na segunda parte, guiado pela razão, aproxima-se calculadamente de herdeiras ricas do Porto. Já na última fase, denominada “Estômago”, cansado da vida citadina, ele procura refúgio na terra dos seus antepassados, em busca de uma existência mais tranquila e material. 
A partir desta obra, que segue a 2.ª edição revista de 1864, emerge um retrato notável da mestria de Camilo Castelo Branco, um autor de génio e incansável criatividade. O estilo do livro é característico do escritor, com uma narrativa rica em detalhes, humor mordaz e uma profunda compreensão das fraquezas humanas. Camilo recorre a uma linguagem irónica e, muitas vezes, satírica para criticar a sociedade e a hipocrisia da moralidade burguesa. 
Coração, Cabeça e Estômago
, cuja ação se desenrola em Lisboa, Porto, Carrazedo de Montenegro e Soutelo, retrata um homem dividido entre emoções, razão e necessidades materiais, oferecendo também um retrato humorístico do herói romântico do século XIX. É uma das obras mais originais do autor, proporcionando uma experiência literária profunda. 
Esta edição integra a reconhecida coleção de clássicos da Guerra e Paz Editores, que inclui textos complementares para ajudar o leitor a contextualizar o romance na sua época e na história da literatura. No catálogo da editora, encontram-se outros sete títulos de ficção de Camilo Castelo Branco, como Amor de Perdição, Onde Está a Felicidade? e O Romance dum Homem Rico
Referir que em 2025 assinala-se o bicentenário do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-1890), o que tem motivado novas edições das suas obras, permitindo que um maior número de leitores conheça a obra camiliana.

sábado, 22 de novembro de 2025

LIDEL publica nova obra do psiquiatra Nuno Borja Santos

De Nuno Borja Santos, assistente hospitalar graduado em Psiquiatria e chefe aposentado do internamento
 do serviço de Psiquiatria do Hospital Prof. Doutor Fernando da Fonseca, EPE, e autor dos livros Parafrenias e Os Primeiros Cinquenta Anos da Psiquiatria Portuguesa (1835-1885), editados pela LIDEL, chega agora Psicopatologia e Clínica Psiquiátrica de A a Z.

Este livro pretende descrever, numa perspetiva atual mas também referindo aspetos históricos relevantes, as síndromes, os sinais e os sintomas da Psicopatologia e da Clínica Psiquiátrica, seguindo as orientações do DSM-5-TR e da CID-11.

Os conceitos estão organizados alfabeticamente para uma fácil, rápida e prática
consulta do leitor e descritos com uma escrita simples e didática, permitindo ao leitor uma consulta ecaz, pelo que este livro irá certamente tornar-se numa referência para o seu dia a dia.

Destina-se a médicos internos de Psiquiatria, médicos especialistas de Psiquiatria ou Medicina Geral e Familiar, e aos mais diversos prossionais de saúde que se interessem por esta área do conhecimento.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Nova edição de «Bom Dia, Tristeza», de Françoise Sagan, entre as novidades da Glaciar editora

Bom Dia, Tristeza

Há livros que são para sempre. Bom Dia, Tristeza é um deles. Romance de formação, publicado no inicio dos anos 950 em França por uma menina de 19 anos, tornou-se um dos maiores best seller mundiais. Com várias edições em Portugal, estava, no entanto, há muito tempo sem uma edição brochada para o grande público. Aqui está ela, imperdível.
Tradução assinada por Isabel St. Aubyn.


Françoise Sagan foi uma das mais importantes escritoras francesas do século XX. Escreveu dezenas de livros: cerca de vinte romances, três contos, oito ensaios e autobiografiasBonjour Tristesse foi a sua primeira e mais consagrada obra, adaptada para o cinema em 1957 (filme dirigido por Otto Preminger e com um elenco de actores composto por David Niven, Deborah Kerr e Jean Seberg). Morreu em 2004, aos 69 anos. 


Agora 

Dois jovens, cada um em busca de afirmação no seu campo artístico, partilham expectativas, frustrações e uma relação amorosa, que se vai desvendando perante o leitor. 
Uma história de paixão e desencanto, numa narrativa intimista, que explora a complexidade do comportamento humano e as suas motivações mais profundas.

Vítor Gameiro Pais, é arquiteto de profissão, tendo-se dedicado em exclusivo a essa atividade ao longo de uma carreira de mais de 30 anos. Fazedores de Areia foi o seu primeiro livro de contos. 


O Senhor do Paço de Ninães
(edição de bolso)
No que se prende com a epopeia colonial, sejamos igualmente claros, esta somente adquire relevância temática e perfeita resolução crítica se correlacionada com o trajeto do protagonista e das pessoas que lhe são próximas.
A insistência, para reformular noutros termos, no valor histórico do romance, relegando para segundo plano a sua vertente passional, é inversamente proporcional à compreensão desse valor em todo o seu alcance, visto a sua manifestação cabal apenas fazer sentido em função do conteúdo sentimental da narrativa.
Uma narrativa, convirá acrescentar, como talvez poucas no romanesco camiliano, que se presta à problematização da identidade nacional e, consequentemente, ao questionamento das suas correlatas mitologias culturais.

Conhece aqui a Coleção de Obras de Camilo Castelo Branco publicadas pela editora de Jorge Reis-Sá.


As Sombras do Planeta

O novo livro de poemas de Yvette K. Centeno, reflectindo e celebrando o crepúsculo da existência, com uma serenidade e felicidade avassaladoras.

Na Glaciar publicou Entre Silêncios, DevagarOndas, De Marcel Robelin a Leonor BeltránClarice e Guenia e Arger Arger e Guenia.

Conhece aqui outras quatro recentes publicações
 da editora, da autoria de Pedro Paixão.

domingo, 16 de novembro de 2025

Algumas publicações da Shantarin editora

A Shantarin é uma editora multilíngue de literatura, artes e humanidades, que desde 2022 tem vindo a publicar obras de grandes autores portugueses, como é o caso de Fernando Pessoa. Em seguida, deixo os textos de apresentação de quatros livros desta editora independente, que já publicou livros em oito línguas.

Poesia. Primeira Antologia oferece aos leitores uma edição da primeira antologia da obra poética de Fernando Pessoa, editada por Adolfo Casais Monteiro na década de 1940. A obra inclui uma fina seleção de poemas, enriquecida com textos em prosa do autor, entre os quais a carta que Pessoa escreveu ao próprio Casais Monteiro para explicar a origem dos seus heterónimos. Com prefácio de Guilherme d'Oliveira Martins e um ensaio de Eduardo Lourenço.


O Sábio Árabe reúne uma seleção de textos de Fernando Pessoa, bem como outros documentos provenientes do seu espólio, sobre a civilização arábico-islâmica. 
Pessoa é reconhecido como o mais universal dos escritores em língua portuguesa. A sua característica mais singular, que o torna um fenómeno literário raro e de excecional relevo em todo o mundo, reside no facto de ter escrito grande parte da sua obra, em verso e em prosa, através dos «heterónimos», personalidades fictícias que escreviam e pensavam de forma diferente entre si, como se fossem verdadeiros autores, distintos de Fernando Pessoa ele mesmo. 
Este livro nasce com o objetivo de mostrar o que Fernando Pessoa, poeta-pensador da multiplicidade, escreveu e pensou sobre uma civilização que se baseia na religião da unidade divina: o Islão. 
Dos textos literários e críticos de Pessoa, sobressai a ideia de que «não há profundo movimento português que não seja um movimento árabe» — um movimento com sólidas raízes no legado cultural de filósofos e poetas como al-Muʿtamid, e na tolerância e no pluralismo religioso que caracterizaram o al-Andalus.


Mário de Sá-Carneiro é um poeta fora do seu tempo e, portanto, contemporâneo porque só é contemporâneo quem não coincide com o próprio tempo e não se adapta às suas pretensões. Por isso, plenamente consciente de ser o único a chegar a tempo a uma festa cujo convite, porém, declinou, Sá-Carneiro faz-se ele próprio ofensa e irrisão dos lepidópteros de uma época que é a sua, mas que recusa porque é incapaz de correr à sua velocidade.
Talvez tenhamos de começar por aqui e admitir que não precisamos da vida de Mário de Sá-Carneiro — e muito menos da sua morte — para apreciar os seus versos e reconhecer-lhe a grandeza que, passado mais de um século, continua inalterada e inalcançável. 
Canções de Declínio. Obra Poética (1913-1916), com edição de Giorgio de Marchis e ilustrações de Kleber Sales, reúne todos os poemas da breve idade adulta de Mário de Sá-Carneiro e conta com prefácio de Adriana Calcanhotto.


Camilo Pessanha
, geralmente identificado (e bem) com o simbolismo, pelas imagens que usa e pelos símbolos que propõe na sua leitura metafórica do mundo e das suas sensações, pode, sob outro prisma, ser apartado daquele movimento literário. É que à vista do leitor vai-se revelando uma narrativa alegórica que, ao conceber a existência humana como um processo de despersonalização, acaba por conduzir a sua poesia para o território do modernismo. São, aliás, absolutamente centrais na literatura portuguesa as ligações entre Pessanha e poetas modernistas como Mário de Sá-Carneiro (1890–1916) e Fernando Pessoa (1888–1935), com a poesia de Pessanha a iluminar uma boa parte das obras destes autores. A presente edição da obra poética de Camilo Pessanha, Clepsydra, da responsabilidade de Paulo Franchetti, conta com uma introdução de Helena Carvalhão Buescu e ilustrações de André Carrilho.

sábado, 15 de novembro de 2025

Entre as novidades de Novembro está o romance vencedor do Prémio Femina de há um século

Joana D'Arc, da autoria do romancista francês Joseph Delteil (1894-1978) e Mervyn, do poeta francês Conde de Lautréamont (1846-1870) são os títulos de ficção mais recentes da Sistema Solar, ambos com tradução portuguesa assinada por Aníbal Fernandes.
Relembrar que em Outubro a editora lançou Desejo e o Massagista Negro, de Tennessee Williams.


Se Les Cinq Sens
, de 1924, ainda conseguiu o favor de um relativo entusiasmo, o Joana d’Arc de 1925 (que biografava com excessivos lados profanos uma santa recente, só quatro anos antes canonizada, desde logo distinguido por altas vozes femininas do Prémio Femina) excitou com muito cruéis adjectivos os surrealistas, acompanhados nas suas diatribes pelos que funcionavam intelectualmente num plano oposto, cheio de moral e religiosidade, os que viam nesta Joana literária uma vontade de fazê-la descer, com vulgaridades terrenas, da altura dos seus altares. 

Delteil, numa entrevista a Jacques Molénat, a tudo isto se referiu com perplexidade: No momento da batalha de Joana d’Arc tive contra mim a grande burguesia, Le Temps com o seu crítico Paul Souday, o catolicismo oficial com La Croix a dar-me, pelo seu director Jean Guiraud, todas as cutiladas que podia dar… e ainda um terceiro bandido chamado André Breton, que acusou o livro de ser «uma enorme trampa». Imagine a minha situação. Fiquei entre dois fogos, atacado pela direita e pela esquerda, por cima e por baixo, sem perceber exactamente porquê. Sentia-me num mundo de armadilhas e alçapões. E esta razão talvez tenha sido o que me fez fugir de todos eles. 
Nesta batalha anti-delteil devem também reter-se as observações feitas por Donald Pelayo: «Pouco depois, no meio das hagiografias com gosto a incenso e a água benta, esta Joana não tardou a ser considerada incendiária. À Joana crepuscular, para freiras e madres superioras, Delteil opunha a sua Joana robusta e sensual, feita de carne e acção, uma Joana de um sol do meio-dia.»

Marcado por esta fuga às normas, Ducasse escolhia no Paris dos intelectuais uma lateralidade impenetrável e interdita à curiosidade dos poucos que desejavam ver, em corpo, o homem tão fora dos princípios da literatura e dos costumes. Tem-se no entanto admitido que talvez tenha havido neste apagamento público a excepção que o fez privar de perto com o movimento político da Comuna, embora só haja para isso um argumento débil, o de existir em L’Insurgé, o romance de Jules Vallès, uma personagem dessa agitação popular chamada Ducasse e que se ajusta de forma surpreendente às características pessoais do escritor dos Cantos de Maldoror.
Nos seus Cantos destaca-se pelo desvio à estrutura geral o Sexto, tentativa de pôr o ponto final àqueles hiperbolismos enfáticos com um «romance», chamemos-lhe assim, (hoje vou fabricar um pequeno romance de trinta páginas, é confessado num preâmbulo pelo próprio autor), oito capítulos autónomos, visitados por um Mervyn loiro — como os outros adolescentes com passagens rápidas nos Cantos anteriores — que se entrega indefeso a uma intriga equívoca, perturbada na sua forma literária pelas audácias de estilo, pelas rasteiras da lógica, caras a Lautréamont, e a sugerir-se como paródia sofisticada aos romances de Eugène Sue, de Ponson du Terrail e outros, nessa época a singrarem num auge de popularidade.
Mervyn surge tão singular dentro dos Cantos, que podemos conceder-lhe o direito de libertar-se das amarras que o prendem aos outros cinco textos da saga maldororiana; e assim, isolado e a contar-se com imagens barrocas e ênfases hiperbólicas, ganha também o direito de ser vítima da atracção ambígua e punitiva de um Maldoror atemporal e ubíquo (desdobrado, para a execução da sua sentença, pela cega obediência do louco Aghone) que o destrói e com sublimidade o castiga sem saber, ao que parece, atribuir-lhe mais culpas do que vê-lo a rondar, loiro e adolescente, nas suas imediações. 

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Pela primeira vez em Portugal, a colecção integral de textos curtos de Hemingway

Mais de setenta histórias curtas 
escritas por Ernest Hemingway fazem parte de Contos Completos, compilação que a Livros do Brasil publica pela primeira vez em Portugal. A obra (traduzida a partir de The Complete Short Stories of Ernest Hemingway, 1987, por Alexandre Pinheiro Torres, Fernanda Pinto Rodrigues, José Correia Ribeiro, José Lima e Virgínia Motta)que inclui dezenas de textos até agora inéditos no país, alguns dos quais editados postumamente, oferece uma visão abrangente do trabalho do vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 1954, um testemunho da sua perspicácia sobre a condição humana. 

Cada conto revela profundezas emocionais escondidas sob a superfície de uma prosa aparentemente simples. Cobrindo temas universais tão caros ao vencedor do Prémio Pulitzer 1953, com O Velho e o Mar, como o amor, a perda, a coragem, o desespero e a resiliência, esta antologia, que conta com um prefácio do seus três filhos, resulta numa tapeçaria das mais variadas dimensões da existência, através da qual se evidenciam os cenários da experiência do próprio autor.

A terceira parte do livro contém sete textos inéditos do autor norte-americano (até 1987). Quatro são a transcrição de primeiros capítulos de romances inacabados e três são contos integrais: «Uma Viagem de Comboio», «O Bagageiro», «Pior do Que Estragado no Cruzamento», «Paisagem com Figuras», «Parece Que Tudo Te Faz Lembrar Alguma Coisa», «Boas Notícias do Continente» e «Uma Terra Estranha».

Referir que esta colectânea não está completa, apesar do título. Após o suicídio de Hemingway, em 1961, a editora Scribner (que actualmente publica autores como Stephen King, Annie Proulx, Andrew Solomon, Jennifer Egan e Colm Tóibín), lançou uma antologia intitulada The Nick Adams Stories (1972), que contém muitos contos antigos já reunidos em The First Forty-Nine (1938), bem como algumas obras inéditas. A obra completa de contos de Hemingway está reunida em The Collected Stories (1995), publicada pela Everyman’s Library apenas no Reino Unido. 

Contos Completos, com 912 páginas, já se encontra em pré-venda e chega às livrarias a 13 de Novembro.

Outro título do autor publicado este ano: O Jardim do Paraíso.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Tinta-da-China edita livro de contos sobre chá organizado por Alberto Manguel

partir do dia 27 deste mês, a Tinta-da-China faz chegar às livrarias Contos do Chá, uma colectânea de histórias curtas com organização e introdução da autoria do escritor, tradutor e ensaísta argentino Alberto Manguel. O livro, que contou com o trabalho dos tradudores António Pescada, Elsa T.S. Vieira e João Reis, contém iustrações da Companhia Portugueza do Chá (Sebastian Filgueiras).
Além de Agatha Christie (O Serviço de Chá Arlequim) e Anton Tchékhov (Terça‑feira Gorda), Contos do Chá inclui textos de Hans Christian Andersen, Katherine Mansfield, Carlos Drummond de Andrade, Robert Eustace, Mavis Gallant, Edgar Jepson, Sheridan Le Fanu, Saki (H.H. Munro) e Hjalmar Söderberg.

Excerto da introdução
«Há três bebidas que são, desde tempos imemoriais, imagens ou metáforas comuns de coisas essenciais em quase todas as nossas culturas. A água, um dos quatro elementos primordiais, é a imagem universal do tempo: o rio no qual, segundo Heraclito, nunca podemos entrar duas vezes. O vinho, da cor do mar de Homero e do sangue de Cristo, é uma representação da própria vida. E a terceira bebida especial é o chá, um líquido dourado que combina as qualidades das anteriores com propriedades de gentil regeneração secreta e de uma magia poderosa e inefável.»

De Alberto Manguel, a editora já publicou diversos títulos, como os seguintes: A Biblioteca à Noite (2016), Com Borges (2020), Todos os Homens São Mentirosos (2023) e Maimónides (2024).

Outra novidade de Novembro da Tinta-da-china
Também neste mês será publicado o livro Antologia de contos humorísticos e satíricos russos, com textos de 
50 textos de autores que abarcam um período desde as reformas czaristas do século XIX até às primeiras décadas do poder soviético no século XX. Este novo volume da colecção de literatura de humor, dirigida por Ricardo Araújo Pereira, inclui vários contos inéditos e totalmente desconhecidos do público português.

Outro livro que pode interessar
O Livro do Chá, de Kakuzo Okakura.

Novos lançamentos: «Uma Breve História do Japão» e «Breve História da Roma Antiga»

Um mergulho na vida quotidiana dos japoneses ao longo do tempoe uma viagem fascinante pela civilização que moldou o mundo ocidental, do Reino à República e ao Império. Estes são os pressupostos dos livros Uma Breve História do Japão e Breve História da Roma Antiga, que serão lançados brevemente pela Casa das Letras e Editorial Presença.

O primeiro livro, da autoria do professor de História Asiática na Universidade de Edimburgo, Christopher Harding, com base na mais recente investigação académica, revela a natureza única do Japão - um país que soube filtrar e adaptar influências externas de forma criativa, mantendo valores intrínsecos que lhe permitiram superar desafios e prosperar. É uma leitura envolvente que irá transformar a perceção do leitor deste país extraordinário e resiliente. 

A segunda obra, apresenta a história envolvente do Império Romano — uma civilização que dominou grande parte do mundo durante cinco séculos e deixou um legado duradouro na política, nas leis, na arte e na arquitetura — desde a lendária fundação de Roma até ao seu declínio. O autor canadiano de renome, Ross King, é conhecido pelo seu contributo notável para a História da arte e da arquitetura.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Nova biografia de Egas Moniz, um dos mais célebres médicos portugueses


Em 2010, foi publicada pela Gradiva a primeira biografia de Egas Moniz (1874-1955), da autoria de João Lobo Antunes. Egas Moniz – Uma Biografia teve como base numerosos documentos e do testemunho de colaboradores e familiares desta que uma das mais fascinantes personalidades da Medicina do século XX, que foi neurologista, político, investigador e escritor.


A Glória Efémera – Biografia de Egas Moniz é título de uma nova biografia (chega às livrarias no próximo dia 13) do primeiro português a ser distinguido com o Prémio Nobel, em 1949. A obra, resulta de um vasto trabalho de levantamento documental, que devolve densidade humana e histórica a uma figura tantas vezes reduzida à polémica em torno da leucotomia pré-frontal, o procedimento que lhe valeu o Nobel. Porém, a sua consagração como investigador científico, que culminou na ousada e controversa leucotomia pré-frontal, ofuscou as múltiplas dimensões do homem e da sua vida extraordinária.
Sustentado por uma investigação multidisciplinar, Paulo M. Morais reconstitui o percurso de um homem que viveu intensamente cada papel que desempenhou, de jovem médico a político obstinado. A Glória Efémera percorre toda a vida de Egas Moniz, desde a infância em Avanca, entre as ruínas de uma aristocracia rural em declínio, até aos dias da consagração internacional. Porém, revela ainda um outro Egas Moniz: um homem vulnerável, vaidoso, melancólico, destemido, visionário e dicotómico.
Tendo enfrentado a prisão várias vezes, durante o Estado Novo teve um relacionamento tenso com Salazar, acabando por ser uma das vozes mais audíveis na oposição ao regime.

Paulo M. Morais (n. 1972), licenciado em Comunicação Social, estreou-se no romance com Revolução Paraíso (2013). Desde então escreveu vários livros, dentre os quais Voltemos à Escola (2017) e Não Há Impossíveis (2020), ambos com a chancela da Contraponto.